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Toda honra e toda glória, na Terra e no Céu

Toda honra e toda glória, na Terra e no Céu
MASSIMO PERCOSSI

Já se ouve o Pai-Nosso em latim e a preparação da missa solene das cerimónias fúnebres do Papa Francisco com a recitação das orações do Rosário. Francisco morto aproxima-se dos líderes políticos, dos reis e do seu povo

Francisco ainda não assumiu a posição central da cerimónia, a textura do ar é fina. Tudo parece estar em suspenso, à espera que o mecanismo protocolar coloque as peças a mexer. Entre o branco da vestimenta dos cantores, ao negro das roupas dos convidados, destaca-se a púrpura dos príncipes da Igreja. De cada vez que um cardeal assoma às escadas centrais, as câmaras dos repórteres de imagem, seguem-no. Afinal, poderá ser ele o sucessor eleito.

As normas da cerimónia são rígidas, foram fixadas pela Secretaria de Estado da Santa Sé há muito tempo e foram divulgadas com a devida antecedência. O que está previsto é que Georgia Meloni, primeiro-ministro da Itália, ocupe o seu lugar na primeira fila da assistência. Donald Trump, imã de todas as atenções, na segunda. E, em meio às 130 delegações, à lista enorme de chefes de Estado e de governo e aos monarcas, a tensão remete para a presença de Volodymyr Zelensky. E se a paz na Ucrânia estiver a ser negociada enquanto os líderes dos Estados Unidos e do país agredido estiverem na missa em honra do Papa? Neste rendilhado de emoções e atitudes formais, em que a religião parece se submeter à realpolitik, as surpresas e situações constrangedoras podem acontecer até ao último minuto.

A delegação oficial norte-americana também inclui o ex-inquilino da Casa Branca, Joe Biden, antecipando mais um momento de incómodo, quando este se encontrar com o atual. Sem falar curiosidade de o protocolo dar prioridade aos presidentes da Itália e da Argentina, quando Javier Milei nunca foi um admirador de Francisco. A seguir sentar-se-ão os soberanos católicos reinantes e o Grão-Mestre da Ordem de Malta. Seguem-se os monarcas reinantes não católicos. E depois vêm os chefes de Estado, dispostos por ordem alfabética, em língua francesa.

Tanto na chegada quanto no momento em que o cardeal decano Giovanni Battista Re, que preside a liturgia, convidar os presentes a trocar um gesto de paz durante a missa, o mundo vai procurar por Trump e Zelensky, que não se voltaram a encontrar presencialmente desde a desagradável e humilhante reunião na Salão Oval, em Washington. Pouco atrás deverá estar sentada a ministra da Cultura russa, Olga Lyubimova, que chefia a delegação enviada por Vladimir Putin. Na segunda fila estarão também o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, o presidente português Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente polaco Andrzej Duda e o presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva. Ao lado, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

No final da celebração eucarística têm lugar os ritos da Última Commendatio e da Valedictio, as despedidas solenes que marcam o encerramento das cerimónias fúnebres. A seguir, a urna do Papa morto regressa ao interior da Basílica de São Pedro, onde a cerimónia será encerrada. Seguir-se-á então um novo momento, com o cortejo que acompanhará o transporte do corpo de Francisco até à Basílica de Santa Maria Maior. É um trajeto de pouco mais de três quilómetros pelas ruas de Roma, com máxima segurança, que será percorrido com ritmo da marcha. Mais um momento com a assinatura exclusiva deste pontífice.

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