Kaïs Saïed vence presidenciais na Tunísia com mais de 89% dos votos
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Sondagem à boca das urnas indica que o Presidente da Tunísia, Kaïs Saïed, foi reeleito com uma larga vantagem sobre os restantes candidatos. A participação nas eleições foi inferior a 30%. Nos últimos cinco anos, a Tunísia, antes vista como um exemplo de sucesso democrático após a Primavera Árabe, tem registado um retrocesso nos direitos e liberdades
O Presidente da Tunísia, Kaïs Saïed, obteve mais de 89% dos votos nas eleições presidenciais realizadas este domingo no país, de acordo com uma sondagem à boca das urnas divulgada pela estação nacional de televisão, Wataniya.
A sondagem, conduzida pelo instituto Sigma Conseil, indica que Kaïs Saïed, de 66 anos, venceu de forma expressiva o industrial liberal Ayachi Zammel, que obteve apenas 6,9% dos votos, e o antigo deputado pan-árabe de esquerda Zouhair Maghzaoui, que ficou em último lugar com 3,9%.
As eleições registaram, no entanto, uma baixa taxa de participação, de 27,7%, contra 45% em 2019, segundo dados oficiais.
Anadolu
Até às 13h00 (mesma hora em Lisboa), a participação era de 14,16%, refletindo o descontentamento popular já demonstrado em atos eleitorais anteriores.
Em 2019, a participação nas presidenciais foi de 48,9% na primeira volta e 55% na segunda. Os números foram ainda mais baixos no ano passado, quando apenas 11,66% dos nove milhões de eleitores tunisinos votaram nas eleições locais.
Saïed justificou a fraca participação nas eleições autárquicas com a "rejeição" do funcionamento do anterior parlamento, cujas competências assumiu em 2021, decisão que os seus críticos classificaram como uma deriva autoritária.
Uma mulher passa diante de um cartaz eleitoral do Presidente recandidato, Kaïs Saïed, colado numa rua de Ariana, na Tunísia
A sua reeleição este domingo era esperada: dos 17 potenciais candidatos que apresentaram documentação, apenas três foram aprovados pela comissão eleitoral do país, incluindo o chefe de Estado e um adversário que está preso, escreveu o Expresso. A oposição e grupos da sociedade civil alertaram para a forte possibilidade de as eleições serem fraudulentas e visarem apenas manter Saïed no poder.
Especializado em Direito Constitucional e jurista de profissão, Saïed emergiu em 2019 como outsider da política, concorreu como independente e ganhou as eleições. Sem filiação partidária, continua a prometer uma “Nova Tunísia”, mas esse sonho tem-se esfumado a grande velocidade. Em meados de 2021, declarou o estado de emergência, demitiu o primeiro-ministro, suspendeu o Parlamento e recauchutou a Constituição à sua medida.
A Tunísia, considerada um dos poucos exemplos de sucesso democrático após a Primavera Árabe de 2011, tem vindo a sofrer nos últimos cinco anos um retrocesso nos direitos e liberdades.
Esse retrocesso tem sido atribuído a Kaïs Saïed, levando críticos a compará-lo ao ex-Presidente Zine el Abidine Ben Ali, que governou o país de 1987 a 2011, e cujo longo mandato terminou precisamente com aquela revolução.