Ásia

Pela primeira vez em mais de 200 anos, o Nepal tem uma mulher como primeira-ministra

Sushila Karki
Sushila Karki
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Shushila Karki, uma antiga juíza do Supremo Tribunal de Justiça, foi apontada como chefe de Governo interina, substituindo o primeiro-ministro KP Sharma Oli, depois de este ter sido obrigado a demitir-se na sequência dos protestos que assolaram o país

Pela primeira vez em mais de 200 anos, o Nepal tem uma mulher como primeira-ministra

Micael Pereira

Grande repórter

A escolha para primeiro-ministro interino do Nepal – decidida pelo Presidente da República, mas proposta pelos líderes dos protestos que irromperam nos últimos dias neste país asiático – recaiu sobre uma mulher. É a primeira vez que isso acontece desde que o cargo foi criado em 1806 no Nepal. Shushila Karki, uma antiga juíza do Supremo Tribunal de Justiça, atualmente com 73 anos e uma imagem impoluta, foi encarada como uma opção consensual, capaz de apaziguar os ânimos dos últimos dias, depois de a contestação ao primeiro-ministro KP Sharma Oli ter provocado mais de 50 mortos e ter forçado a sua demissão.

Segundo a BBC, Karki tomou posse esta sexta-feira numa cerimónia discreta e é esperada para breve a dissolução do Parlamento, para que um Governo provisório possa preparar novas eleições dentro de seis meses.

A antiga juíza tornou-se uma figura popular e respeitada pelo modo firme como decidiu sentenças duras contra ministros e altas patentes da polícia em processos-crime de corrupção. Quando se reformou, Karki passou a ser uma voz pública contra os abusos de poder.

Os protestos violentos no Nepal começaram na segunda-feira, com dezenas de milhares de jovens a manifestarem-se na rua, em reação a uma decisão do Governo de restringir o uso das redes sociais. Para controlar os manifestantes, a polícia usou munições reais e 21 pessoas foram mortas em poucas horas, levando a uma escalada no tom das manifestações no dia seguinte. Vários edifícios públicos, incluindo o Parlamento e as residências oficiais do primeiro-ministro e do Presidente, foram incendiados. Ao todo, nos dois dias, morreram mais de 50 civis.

Segundo o jornal The Guardian, na terça-feira, depois de ter sido evacuado pelas forças armadas, o primeiro-ministro viu-se obrigado a apresentar a demissão. Sharma Oli cumpria o seu quarto mandato à frente do Governo e, de acordo com aquele diário britânico, tornara-se muito impopular, com uma imagem autoritária e fama de corrupto.

Os líderes do movimento de manifestantes, a maioria deles da Geração Z, abaixo dos 30 anos, acabaram por ser convidados pelo Presidente a participarem na escolha do primeiro-ministro interino e foram eles, ainda segundo o Guardian, que propuseram o nome de Karki. A antiga juíza tinha condenado publicamente na quarta-feira o uso de balas reais pelas autoridades, não hesitando em classificar a atuação como um “massacre”.

Um dos rostos dos protestos, Dheeraj Joshi, de 25 anos, citado por aquele jornal, disse acreditar que Karki é a pessoa certa para que o país transite “de uma fase de destruição para uma fase de construção”. Para este jovem, “com o tempo, a corrupção profundamente enraizada será erradicada. Quando esse processo começar, isso abrirá caminho para um futuro melhor”, afirmou.

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