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Mark Rutte: o novo secretário-geral da NATO diz-se um “conector” e vai precisar dessa qualidade no seu novo emprego

Mark Rutte com transeuntes em Haia. O novo secretário-geral da NATO cultiva uma imagem descontraída
Mark Rutte com transeuntes em Haia. O novo secretário-geral da NATO cultiva uma imagem descontraída
ROBIN UTRECHT/ANP/AFP/Getty Images

O novo secretário-geral da NATO é um homem de diálogo. Só assim se consegue ser primeiro-ministro dos Países Baixos, onde todos os governos são de coligação. Agora, leva essa capacidade para a Aliança Atlântica num tempo de grandes desafios

Se dependesse de Mark Rutte, ele não estaria à frente da NATO este ano, mas a dar aulas numa escola secundária. Pelo menos, foi o que o próprio primeiro-ministro dos Países Baixos afirmou, em novembro do ano passado, logo após eleições legislativas provocadas pela desagregação da coligação governativa que o sustentava. A ida às urnas, já sem Rutte como candidato, revelou-se péssima para o seu Partido Popular pela Liberdade e a Democracia (VVD, liberal conservador).

Quando se tornou primeiro-ministro, em 2010, este historiador de formação começou a lecionar algumas horas por semana na Johan de Witschool, em Haia. Como hóbi e para se manter em contacto com a sociedade. Rutte gostava de dar aulas. No entanto, ninguém acreditava que estivesse a falar a sério quando dizia que ser professor seria o seu futuro. Nos bastidores, já se estava a trabalhar arduamente para o posicionar como sucessor do norueguês Jens Stoltenberg como secretário-geral da Aliança Atlântica.

Rutte, o mais novo de uma família de seis filhos, nasceu em 1967 e teve uma educação calvinista. Enquanto estudava na Universidade de Leiden, aderiu à ala juvenil do VVD e, depois de se licenciar, foi trabalhar para a empresa internacional Unilever. Apesar de ter uma carreira de sucesso no mundo dos negócios, mergulhou totalmente na política após a viragem do milénio, tornando-se secretário de Estado dos Assuntos Económicos em 2002, no Executivo do democrata-cristão Jan Peter Balkenende.

Contra o populismo e a direita radical

A partir de 2003, foi deputado e, em 2010, tomou posse como primeiro-ministro, cargo que manteve durante 14 anos. Rutte tornou-se, assim, o chefe de Governo mais duradouro dos Países Baixos.

Praticamente toda a carreira política de Rutte foi dominada pela ascensão do populismo e da direita radical na política holandesa. Estreou-se no ano em que o demagogo de direita Pim Fortuyn foi assassinado; em 2006, ganhou por pouco a batalha pela liderança do seu partido, contra a populista Rita Verdonk.

O fim do mandato do norueguês Jens Stoltenberg abre via ao primeiro-ministro cessante dos Países Baixos
KENZO TRIBOUILLARD/AFP/Getty Images

Em 2010, conseguiu formar um Governo de coligação apenas com o apoio do radical de direita Geert Wilders, colaboração que durou apenas dois anos. Pormenor curioso: o próprio Wilders já foi deputado do VVD, mas abandonou o partido após um conflito ideológico sobre o Islão. Com o tempo, Rutte acabaria por adotar algumas políticas vindas da direita mais dura, nomeadamente em matéria de imigração.

O primeiro-ministro cessante (já tem sucessor designado, mas os pormenores do Governo de quatro partidos ainda estão a ser burilados) sobreviveu a estas tempestades políticas posicionando-se como “conector”, característica que, segundo os seus apoiantes, o torna bem adequado para o novo cargo na NATO. Mesmo entre os diplomatas que o conhecem da política internacional, a facilidade com que estabelece e mantém contactos pessoais é elogiada por muitos.

“Sr. Teflon” pôs o país no mapa

Também há críticas. Enquanto Rutte conseguiu colocar os Países Baixos no mapa internacional, segundo muitos — incluindo os eleitores que castigaram o seu partido em novembro do ano passado —, deixou-a em mau estado. Durante anos, problemas como os excedentes de azoto na agricultura, um escândalo de subsídios com dezenas de milhares de pessoas afetadas, uma política de asilo fracassada e um grave problema ecológico com a extração de gás natural no Norte do país, foram alvo de reparos.

Estas críticas deixaram-no à vontade, pelo que ganhou a alcunha de “Sr. Teflon”. Quando confrontado com escândalos, a sua resposta era: “Não tenho memória ativa disso”. Foi também acusado de fazer muito pouco para contrariar a polarização política na sociedade neerlandesa.

A nível internacional, Rutte é visto como um político pragmático, centrado nas soluções. E como uma personalidade modesta: as imagens do primeiro-ministro a ir de bicicleta para os edifícios governamentais são mundialmente famosas.

No entanto, no passado, teve confrontos com o primeiro-ministro turco e hoje Presidente Recep Tayyip Erdogan e o chefe do Governo húngaro, Viktor Orbán, entre outros, por causa das tentativas da Turquia de influenciar as eleições holandesas e das críticas à Hungria por violar os direitos das pessoas LGBT.

Para já, estes confrontos foram resolvidos, mas não há garantias para o futuro. E o maior teste para Rutte ainda está para vir, ao assumir a liderança da NATO num momento em que Donald Trump ­— que sempre desprezou a Aliança — pode ganhar as eleições presidenciais de novembro nos Estados Unidos.

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