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Medicina: o Nobel que mais personalidades distinguiu

Moeda com a efígie de Alfred Nobel (1833-1896)
Moeda com a efígie de Alfred Nobel (1833-1896)
Getty Images

Entre 1901 e 2022, o prémio Nobel da Medicina, que é anunciado esta segunda-feira, já foi entregue a 225 pessoas. Apenas 12 mulheres foram galardoadas. Sigmund Freud, o pai da psicanálise, nunca venceu este galardão. António Egas Moniz deu o primeiro Nobel a Portugal

Margarida Mota

Jornalista

O Prémio Nobel da Medicina inaugura, tradicionalmente, a semana de atribuição do mais prestigiado galardão internacional na área das ciências. Esta segunda-feira, pelas 10h30 (hora de Portugal Continental), será conhecida a personalidade que, no ano anterior, “fez a descoberta mais importante no domínio da fisiologia ou da medicina”.

Esta distinção tem na origem Alfred Nobel, industrial sueco que fez fortuna na área do armamento e destinou a maior fatia da sua fortuna a recompensar aqueles que “conferiram o maior benefício à humanidade”, como se lê no seu testamento, com data de 27 de novembro de 1895.

Por sua determinação, é o Instituto Karolinska de Estocolmo que seleciona o vencedor do rol de nomeados. O anúncio desta segunda-feira pode ser acompanhado em direto neste link.

O Prémio Nobel da Medicina distingue-se dos demais por ser a categoria que mais personalidades já distinguiu. Entre 1901 e 2022, foi atribuído 113 vezes a 225 personalidades. Não foi entregue em nove anos, sete dos quais em período de conflitos mundiais.

Prémios Nobel atribuídos entre 1901 e 2022


10 CURIOSIDADES

1. UM, DOIS OU TRÊS LAUREADOS
Não raras vezes, o Nobel da Medicina é conferido a várias pessoas em simultâneo. Dos 113 prémios já atribuídos, 40 distinguiram uma só personalidade, 34 foram partilhados por duas e 39 foram repartidos por três laureados. Os estatutos da Fundação Nobel dizem que, “em nenhuma circunstância”, a verba destinada a cada categoria “será dividida em mais de três prémios”.

2. MULHERES ESCASSEIAM
Apenas 12 mulheres foram distinguidas com o Nobel da Medicina. Oriundas de oito países, quatro nasceram nos Estados Unidos. A primeira foi Gerty Cori, nascida em Praga (à época Áustria-Hungria, hoje República Checa), que partilhou o prémio com outros dois laureados, um deles o seu marido, Carl Cori. Apenas uma distinguida recebeu o Nobel a solo: a norte-americana Barbara McClintock, em 1983.

3. O MAIS VELHO E O MAIS NOVO
Em 1966, o norte-americano Peyton Rous tinha 87 anos quando recebeu o Nobel da Medicina por estudos desenvolvidos na área do cancro. É, ainda hoje, o laureado mais velho. Em contraponto, a personalidade mais jovem a ser distinguida nesta categoria foi Frederick Grant Banting, aos 32 anos. Este canadiano foi premiado em 1923, pela descoberta da insulina, revolucionando o tratamento da diabetes.

4. O PRIMEIRO PORTUGUÊS
Em 1949, Portugal tornou-se o 19.º país a ver um nacional galardoado com o Prémio Nobel da Medicina. Nesse ano, António Egas Moniz dividiu o galardão com o suíço Walter Rudolf Hess. Nascido em Avanca, em 1874, o neurologista foi reconhecido “pela descoberta do valor terapêutico da leucotomia em certas psicoses”. Teve também um papel ativo na política, tendo sido ministro dos Negócios Estrangeiros (1918). Faleceu em 1955.

5. TRADIÇÃO NO ADN
Com quatro décadas de diferença, pai e filho suecos receberam este Nobel. Em 1982, Sune Bergström foi um dos três premiados nesta categoria. Nascido em Estocolmo, à altura do reconhecimento trabalhava no Instituto Karolinska. Em 2022, o seu filho Svante Pääbo foi o único galardoado nesta categoria, por “descobertas sobre os genomas de hominídeos extintos e a evolução humana”.

6. REVOLUÇÃO NA MEDICINA
Alguns Nobel reconheceram descobertas que haveriam de mudar a medicina. Em 1905, o prémio distinguiu investigações relativas à tuberculose (Robert Koch). O Nobel de 1923, a Frederick G. Banting e John James Rickard Macleod, distinguiu a invenção da insulina. Em 1945, foi reconhecida a descoberta da penicilina (Alexander Fleming, Ernst Boris Chain e Howard Walter Florey).

7. EXCEÇÃO A TÍTULO PÓSTUMO
Desde 1974, os estatutos da Fundação Nobel estipulam que o Nobel não pode ser atribuído a título póstumo, exceto quando a morte do laureado ocorre após o anúncio da atribuição do prémio. Uma situação não prevista aconteceu em 2011, quando um dos três laureados, Ralph Steinman, morreu três dias antes do anúncio. A organização manteve a decisão após apurar que o Instituto Karolinska, que o escolheu, desconhecia que tinha falecido.

8. PRÉMIO EM FAMÍLIA
Por duas vezes, o Nobel da Medicina foi atribuído, em simultâneo, a marido e mulher. Ocorreu em 1947, distinguindo os bioquímicos checos Gerty Cori e Carl Cori, “pela descoberta do curso da conversão catalítica do glicogénio”. Quase 70 anos depois, em 2014, foram consagrados os neurocirurgiões noruegueses May-Britt Moser e Edvard I. Moser, pela descoberta de uma espécie de GPS interno do cérebro.

9. IMPEDIDO DE RECEBER O PRÉMIO
O Nobel de 1939 foi atribuído ao alemão Gerhard Domagk, mas o patologista e bacteriologista foi proibido pelo regime nazi de comparecer na cerimónia em Estocolmo. Quatro anos antes, Carl von Ossietzky, alemão pacifista declaradamente antinazi, tinha ganho o Nobel da Paz, o que enfureceu Adolf Hitler. Então, o Führer proibiu os alemães de aceitarem o Nobel. Gerhard Domagk receberia o diploma do Nobel em 1947.

10. O GRANDE AUSENTE
Sigmund Freud, o neurologista e psiquiatra austríaco que ficou na história como o pai da psicanálise, nunca recebeu o Nobel da Medicina. No arquivo de nomeações ao Prémio, o nome de Freud surge proposto 32 vezes, entre 1915 e 1938, para o galardão da Medicina. Em 1936, foi proposto para receber o da Literatura. As nomeações para o Prémio Nobel são secretas durante 50 anos.

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