“O que as pessoas veem na televisão são imagens de grande sofrimento, e todos se perguntam para que servem as Nações Unidas.” Miguel de Serpa Soares admite-o, mas afasta visões mais negativas: “A morte do direito internacional já foi anunciada várias vezes.”
O antigo responsável máximo dos assuntos jurídicos da ONU, que acompanhou António Guterres e o sul-coreano Ban Ki-moon durante anos em que se acumulavam crises internacionais, foi recentemente agraciado pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, com a Legião de Honra, uma das mais prestigiadas condecorações francesas. A distinção foi apenas pretexto para uma conversa sobre os bloqueios no Conselho de Segurança das Nações Unidas, a retirada de financiamento dos Estados Unidos à organização, a catástrofe humanitária em Gaza, a guerra na Ucrânia e uma ordem internacional em mudança profunda, com o Presidente americano como grande protagonista.
“A primeira administração Trump não foi particularmente complicada, havia muita retórica para consumo interno americano”, considera o jurista, cuj percurso atravessa Lisboa, Bruxelas, Nova Iorque e Paris. “Mas a diplomacia transacional deixou a ONU mais frágil e "não resolveu nada na Ucrânia.” Serpa Soares foi diretor-geral dos Assuntos Jurídicos no Ministério dos Negócios Estrangeiros (2008-13), representando o Governo português em instâncias internacionais como a Assembleia-Geral da ONU e o Conselho da Europa, além de ter estado uma década em Bruxelas como conselheiro jurídico da Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia.
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