Da reputação de 'príncipe festeiro' a herdeiro preparado, destemido e preocupado com o ambiente: quem é o futuro rei da Dinamarca?
Príncipe herdeiro será rei Frederico X
Steffi Loos
A decisão de Margarida II em abdicar do trono não era esperada, mas já há muito que o filho mais velho se prepara para o momento que agora se aproxima: aos 55 anos, o antigo jovem, desconfortável com a exposição pública e apreciador de festas, vai assumir a coroa dinamarquesa. Preocupado com as questões ambientais, também descrito como desportista e aventureiro, o Expresso traça o perfil do futuro rei Frederico
O tradicional discurso de ano novo da rainha Margarida II da Dinamarca teve, no domingo, uma surpresa: a monarca há mais tempo em funções na Europa (depois da morte de Isabel II) vai abdicar do trono, após 52 anos como chefe de Estado. A partir de 14 de janeiro, o papel cabe ao filho mais velho, o príncipe herdeiro Frederico.
No início da década de 90, o em breve rei Frederico X tinha a reputação de “príncipe festeiro”, algo que terá começado a mudar durante o período em que frequentou o curso de ciência política, na Universidade de Aarhus, num trajeto que incluiu uma estadia de um ano na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Em 1995, tornou-se o primeiro membro da realeza dinamarquesa a concluir um curso universitário.
Frederico tinha noção da falta de preparação para o futuro papel enquanto monarca, conta a correspondente real da emissora dinamarquesa TV2. “Ele próprio falou sobre o facto de, quando fez 18 anos, não estar de todo preparado para o que lhe aconteceu nessa altura”, disse Marie Rønde à Sky News. Foi com essa idade, em 1986, que começou a formação militar, tendo passado pelos três ramos das forças armadas.
O príncipe herdeiro Frederico e a rainha Margarida II, em 2021
Maja Hitij
A jornalista Gitte Redder, especialista no que se refere à família real dinamarquesa, confirma que o futuro monarca só “ganhou confiança a partir dos 20 e poucos anos”. “Não era propriamente um rebelde, mas em criança e jovem sentia-se muito desconfortável com a atenção dos meios de comunicação social e com o facto de saber que ia ser rei”, explicou à AFP.
Entretanto, “passou muito tempo a preparar-se, a habituar-se ao facto de esta ser a tarefa da sua vida e trabalhou muito para isso”, segundo Marie Rønde. “Não sei se hoje lhe chamaria príncipe festeiro, acho que ele mudou muito, mas era o que ele era naquela altura”, retrata. Agora, é descrito como um ambientalista convicto: desde a COP15, que decorreu em Copenhaga em 2009, que se tem empenhado nos desafios climáticos e ambientais globais. Além de dinamarquês, fala inglês, francês e alemão. Em 2010, foi nomeado comandante da marinha e coronel do exército e da força aérea.
Com o tempo, a confiança foi-se consolidando. “Quando chegar a altura, eu guiarei o navio”, garantiu num discurso de celebração do meio século da mãe no trono, em 2022, citado pela AFP. “Seguir-te-ei, tal como seguiste o teu pai”, acrescentou. A correspondente real acredita que Frederico será um “rei do povo”. “Ele encontra-se com muitos dinamarqueses quando anda por aí e é muito bom a falar com eles”, destaca. “A rainha Margarida também é uma rainha do povo, as pessoas gostam muito dela, mas penso que ele também o será.”
Nos últimos anos, os deveres reais do príncipe herdeiro, de 55 anos, têm vindo a intensificar-se, particularmente depois dos problemas de saúde da rainha. Foi, aliás, uma cirurgia às costas realizada em fevereiro que originou uma “reflexão sobre o futuro, se tinha chegado o momento de deixar a responsabilidade à geração seguinte”, explicou Margarida. Aos 83 anos, concluiu tratar-se da “altura certa”.
Devido à operação, o primogénito “assumiu grande parte do seu trabalho”, refere Marie Rønde, indicando que o futuro monarca “teve uma longa educação militar”, é adepto de música rock, “vai a concertos e festivais e gosta muito de eventos desportivos”. “Por isso, nesse aspeto, é muito diferente da mãe.”
O desporto tem marcado o percurso de Frederico: corre maratonas, já foi parar ao hospital devido a acidentes de trenó e de scooter e, em 2000, participou numa expedição de esqui de quatro meses e 3500 quilómetros pela Gronelândia. “Não quero fechar-me numa fortaleza. Quero ser eu próprio, um ser humano”, chegou a dizer, insistindo que se manteria fiel a essa ideia mesmo depois de assumir o trono.
Numa corrida em 2018, em Copenhaga
Ole Jensen
Foi também em 2000 que conheceu a australiana Mary Donaldson, num bar durante os Jogos Olímpicos de Sidney, com quem se casou quatro anos depois. Aos quatro filhos – Christian (18 anos), Isabella (16) e os gémeos Vincent e Josephine (12) – têm tentado dar uma educação tão normal quanto possível, nomeadamente através da frequência de escolas públicas. O casal é “moderno, desperto, amante de música pop, arte moderna e desporto” e “não representa uma potencial revolução em relação à rainha”, mas uma transição cuidadosa que se adapta aos tempos, descreveu o historiador Sebastian Olden-Jørgensen à AFP.
Mas foi precisamente em ambiente familiar que a polémica surgiu recentemente: no início de novembro, a revista espanhola “Lecturas” divulgou fotografias de Frederico com a socialite mexicana Genoveva Casanova. O príncipe herdeiro da Dinamarca passeou em Madrid com a ex-mulher de Cayetano Martínez de Irujo – filho da duquesa de Alba – e terá passado a noite no seu apartamento.
Rumores à parte, certo é que não haverá uma cerimónia formal de coroação do príncipe herdeiro, ao contrário do que acontece na tradição real britânica. A ascensão ao trono é anunciada no dia 14 a partir do Palácio de Christiansborg, em Copenhaga. Frederico irá tornar-se rei da Dinamarca e chefe de Estado do país, assim como da Gronelândia e das Ilhas Faroé.