Internacional

Moçambique: candidato presidencial acusa “forças de defesa e segurança” pelo duplo homicídio e apela a “greve geral”

Ação de campanha de Venâncio Mondlane, na região de Chimoio, na província moçambicana de Manique
Ação de campanha de Venâncio Mondlane, na região de Chimoio, na província moçambicana de Manique
JOSE COELHO / EPA

Antevê-se uma segunda-feira “quente” em Moçambique, com apelos a uma greve geral em todo o país e a realização de uma marcha em Maputo com início no local onde foram assassinados dois colaboradores de um candidato à presidência do pais afeto à oposição

Margarida Mota

Jornalista

Moçambique observa, esta segunda-feira, uma “greve geral” que constitui “o primeiro passo para honrar a morte de Elvino Dias e Paulo Guambe”, declarou Venâncio Mondlane, o candidato à presidência do país com quem as vítimas colaboravam.

Dias era o seu advogado e Guambe o mandatário do Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), o partido que apoiou a sua candidatura, nas eleições presidenciais de 9 de outubro.

Esta greve será “o início de uma nova etapa”, garantiu Mondlane, em declarações aos jornalistas, citado pelo jornal moçambicano “O País”. “O sangue destes jovens é o início da vingança”, acrescentou. “Vão-se arrepender disso.”

Mondlane defendeu uma jornada “pacífica”, exigiu que a polícia respeite a greve “como um direito constitucional” e apelou à população a que não crie situações que levem as autoridades a falar de “vandalismo”.

“Vamos levantar os nossos cartazes pacificamente, vamos caminhar e vamos mostrar o nosso repúdio (…). O comandante adjunto [da polícia] disse que está pronto para responder à desordem e nós não vamos fazer desordem”, disse o candidato.

Em Maputo, uma marcha arrancará por volta das 10 horas (menos uma hora em Portugal Continental), com partida do local onde Elvino Dias e Paulo Guambe foram assassinados, na sexta-feira à noite, na Avenida Joaquim Chissano, no centro da capital moçambicana.

Mondlane apelou à polícia para não responder com violência “sob pena de se ver algo jamais visto no país”.

Contribuinte ainda mais para o inflamar dos ânimos, Mondlane disse haver provas sobre a autoria do duplo homicídio, “Foram as Forças de Defesa e Segurança que fizeram isto e voltaram para recolher as provas e telemóveis das pessoas que filmaram”, afirmou.

O candidato acusou diretamente o partido no poder, dizendo que “os valores genuínos da Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique] são de fazer jorrar sangue, de matar, de humilhar”.

Dirigiu-se a antigos chefes de Estado e responsabilizou-os também pelo crime. “Mamã Graça Machel, papá Armando Guebuza, papá Joaquim Chissano, o sangue desses jovens também está nas vossas mãos”.

Onze dias após as eleições, ainda não foram anunciados os resultados definitivos. Resultados parciais dão a vitória ao candidato da Frelimo, Daniel Chapo. O processo mereceu contestação quer de candidatos como Mondlane, quer da Ordem dos Advogados de Moçambique, que apelou à publicação de todas as atas do processo da votação.

A Ordem reconheceu que a contagem dos votos foi pacífica, mas “o mesmo não se pode dizer dos editais afixados e muito menos dos números parciais da votação divulgados, quer pelas comissões distritais de eleições, quer pelas comissões provinciais de eleições, cobertos de opacidade, o que não favorece uma eleição transparente, em obediência às regras da democracia pelas quais o povo votou”.

Estas foram as sétimas eleições presidenciais desde a independência de Moçambique, em 1975, sempre vencidas pela Frelimo. O atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, não se candidatou por atingir o limite constitucional de dois mandatos.

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