O antigo ministro da Defesa (2002-2005) e dos Negócios Estrangeiros (2011-2015) Paulo Portas defendeu esta quinta-feira que Portugal continuará a ter boas relações com os Estados Unidos da América, apesar da turbulência da administração Trump no campo diplomático. Na Conferência Internacional das Lajes — Açores: do Oceano ao Espaço, que decorre até sexta-feira, na Praia da Vitória, na ilha Terceira, o antigo vice primeiro-ministro salientou a característica destes laços que decorrem das “relações que têm qualidade”. São relações entre interesses, e não entre pessoas, garantiu. “As pessoas passam (…) Mesmo que tudo à nossa volta esteja a mudar, quando tudo muda à nossa volta, há duas coisas que não mudam: não muda a história e não muda a geografia.”
Na sua intervenção na conferência organizada pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, Portas apelou ao reforço de capacidades pelas quais Portugal se destaca: a facilidade de chegar a África e dali estabelecer um diálogo com os EUA. “É isso que nos dá mais soft power”, transmitiu Paulo Portas, ao mesmo tempo que lembrava que Lisboa não é apenas o seu PIB ou a sua dívida. “Portugal é a primeira terra “friendly” que os Estados Unidos podem encontrar”, considerou também, assumindo, no entanto, que “há muita ansiedade, há muita preocupação", e que "é compreensível”.
Paulo Portas afirmou que Portugal tem a capacidade de “aumentar a sua influência” junto dos EUA, sustentando que ambos estão “ligados pela própria geografia”. O mar “é o elo e o nosso conselho estratégico”, referiu o antigo líder do CDS-PP. Para expor os seus argumentos, recuperou a história da Base das Lajes.
Apesar da alegada ambiguidade do Governo português aquando da Segunda Guerra Mundial — “o anterior regime não tinha interesse na vitória de nenhum dos lados” —, Portas disse estar “convencido” de que Portugal foi membro fundador da NATO devido ao “privilégio das Lajes”, que reduziu o isolamento português. “Outros países com regimes autoritários não foram confirmados”, sustentou.
“Não defendendo uma dicotomia antagónica entre mar e continente, entre atlantismo e europeísmo, pelo contrário. Vejo uma capacidade de aumentar a nossa influência nos fóruns e organizações em que participamos.” Com estas considerações, o antigo governante e deputado do CDS alertou para novas oportunidades: “Os Açores não se esgotam nas Lajes do ponto vista da valorização da sua posição estratégica. Acho que o que vem aí em matéria espacial é muito interessante porque é um projeto que interessa à Europa e não é um irritante na relação com os Estados Unidos.”
Na mesma conferência, Nuno Morais Sarmento, presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), admitiu que “vamos viver um tempo novo com um equilíbrio diferente”, mas que, nos Açores, “há muito mais do que uma base militar cedida pelos EUA, há uma história de partilha”, sendo necessário “projetar o futuro com confiança, apesar da instabilidade do mundo”. O mais alto representante da FLAD categorizou, assim, o mar e a Zona Económica Exclusiva dos Açores como “a fronteira comum”, que leva a defender a aposta nos oceanos para “o diálogo que queremos manter com os Estados Unidos da América”.
José Manuel Bolieiro, presidente do Governo Regional dos Açores, também apelou à valorização do “posicionamento geoestratégico” do arquipélago e assegurou que “há espaço para o aprofundamento da relação entre Portugal e os Estados Unidos”. Bolieiro estabeleceu como uma grande prioridade trabalhar com as comunidades emigradas e referiu que “a cultura política que a Europa e a América do Norte partilham confere responsabilidade”, sendo necessário “aprofundá-la a todo o tempo”.
Apesar da significativa emigração de portugueses, muitos deles açorianos, para os EUA, o líder do Governo Regional lembrou que a procura turística dos cidadãos dos EUA aumenta a cada ano: “Há cada vez mais América nos Açores e em Portugal. Não há só Portugal na América.”
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