É o próprio Javier Milei que se declara “anarcocapitalista” e “liberal-libertário” e, desde que foi eleito Presidente da Argentina, em novembro, tem seguido o caminho que preconizou, podendo já reclamar vitórias. Ao longo de anos, o banco central emitia dívida para financiar o défice orçamental, potenciando a inflação. Depois de, no seu discurso de tomada de posse, ter avisado o país de que “não havia dinheiro”, Javier Milei cortou nas despesas e desvalorizou o peso em mais de 50%, o que inicialmente fez subir a inflação, mas logo depois originou excedentes fiscais que se mantêm há cinco meses. A inflação também começa a dar sinais positivos, com a descida homóloga para 4,2%, o nível mais baixo desde janeiro de 2022.
“Milei define-se como um libertário, e os libertários acreditam nos mercados livres, na intervenção governamental muito lenta na economia, nas poucas despesas públicas, mas até agora ele tem sido muito pragmático”, diz ao Expresso Daniel Artana, economista argentino que leciona na Universidade da Califórnia. “Milei aumentou impostos, embora a maior parte do ajuste tenha sido feito através da redução das despesas. Impõe restrições no mercado cambial, porque pensa que, caso contrário, pode criar algum risco de desvalorização e mais inflação no futuro. Portanto, neste sentido, tem sido muito pragmático.”
O pragmatismo, contudo, não apaga a realidade de um país dividido. Na semana passada, uma multidão resolveu protestar contra a recém-aprovada Lei de Bases da Argentina, em frente ao Congresso, em Buenos Aires. O pacote fiscal proposto por Milei visa reduzir as despesas públicas e aumentar as privatizações, o que suscita dúvidas à esquerda, e críticas de que as políticas adotadas só beneficiarão os mais ricos. “Esta lei vai perdoar impostos às grandes empresas e aos ricos, mas aumentar o imposto sobre o rendimento dos trabalhadores com rendimentos mais baixos”, argumentou Nahuel Orellana, líder do Movimento Operário Socialista.
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