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Espanha: perto de três mil pessoas voltam a protestar contra a amnistia de independentistas

Manifestação juntou 170 mil pessoas em Madrid
Manifestação juntou 170 mil pessoas em Madrid
SUSANA VERA/REUTERS

Manifestantes, que estiveram muito ativos durante 20 dias, mas tinham abrandado os protestos nos últimos dois dias, voltaram a agitar bandeiras espanholas, algumas com o escudo recortado e outras com a Cruz da Borgonha, considerada a bandeira histórica do império espanhol

Mais de 3.000 pessoas participaram esta sexta-feira num novo protesto contra a amnistia de independentistas catalães frente à sede do PSOE, em Madrid, no dia em que se cumpriu uma greve geral convocada pelo sindicado do partido conservador Vox.

O número foi avançado pela agência de notícias espanhola Efe, com base em dados da delegação do governo de Madrid e representou um aumento em relação às últimas concentrações feitas na sequência da proposta de lei de amnistia entregue no parlamento pelo PSOE. A proposta resulta de acordos com dois partidos catalães que, em troca, viabilizaram, na semana passada, um novo Governo de esquerda em Espanha, liderado por Pedro Sánchez.

Os manifestantes, que estiveram muito ativos durante 20 dias, mas tinham abrandado os protestos nos últimos dois dias, voltaram a agitar bandeiras espanholas, algumas com o escudo recortado e outras com a Cruz da Borgonha, considerada a bandeira histórica do império espanhol.

Também foi possível ver uma bandeira irlandesa, cuja capital, Dublin, sofreu graves tumultos na noite de quinta-feira, protagonizados por grupos de extrema-direita, que aproveitaram o esfaqueamento de quatro pessoas, três delas crianças, para causar estragos no centro da cidade.

Entre os manifestantes, muitos gritaram frases como "Ele não é um presidente [do Governo, ou seja, um primeiro-ministro], é um criminoso", "[a sede do PSOE] não é um quartel-general, é um bordel" ou "Sánchez para a prisão".

A concentração teve início por volta das 20:00 em Madrid (19:00 em Lisboa), quando cerca de 150 pessoas se reuniram junto à sede dos socialistas e algumas começaram a rezar em frente à igreja situada no cruzamento das ruas Ferraz e Marqués de Urquijo, que tiveram de ser cortadas ao trânsito.

A esse grupo juntou-se, depois, outro maior que saiu uma hora antes da Moncloa (sede do Governo), onde tinha estado numa outra manifestação para dar visibilidade à greve geral convocada pelo sindicato Solidaridad, do partido de extrema-direita Vox. A greve geral visava contestar a lei da amnistia para os envolvidos no chamado 'procés' e nos restantes pactos do Governo com os independentistas catalães.

O líder desta manifestação, o secretário-geral do sindicato, Rodrigo Alonso, defendeu que a greve "foi legítima" e garantiu que o sindicato ficou muito satisfeito com o resultado. No entanto, Alonso reconheceu desconhecer quantas pessoas aderiram porque, segundo disse, "os dados foram-lhe negados" e "as informações divulgadas são falsas". Segundo dados da empresa nacional de comboios Renfe, da administração geral do Estado (AGE) e da evolução do consumo de energia elétrica, a greve geral teve "impacto zero".

Durante o trajeto até à sede socialista, à qual se juntaram inúmeras pessoas, foram gritados 'slogans' como "Sánchez, rato bípede, volta para o esgoto", "Sánchez, golpista" e "Não somos fascistas, somos espanhóis". A polícia montou um cordão de segurança frente aos manifestantes com uma fila de carrinhas da polícia de choque.

As manifestações em frente da sede nacional do PSOE têm sido convocadas nas redes sociais e são apoiadas pelo Vox, mas o PP tem-se demarcado. Vários destes protestos, marcados por símbolos, cânticos e gestos fascistas e da ditadura espanhola de Francisco Franco, acabaram com distúrbios e cargas policiais.

A direita espanhola considera que a amnistia de políticos catalães que protagonizaram a tentativa de autodeterminação da Catalunha em 2017 pode constituir um ataque ao Estado de direito e ao princípio da separação de poderes, num alerta que também já fizeram associações de juízes e procuradores.

O PSOE sublinha que a amnistia já foi considerada legal pelo Tribunal Constitucional espanhol, em 1986, que já foi aplicada em Espanha em 1976 e 1977 e está também "perfeitamente homologada" nas instâncias europeias e pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.

Os socialistas defendem que esta amnistia devolve um conflito político à esfera política e servirá para recuperar a convivência entre catalães e entre a Catalunha e o resto de Espanha depois da fratura de 2017.

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