América Latina

Presidente da Bolívia nega estar por trás de tentativa de golpe de Estado

Presidente da Bolívia nega estar por trás de tentativa de golpe de Estado
Gaston Brito Miserocchi

A nação de 12 milhões de habitantes assistiu, em choque e com perplexidade, à aparente sublevação dos militares, que tomaram o controlo da praça principal da capital com veículos blindados, tentaram arrombar com um tanque um dos portões do palácio presidencial e lançaram gás lacrimogéneo sobre manifestantes

O Presidente da Bolívia, Luis Arce, negou estar por trás da alegada tentativa de golpe de Estado de quarta-feira, rejeitando acusações de que tinha pedido uma intervenção militar para aumentar a sua popularidade.

"Não sou um político que vai ganhar popularidade através do sangue do povo", disse Arce na quinta-feira, na primeira aparição perante a imprensa desde o aparente golpe falhado.

O governante acrescentou que 14 pessoas foram feridas pelos golpistas e que algumas tiveram de ser operadas. "Vimos as pessoas a mobilizarem-se sem armas e foram baleadas", disse Arce.



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Horas antes, o Governo da Bolívia tinha anunciado a detenção de 17 pessoas por alegado envolvimento na tentativa de golpe de Estado que abalou na quarta-feira o país sul-americano a braços com uma grave crise económica.

O general do Exército que terá liderado a tentativa, Juan José Zúñiga, e um alegado co-conspirador, o ex-vice-almirante da Marinha Juan Arnez Salvador, foram detidos.

O ministro do Interior boliviano, Eduardo del Castillo, não forneceu pormenores sobre as outras 15 pessoas detidas, apenas indicando que uma delas é um civil identificado como Aníbal Aguilar Gómez, a quem se referiu como o cérebro do golpe frustrado.

Luis Arce afirmou que não estavam só envolvidos militares no plano, mas também pessoas da sociedade civil e outras já retiradas do serviço militar, sem revelar mais detalhes. Zúñiga será investigado e "enfrentará a justiça", acrescentou.

O Presidente disse acreditar que a tentativa de golpe de Estado se deveu a ter demitido Zúñiga, na terça-feira, por ter "violado a constituição política do Estado" com declarações numa entrevista que não estava autorizado a conceder.

"Zuñiga andou pelos meios de comunicação social sem qualquer ordem e fez declarações infelizes", destacou Arce, repetindo que foi esse o motivo da demissão.

Nessa entrevista, Zuñiga ameaçou deter o ex-Presidente da Bolívia Evo Morales (2006-2019) caso tentasse voltar a candidatar-se à presidência por estar desqualificado, de acordo com o militar.

Ao ser detido na quarta-feira, Zuñiga acusou Arce de ter ordenado a operação militar.

"No domingo, na escola La Salle, encontrei-me com o Presidente [Luis Arce] e o Presidente disse-me que a situação está muito complicada, que esta semana seria crítica e que 'algo é necessário para aumentar a minha popularidade'", disse Zuñiga ao ser detido.

O comandante disse que perguntou ao Presidente da Bolívia se deveria "tirar os veículos blindados" dos quartéis e que Arce respondeu: "Tire-os".

A nação de 12 milhões de habitantes assistiu, em choque e com perplexidade, à aparente sublevação dos militares, que tomaram o controlo da praça principal da capital com veículos blindados, tentaram arrombar com um tanque um dos portões do palácio presidencial e lançaram gás lacrimogéneo sobre manifestantes.

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