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Química: dois terços dos vencedores do Nobel nasceram em três países

Os Nobel são entregues numa cerimónia em Estocolmo (na foto), excetuando o da Paz, cuja gala se realiza em Oslo
Os Nobel são entregues numa cerimónia em Estocolmo (na foto), excetuando o da Paz, cuja gala se realiza em Oslo
JONAS EKSTROMER / AFP / GETTY IMAGES

Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido arrecadaram a maioria dos Nobel da Química já atribuídos. Um dos norte-americanos recebeu o prémio aos 97 anos e tornou-se o mais velho de todos os laureados em todas as categorias. Uma das invenções premiadas revolucionou a agricultura e também a guerra

Margarida Mota

Jornalista

A Química foi a disciplina no centro da obra de Alfred Nobel, crucial para o seu trabalho como criador e como industrial. Em meados do século XIX, foi ele a mente por detrás de duas invenções revolucionárias para a arte da guerra: o detonador e a dinamite, patenteados em 1863 e 1867, respetivamente.

Esta quarta-feira, pelas 10h45 (de Portugal Continental), será conhecida a escolha da Real Academia Sueca de Ciências, de Estocolmo, relativamente à pessoa que, no último ano, “fez a descoberta ou melhoria química mais importante”, como estipula o testamento de Alfred Nobel. O anúncio pode ser seguido neste link.

Até à presente edição dos Nobel, 117 dos 191 laureados com o Nobel da Química nasceram em três países apenas, o que corresponde a quase dois terços do total de distinguidos. Quase outros 30 laureados adquiriram uma dessas três nacionalidades ao longo da vida.

Os três países que mais receberam o Nobel da Química


Desde 1901, receberam este prémio cientistas nascidos em apenas 28 países e um território disputado. Em 1986, um dos vencedores foi Yuan T. Lee, oriundo de Taiwan (a “província renegada” da República Popular da China) e posteriormente naturalizado norte-americano.

10 CURIOSIDADES

1. UM NOBEL CONTROVERSO
Alguns laureados com o Nobel da Química viram o seu prémio ser contestado. Um deles foi o alemão Fritz Haber, galardoado em 1918, “pela síntese do amoníaco”, que permitiu a produção deste composto em grandes quantidades. Este processo foi importante para a produção de fertilizantes, que revolucionaram a agricultura, e também de armas químicas destrutivas, como o gás de cloro, usado na I Guerra Mundial.

2. HARVARD, ‘FÁBRICA’ DE PREMIADOS
Martin Karplus, um norte-americano nascido na Áustria, foi o último investigador da Universidade de Harvard (EUA) a receber este Nobel, em 2013. Esta prestigiada instituição académica com sede no Massachusetts foi a que mais Prémios Nobel gerou em todo o mundo. Entre os seus docentes, 50 foram galardoados enquanto estavam no ativo: 17 na Medicina, 11 na Física, 11 na Economia, sete na Química, três na Paz e um na Literatura.

3. EFEITO DE ESTUFA É PREOCUPAÇÃO ANTIGA
No início do século XX, já se falava em aquecimento global, muito por força do trabalho desenvolvido por Svante Arrhenius. Este químico sueco, que recebeu o Prémio Nobel em 1903, foi pioneiro no uso de princípios da físico-química para calcular até que ponto o aumento do dióxido de carbono na atmosfera é responsável pelo aumento da temperatura da superfície terrestre.

4. PRIMEIRO A QUÍMICA, DEPOIS A PAZ
Linus Carl Pauling consta da história do Nobel como a única pessoa a receber dois prémios, a solo e em categorias distintas. Em 1954, este químico norte-americano venceu o Nobel da especialidade por investigações que haveriam de o consagrar como um dos pais da Química Quântica e da Biologia Molecular. Oito anos depois, recebeu o Nobel da Paz pelo seu combate à corrida ao armamento e às armas nucleares.

5. O MESMO NOBEL DUAS VEZES
O Nobel da Química foi entregue duas vezes à mesma pessoa em duas ocasiões. O inglês Frederick Sanger, investigador na Universidade de Cambridge, arrecadou-o em 1958 e em 1980. Mais jovem do que Sanger 23 anos, o norte-americano K. Barry Sharpless, cientista no Instituto de Investigação Scripps, da Califórnia, recebeu os seus dois Prémios já no século XXI: em 2001 e no ano passado.

6. PRÉMIOS, LAUREADOS E INDIVIDUALIDADES
O Nobel da Química já foi concedido 114 vezes a 191 laureados que, na realidade, correspondem a 189 indivíduos (já que dois cientistas ganharam-no duas vezes). Mas o que é um laureado? A palavra tem raízes na mitologia grega e no deus Apolo, que é representado com uma coroa de louros na cabeça. Na Grécia Antiga, estas coroas eram um sinal de honra e eram entregues aos vencedores de competições desportivas ou de poesia.

7. O FÜHRER NÃO DEIXOU
Dois alemães foram obrigados a declinar o Nobel da Química por decreto emitido por Adolf Hitler. Foram eles Richard Kuhn, em 1938, e Adolf Butenandt, em 1939, anos em que a Europa estava engolida pelo segundo conflito mundial. O líder nazi estava acossado por uma distinção anterior a um conterrâneo (Carl von Ossietzky, Nobel da Paz 1935), crítico dos desenvolvimentos políticos na Alemanha entre guerras.

8. O MAIS VETERANO DE TODOS
John B. Goodenough foi não só o mais velho a receber o Nobel da Química, como o mais velho em termos absolutos a ter um Nobel. Este norte-americano tinha 97 anos quando, em 2019, foi premiado “pelo desenvolvimento de baterias de ião-lítio”. No polo oposto, o químico Frédéric Joliot tinha 35 anos quando foi distinguido. A personalidade mais jovem nas seis categorias é Malala Yousafzai, que tinha 17 anos quando recebeu o Nobel da Paz, em 2014.

9. PAIXÃO NA FAMÍLIA
Oito anos após receber o Nobel da Física, Marie Curie foi distinguida, em 1911, com o da Química pela “descoberta dos elementos polónio e rádio”. A paixão pela Química contagiou a família e, em 1935, a sua filha mais velha, Irène Joliot-Curie, venceu o mesmo galardão, “em reconhecimento à síntese de novos elementos radioativos”. Sem carreira na Química, a filha mais nova, Ève Curie, foi casada com Henry R. Labouisse, diretor-executivo da UNICEF que, em 1965, recebeu o Nobel da Paz em nome da organização.

10. A CIÊNCIA QUE MAIS DISTINGUIU A SOLO
Nas categorias de ciências, o Nobel da Química foi aquele entregue a mais investigadores a título individual, ou seja, sem ser partilhado por mais laureados. Foram 63 os prémios da Química dados a uma só pessoa, enquanto o da Física recompensou 47 e o da Medicina 40. Este ano, o valor de cada prémio (que pode ser dividido até um máximo de três laureados) é de 11 milhões de coroas suecas (950 mil euros).

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: MMota@expresso.impresa.pt

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