Internacional

Governo do Kosovo diz ter provas de que ação militar foi organizada na Sérvia

Kosovo exige retirada de tropas da fronteira com a Sérvia
Kosovo exige retirada de tropas da fronteira com a Sérvia
GEORGI LICOVSKI

As autoridades kosovares exigiram este domingo que a Sérvia retire as suas tropas da fronteira comum e declaram-se prontas a proteger a sua integridade territorial. Estados Unidos já prometeram represálias se não se voltar ao diálogo

O Governo do Kosovo garantiu hoje que a ação dos militares sérvios no norte do país balcânico, que provocou quatro mortos no domingo passado, foi preparado na Sérvia.

O Presidente sérvio, Aleksandar Vucic, “tentou esconder o facto de a Sérvia estar envolvida na organização deste ataque”, declarou o Ministro do Interior do Kosovo, Xhelal Svecla, numa conferência de imprensa em Pristina.

A polícia kosovar, sublinhou o ministro, tem provas do contrário, baseadas em vídeos filmados pelos próprios militares, confiscados após o ataque.

Um polícia sérvio do Kosovo e três militares sérvios morreram na aldeia sérvia-kosovar de Banjska, num incidente armado que envolveu dezenas de paramilitares sérvios, tendo já a grande maioria fugido para a Sérvia.

Segundo Xhelal Svecla, o objetivo do ataque era provocar distúrbios no Kosovo para facilitar a anexação da parte norte do país pela Sérvia.

No sábado, o governo kosovar alertou que as Forças Armadas Sérvias estavam a acumular tropas em três frentes junto à fronteira.

Face a esta situação, hoje, o ministro da Defesa britânico, Grant Shapps, anunciou o envio de centenas de soldados para reforçar a missão da força militar multinacional liderada pela NATO, a Kfor.

Este domingo, as autoridades kosovares exigiam que a Sérvia retire as suas tropas da fronteira comum e declaram-se prontas a proteger a sua integridade territorial. Estas declarações surgiram um dia depois de os Estados Unidos terem ameaçado com medidas punitivas contra Belgrado.

“Apelamos à Sérvia para que retire imediatamente as suas tropas da fronteira com o Kosovo”, declarou o Governo do Kosovo, exigindo que Belgrado “desmilitarize” 48 bases militares e policiais “que ameaçam em permanência o nosso território”.

Belgrado nunca reconheceu a secessão unilateral do Kosovo – a sua antiga província do sul, considerada o berço da sua nacionalidade e religião – proclamada em fevereiro de 2008 na sequência de uma guerra iniciada com uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, na maioria albaneses, e motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da ONU.

Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais, num país com um terço da superfície do Alentejo e cerca de 1,7 milhões de habitantes, na larga maioria (perto de 90%) de etnia albanesa e religião muçulmana.

Protestos desde a primavera

Na sexta-feira, Milan Radoicic, vice-presidente do principal partido kosovar-sérvio, o Serb List, demitiu-se após ter confessado ser responsável pela organização do grupo armado, ainda que tenha negado ter recebido ajuda de Belgrado.

Falando ao Concelho de Segurança Nacional da Casa Branca na sexta-feira, o porta-voz John Kirby descreveu a “grande deslocação” de tanques sofisticados e de artilharia sérvios como um “desenvolvimento muito desestabilizante” cujo objetivo não é claro. Kirby acrescentou que o secretário de Estado Antony Blinken telefonara ao Presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic apelando à “imediata descalada e regresso ao diálogo”, cita a BBC.

A tensão no problemático norte do Kosovo tem crescido ao longo dos últimos meses desde que o primeiro-ministro, Albin Kurti, desencadeou protestos e tumultos na passada primavera ao instalar presidentes de câmara de etnia albanesa em quatro municipalidades de maioria sérvia.

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