Internacional

Primeiro-ministro da Irlanda anuncia demissão: “Os políticos são seres humanos e temos as nossas limitações”

Leo Varadkar foi primeiro-ministro entre 2017 e 2020 e desde 2022 até 2024
Leo Varadkar foi primeiro-ministro entre 2017 e 2020 e desde 2022 até 2024
Charles McQuillan/Getty Images

Leo Varadkar deixa imediatamente a chefia do partido liberal Fine Gael e ficará no Governo apenas até à eleição de um sucessor. Não especificou as razões para a renúncia ao cargo

Primeiro-ministro da Irlanda anuncia demissão: “Os políticos são seres humanos e temos as nossas limitações”

Pedro Cordeiro

Editor da Secção Internacional

O primeiro-ministro irlandês anunciou esta quarta-feira que abandona a chefia do partido liberal-conservador Fine Gael com efeito imediato e que deixará o Governo assim que for possível escolher um sucessor. Leo Varadkar afirma que a decisão se deve a motivos pessoais e políticos. “Os políticos são seres humanos e temos as nossas limitações. Damos tudo até já não podermos. E depois é preciso andar para a frente.”

“Parte da liderança é saber quando chegou a altura de passar o testemunho a outro, e ter a coragem de o fazer”, afirmou o governante, emocionado, numa conferência de imprensa, ladeado por aliados políticos. Tem 45 anos, é médico e foi o primeiro chefe de Governo irlandês de origem indiana e homossexual.

A substituição deve acontecer até meio de abril. Varadkar foi primeiro-ministro entre 2017 e 2020, tendo retomado o cargo em dezembro de 2022, após passagem pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros. A rotatividade explica-se pelo acordo entre o seu partido e o democrata-cristão Fianna Fáil, com cujo chefe, Micheál Martin, trocou duas vezes de cargo.

“Deixei de sentir que sou a melhor pessoa para o cargo”, disse Varadkar, frisando que “nunca há um tempo certo para renunciar a um alto cargo”. Sai um ano antes da data prevista das próximas legislativas e acredita que o atual Executivo ­— apoiado pelo seu partido, pelo Finna Fáil e pelos Verdes — pode ser reconduzido, com outra liderança que “renove e reforce a equipa, centre a mensagem nas políticas e impulsione a sua aplicação”.

A pensar nas próximas eleições

“O novo primeiro-ministro terá dois meses completos para preparar as eleições europeias e até um ano para as próximas legislativas”, frisou Varakdar. “Acredito que o meu partido, Fine Gael, pode ganhar assentos no Parlamento. Acima de tudo, acredito que a reeleição deste Governo de três partidos será o mais certo para o futuro do nosso país.”

À frente das sondagens está o partido republicano Sinn Féin (esquerda), partidário da reunificação das Irlandas e antigo braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA, terrorista). Soma 25% a 20% das intenções de voto, face aos 18%-21% do Fine Gael e aos 15%-20% do Fianna Fáil. Todas as demais forças ficam abaixo dos 10%.

O demissionário sofreu uma derrota política no passado dia 8, quando o eleitorado rejeitou em referendo a sua proposta de revisão constitucional para eliminar referências ao papel da mulher em casa e a definição de família com base no casamento. No primeiro caso por 74%-26%, no segundo por 68%-32%, o povo não quis rever a Constituição, redigida em 1937 sob forte influência da igreja católica. Não é provável, contudo, que seja por isto que Varadkar se demite, já que as suas propostas geraram amplo consenso entre os partidos políticos.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: pcordeiro@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate