“O projeto liberal do mercado livre ou nacionalista anti-imigração talvez possam, por vezes, ganhar eleições, mas não resolverão o problema.” Para alguns, a frase soará drástica. Mas não surpreende os milhões de leitores que o seguem há mais de uma década: Thomas Piketty, economista francês e autor do “O Capital no Século XXI” (que, em 2013, lhe valeu o título de “economista rock star”) e de “Capital e Ideologia” (2019), acredita que regressamos a uma era de capitalismo patrimonial, com as elites a acumular fortunas através da herança, em oposição à inovação. Uma das conclusões mais emblemáticas da sua obra foi a proposta de taxar os super ricos (hoje, sugestão mais comummente aceite por economistas e políticos)
Tem insistido, ao longo dos anos, na ideia de que a desigualdade não é natural; menos ainda, aceitá-la. Para combatê-la, não esconde: a esquerda é “a única forma de resolver as contradições ambientais, económicas e sociais do nosso tempo”. Nas eleições presidenciais de 2007, foi assessor económico da candidata do PS Ségolène Royal, derrotada por Nicolas Sarkozy. Mas as suas convicções políticas são afirmadas de várias formas, como neste antagonismo ideológico: “As pessoas que não querem pagar impostos, que não querem partilhar a riqueza, tentam fingir que a esquerda é radical”. Em entrevista ao Expresso, Piketty falou da Europa e de como a França e a Alemanha estão entregues a “animais políticos estranhos”, elogiou o plano de Draghi e forneceu pistas para o futuro das forças progressistas e de esquerda que queiram resistir ao abalo da extrema-direita: “Se olharem para a social-democracia como uma espécie de produto congelado, e não quiserem mudar muito, isso abre a porta a novos movimentos políticos”.
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