Quase duas décadas de serviço foram passadas em revista pela antiga chanceler da Alemanha, Angela Merkel, no momento em que recebia a distinção Honoris Causa, na Universidade Católica Portuguesa: a crise financeira e do euro, que se abateu sobre a Europa em 2010; outra crise, a migratória, que se deu em 2015, quando refugiados sírios precisavam de asilo e a União Europeia era a promessa de uma nova vida em segurança; a invasão da Crimeia pela Rússia, em 2014; e a pandemia (deu-se também o ‘Brexit’ e a Presidência sui generis de Donald Trump nos Estados Unidos).
No seu discurso de 18 minutos, a antiga governante alemã quis mostrar que — como a reitora da universidade, Isabel Capeloa Gil, exprimiu — é quando o tempo passa, e no tempo que passa, que os traços fundamentais da experiência se manifestam. Hoje Merkel continua a ter lições para distribuir, nomeadamente sobre a convicção em política, quando as tentações imediatas fazem os líderes desviarem-se da rota.
Lembrando em particular o fluxo de refugiados que chegava à Europa, em 2015, proveniente da Síria, a mulher que comandou a Alemanha entre 2005 e 2021 colocou a questão e logo respondeu: “Como reagir? Era importante não falar do fluxo de refugiados, mas simplesmente ver as pessoas. Essas pessoas tinham o direito de ser observadas, independentemente de terem o direito de ficar ou não. Temos de manter uma atitude amigável, mesmo quando se tem de enfrentar uma verdade difícil. Mas ver sempre a pessoa individualmente.”
Merkel abriu as fronteiras a mais de um milhão de refugiados sírios, repetindo a sua máxima “Wir schaffen das” (Nós conseguimos). O tema tornou-se altamente mediático e controverso na Alemanha, logo no início, tornando a governante tão elogiada quanto criticada. Estavam fundadas as bases para a polarização, que hoje a antiga líder da União Democrata-Cristã (CDU) vê nas sociedades.
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