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Pela primeira vez, um juiz diz que Trump violou uma ordem judicial ao persistir no bloqueio de milhares de milhões de subsídios federais

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
JIM LO SCALZO / EPA

Conflito entre Casa Branca e poder judicial a propósito de ordens executivas de Donald Trump que são ilegais ou inconstitucionais é visto como cada vez mais provável

Pela primeira vez, um juiz diz que Trump violou uma ordem judicial ao persistir no bloqueio de milhares de milhões de subsídios federais

Micael Pereira

Grande repórter

Três semanas depois de tomar posse, Donald Trump recebeu esta segunda-feira um primeiro aviso de um juiz federal de que está a desobedecer a uma ordem judicial, num sinal de que as coisas poderão rapidamente aquecer entre a nova administração americana e os tribunais. 

Segundo o 'New York Times', o juiz John J. McConnell, tinha emitido um despacho a 29 de janeiro que contrariava a decisão de Trump em cancelar o pagamento de milhares de milhões de subsídios, destinados a áreas tão diversas como a educação, as alterações climáticas ou a saúde. 

A ordem judicial deveria ter desbloqueado o pagamento dessas verbas federais, depois de terem sido congeladas por uma ação executiva da Casa Branca, para poderem ser submetidas a uma análise que determine se estão em linha ou não com as prioridades estabelecidas pela equipa do presidente. 

Assim que ficou claro que a administração Trump não iria desbloquear esses subsídios, um conjunto de 22 procuradores apresentou na sexta-feira um recurso junto de McConnell, que agora se pronunciou formalmente, reafirmando a decisão anterior. 

“Estas suspensões no financiamento [desses programas públicos] violam o texto da [providência cautelar]”, escreveu o juiz, citado pela Associated Press (AP). “O amplo congelamento categórico e abrangente dos fundos federais é, como o tribunal concluiu, provavelmente inconstitucional e causou e continua a causar danos irreparáveis a uma parte significativa do país.”

Embora não tenha invocado quaisquer penalizações pela desobediência evidenciada pela equipa de Trump, o juiz deu razão aos procuradores e sublinhou que a sua ordem tinha sido “clara e inequívoca” e que não há qualquer razão para ela não ser cumprida. 

Segundo a AP, a Casa Branca ainda não reagiu a esta nova posição do tribunal. Mas o Departamento de Justiça — o equivalente ao Ministério a Justiça — já tinha argumentado que a ordem judicial só se aplicava a uma ação executiva que foi, entretanto, cancelada e substituída por outros memorandos. 

O plano do governo de Trump é cortar o financiamento das políticas antes decididas por Joe Biden e redirecioná-lo o mais depressa possível para as prioridades anunciadas durante a campanha eleitoral, incluindo o aumento da produção de combustíveis fósseis. 

Este episódio é já encarado como o início de uma escalada na relação entre a Casa Branca e o poder judicial e acontece um dia depois de, no domingo, o vice-presidente JD Vance ter escrito que os tribunais não podem limitar o raio de ação do governo: “Os juízes não podem controlar o poder legítimo do executivo”.

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