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UE prolonga proteção aos refugiados ucranianos, mas vive novo impasse no pacto das migrações

Acolhimento a migrantes que chegam à ilha italiana de Lampedusa
Acolhimento a migrantes que chegam à ilha italiana de Lampedusa
Anadolu Agency/Getty Images

Os 27 Estados-membros concordaram em prolongar, até março de 2025, a proteção temporária a quatro milhões refugiados ucranianos. Continuam sem se entender, porém, quanto às novas regras para gerir o fluxo de refugiados em situações de crise

UE prolonga proteção aos refugiados ucranianos, mas vive novo impasse no pacto das migrações

Susana Frexes

Correspondente em Bruxelas

Há uma peça em falta no Pacto das Migrações da União Europeia (UE). Os governos dos 27 continuam sem chegar a acordo sobre as novas regras e procedimentos para gerir o fluxo de refugiados em situação de crise, semelhante à que a UE viveu em 2015. Esta quinta-feira o entendimento esteve perto, mas falhou. O texto que Espanha achava que ia satisfazer a Alemanha — e garantir a maioria qualificada —, afinal, não convencia Itália.

“Há uma amplíssima maioria de países que estão de acordo”, afirmou o ministro espanhol Fernando Grande-Marlaska Goméz, no final da reunião com os homólogos do Interior e Administração Interna. Atualmente, cabe à presidência espanhola da UE gerir e forjar os acordos legislativos a 27 e negociar com o Parlamento Europeu os textos finais. Está quase. Mas falta o quase. “Estamos muito, muito perto, de conseguir”, diz Grande-Marlaska.

A negociação do Pacto das Migrações está na reta final. A maioria dos regulamentos relativos à migração e asilo já foi fechada do lado do Conselho (governos dos 27) e está a ser negociada com o Parlamento Europeu. Porém, falta o regulamento sobre a gestão de crise. Para pressionar os Estados-membros a entenderem-se sobre este último ponto, os eurodeputados decidiram suspender as negociações de outras partes do Pacto das Migrações que estavam avançadas. Por enquanto, ainda não surtiu efeito.

Grande-Marlaska acredita que “nos próximos dias” seja possível alcançar a maioria qualificada de países. Em cima da mesa estão questões tão diversas e controversas como o prolongamento dos prazos para registar e responder aos pedidos de asilo em situação de crise, ou seja, em situação de entrada ilegal em massa e caótica em solo europeu — por exemplo, em Itália ou Grécia.

A Alemanha, por pressão dos Verdes, tem argumentado que o prolongamento dos prazos que proposto põe em causa os direitos dos migrantes e requerentes de asilo. O receio é de que os migrantes fiquem vários meses detidos à espera de ver o seu processo resolvido, seja para a atribuição do estatuto de refugiado, seja para serem reenviados para o país de origem.

“A nossa expectativa é que seja possível ultrapassar os aspetos que ainda dividem alguns Estados-membros e que esse acordo possa ser alcançado o mais rapidamente possível”, afirmou, em Bruxelas, a secretária de Estado da Igualdade e Migrações portuguesa. Isabel Almeida Rodrigues considera que “o vazio [legal] que existe atualmente não é sustentável” e “não dá garantia de condições de dignidade” aos que entram na UE, mesmo que ilegalmente.

A pressão é grande para que o novo Pacto para as Migrações e Asilo fique concluído até às eleições europeias de 9 de junho. “Continuo a acreditar que antes das europeias vai ser possível termos um acordo”, diz a governante.

Proteção temporária prolongada para ucranianos

Menos controversa é a proteção temporária atribuída aos que fogem da guerra desencadeada pela Rússia. Os ministros validaram esta quinta-feira o prolongamento dessa proteção até março de 2025, dando garantias aos mais de quatro milhões de refugiados ucranianos que vivem atualmente na UE.

“A UE apoiará o povo ucraniano pelo tempo que for necessário”, repetiu o ministro do Interior espanhol, que está em funções de gestão enquanto o país resolve que Governo empossar após as legislativas de 23 de julho. O entendimento político foi alcançado por unanimidade.

Este mecanismo de proteção temporária está em vigor desde março de 2022 e dá às pessoas que fogem da guerra na Ucrânia direito a residirem na UE, acesso a habitação, ao mercado de trabalho assistência médica e educação.

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