Embora a política da Irlanda do Norte nos tenha ensinado a desconfiar das expectativas, é quase certo que Michelle O’Neill venha a fazer história duplamente nos próximos dias. Tudo indica que venha a ser a primeira mulher à frente do Governo autónomo daquele território britânico e a primeira pessoa nesse cargo oriunda do partido Sinn Féin (Nós Próprios, em tradução livre do gaélico irlandês), formação republicana e mormente católica que sonha com a reunificação irlandesa e foi, em tempos, braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA), responsável por atos de terrorismo no século XX.
O’Neill tem 47 anos, é deputada regional há 17 e vice-presidente do partido há seis. Foi vice-primeira-ministra entre 2020 e 2022, altura em que se rompeu o acordo entre o Sinn Féin e o Partido Democrático Unionista (DUP, favorável à manutenção da Irlanda do Norte no Reino Unido). O Executivo caiu, já que o Acordo de Sexta-Feira Santa — que em 1998 pôs fim a décadas de violência sectária, em que participaram ainda paramilitares unionistas e forças britânicas — exige que nele estejam as maiores forças políticas, unionista e republicana.
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