Partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha expulso do grupo europeu Identidade e Democracia
Maximilian Krah não vai aparecer na campanha do seu partido para as eleições europeias
Maja Hitij
O ano 2024 tem sido rico em escândalos para a extrema-direita alemã, que continua em segundo lugar nas intenções de voto para as europeias de junho, embora com valores abaixo dos 22% que chegou a registar. Agora, afirmações de um dirigente sobre as SS, a infame polícia do regime nazi, custou ao partido o seu lugar na família política europeia Identidade e Democracia
O maior partido de extrema-direita da Alemanha, Alternativa para a Alemanha (AfD), foi expulso do seu grupo político europeu, o Identidade e Democracia (ID), na sequência de uma série de escândalos. O mais recente relaciona-se com as declarações de um dos seus principais nomes: o cabeça de lista às eleições europeias Maximilian Krah, escreve a agência de notícias alemã DPA.
Numa entrevista ao jornal italiano “La Repubblica”, o eurodeputado disse que usar um uniforme das SS, o braço armado do partido nazi, “não fez de ninguém, automaticamente, um criminoso”. Estas declarações surgiram como comentário ao facto de Gunter Grass, escritor alemão e Nobel da Literatura em 1999, ter pertencido à organização na sua adolescência.
Maximilian Krah não vai aparecer na campanha do seu partido para as eleições europeias
Marine Le Pen, líder do Reagrupamento Nacional, principal força política da extrema-direita francesa, já tinha dito que os seus eurodeputados não se sentariam mais ao lado da AfD. O partido alemão esteve na base da formação do próprio ID, grupo ao qual pertence também o partido português de direita radical Chega.
A expulsão acontece a duas semanas das eleições europeias, problema que se junta aos muitos que a AfD vem colecionando nos últimos meses. Parte deles tem uma mesma origem: Krah, de 47 anos, já fora objeto de escrutínio depois de as autoridades de Bruxelas terem revistado os seus escritórios no Parlamento Europeu, por suspeitas de que um dos seus assistentes, entretanto detido, tenha espiado os trabalhos dos eurodeputados a favor da China.
O Ministério Público Federal, citado pelo site de notícias Euractiv, dedicado à atualidade da União Europeia, afirma que a “suspeita de atuação como agente dos serviços secretos chineses num caso particularmente grave” não inclui o próprio Krah, apenas o seu antigo assistente. No entanto, as autoridades alemãs ainda investigam suspeitas de que Krah tenha sido subornado pela Rússia e pela China, ou seja, os dois casos não estão relacionados e Krah apenas foi “ilibado” do primeiro.
Presidente da Rússia Vladimir Putin posa para a fotografia ao lado do seu homólogo chinês, Xi Jinping
No início de 2024, a AfD estava em segundo lugar nas intenções de voto dos alemães, mas em janeiro um escândalo abalou a sua popularidade. Alguns dos seus militantes foram vistos numa reunião da extrema-direita austríaca, onde, entre os vários tópicos na agenda, figurava a possibilidade de “remigração”, ou seja, reenvio de imigrantes que já estejam na Alemanha. O homem mais popular dessa conferência foi Martin Sellner, líder de longa data do movimento identitário pan-europeu.
Os laços estreitos entre Sellner e políticos da AfD são evidentes nesta reunião, mas não são novidade, explica a reportagem do site de investigação “Correctiv”, que primeiramente divulgou a reunião. Sellner é um conhecido fã de Krah, que escreveu “Política da Direita – um Manifesto” (tradução livre, sem edição portuguesa), onde apela ao abandono dos direitos humanos universais e defende a “remigração” dos “cidadãos”.
Krah argumenta no livro que “mesmo que uma política de imigração restritiva pudesse ser politicamente aplicada dentro de dez anos, permanece a questão de saber o que aconteceria a todos os imigrantes que já se encontram no país”, escreve o “Correctiv”.
“Votei a favor da expulsão de Krah porque ele tem sido o problema neste caso e também anteriormente com várias coisas, como as questões Rússia-China. Mas não apoiei a punição de todos os alemães, porque toda a delegação concordou com a expulsão de Krah”, disse Jaak Madison, eurodeputado estónio do grupo ID, ao site Politico.eu.
Krah, o principal candidato às europeias pela AfD, anunciou na quarta-feira que iria interromper a sua campanha e abandonar a direção do partido, mantendo-se, no entanto, como cabeça de lista. A sondagem do Politico mostra que o AfD tem 16% das intenções de voto, contra 22% em janeiro.