As eleições presidenciais de Taiwan, que se realizam em 13 de janeiro, vão ser disputadas por três candidatos, entre os quais o favorito é William Lai, atual vice-presidente e visto pela China como um separatista. Mas Pequim tem outras ideias para o país, e intensificou os seus esforços para favorecer a oposição, encabeçada por Hou Yu-ih.
O vencedor do escrutínio, que Pequim enquadrou como uma escolha entre guerra e paz, vai suceder no cargo a Tsai Ing-wen, que está constitucionalmente impedida de exercer um terceiro mandato.
William Lai é o candidato do Partido Democrático Progressista (DPP), atualmente no poder e tradicionalmente pró - independência. Já Hou Yu-ih vai concorrer pelo principal partido da oposição, o Kuomintang (KMT).
Por sua vez, o antigo presidente da câmara de Taipé, Ko Wen-je, vai concorrer pelo Partido do Povo de Taiwan (TPP).
Os dois partidos da oposição acabaram por falhar nas negociações para a apresentação de um candidato comum. O KMT e o TPP, que pretendem estreitar os laços com a China, acabaram por apresentar os seus próprios candidatos, o que constituiu uma vitória para Lai.
Lai lidera nas sondagens, com uma taxa de apoio de 37,3%, seguido de Hou, com 33,4%, e Ko, com 17,7%.
Estas sondagens não agradam à China, que está a intensificar os seus esforços para favorecer o Kuomintang. Os esforços de Pequim incluem campanhas de desinformação coordenadas nas redes sociais, pressão militar ou incentivos económicos.
Um relatório do Global Engagement Center (GEC), do Departamento de Estado dos Estados Unidos, delineou as táticas multifacetadas de Pequim, que, para além da tradicional manipulação dos órgãos de comunicação, incluem a criação de personagens e narrativas ‘online’, fabricadas com o objetivo de influenciar a opinião pública, ou a oferta de benefícios, como viagens gratuitas à China, a quem estiver disposto a propagar opiniões pró – Pequim.
A tomada de posse do vencedor decorre em maio.
Quem são os candidatos?
William Lai começou a sua carreira política como deputado e depois presidente da Câmara de Tainan, no sul do país, antes de se tornar o primeiro-ministro de Tsai, entre 2017 e 2019. Há quatro anos, desafiou Tsai, sem sucesso, nas primárias presidenciais, antes de assumir o cargo de vice-presidente. A China acusou Lai de ser um "separatista", um termo do Partido Comunista Chinês para aqueles que não apoiam a noção de que Taiwan pertence à China.
Na campanha eleitoral, Lai prometeu repetidamente seguir Tsai nas questões relacionadas com a China e fazer o seu melhor para manter o status quo do território -- uma independência de facto mas não formal.
"Gostaria de reiterar que Taiwan já é uma nação independente e soberana e, portanto, não temos necessidade de declarar a independência de Taiwan", disse Lai, no início deste ano, quando assumiu a liderança do DPP. No passado, ele identificou-se como um "trabalhador pragmático pela independência de Taiwan".
Uma vitória de Lai desafiaria a história: o DPP está no poder há quase oito anos e um terceiro mandato não teria precedentes desde que foram introduzidas eleições presidenciais democráticas na ilha, em 1996.
Além do mais, a sua vitória pode significar turbulência. Pequm já avisou, pelas palavras de Chen Binhua, porta-voz do Gabinete dos Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado chinês: “A busca pela 'independência de Taiwan' implica guerra”.
Hou Yu-ih, presidente da Câmara da cidade de Nova Taipé, foi agente da polícia e subiu na hierarquia até se tornar diretor-geral da Agência Nacional da Polícia. Ele tornou-se presidente da câmara em 2018 e foi reeleito no final do ano passado com uma vitória esmagadora.
Nascido em 1957 na vila de Chiayi, no sudoeste de Taiwan, Hou passou a infância a ajudar na banca de carne de porco da sua família num mercado local. Ele tem um doutoramento em Prevenção do Crime e Correções pela Universidade Central da Polícia.
Até à sua candidatura presidencial, Hou manteve-se afastado da direção do partido e evitou pronunciar-se sobre questões relacionadas com a China.
Desde então, expressou apoio a uma versão do "consenso de 1992" que está em conformidade com a Constituição da República da China, referindo-se à política de longa data do KMT de que Taiwan faz parte da China, mas discordando de Pequim sobre o que significa essa "China". O partido insiste que não é pró-Pequim, mas apenas a favor de laços mais estreitos.
Ko Wen-je fundou o TPP em 2019, com o objetivo de atrair os eleitores insatisfeitos com o governo do DPP e não dispostos a apoiar o KMT. Nascido na cidade de Hsinchu, no norte de Taiwan, em 1959, Ko foi cirurgião durante três décadas. Apoiou anteriormente a candidatura de Tsai à presidência.
Nos últimos anos, Ko afastou-se da sua política inicial de apoio ao DPP e declarou-se como "terceira força", acusando o partido no poder de ser demasiado "pró-guerra".
Ko defendeu uma maior colaboração económica com o continente chinês, alegando que os dois lados têm muito em comum em termos de cultura, religião e história.
No entanto, a nível político, ele considerou que a noção de 'Uma só China' é atualmente impossível, referindo-se à posição de Pequim de que Taiwan é uma província chinesa.