Uma explosão de minas matou esta terça-feira quatro polícias do Azerbaijão e dois civis em Nagorno-Karabakh, um enclave de população arménia que Baku quer integrar no seu território oficial, anunciaram os serviços de segurança azeris, que atribuíram a responsabilidade pelas mortes a separatistas arménios. Baku já anunciou ter lançado “operações antiterroristas” contra as forças arménias em Nagorno-Karabakh.
O Ministério da Defesa, citado pela agência France Press (AFP), referiu que as posições das forças arménias estavam "a ser desativadas com armas de alta precisão na linha de frente e em profundidade". Um jornalista dessa mesma agência disse ter ouvido detonações em Stepanakert, a capital do enclave. O deputado arménio Tigran Abrahamian afirmou nas redes sociais que o Azerbaijão “abriu fogo contra várias posições militares” em Nagorno-Karabakh, mas o seu Governo já veio sublinhar que a Arménia não tem forças militares no enclave. “O Ministério da Defesa da Arménia declarou repetidamente, e declara mais uma vez, que a Arménia não tem exército no Nagorno-Karabakh", disse o ministério numa declaração no Telegram.
As seis pessoas morreram quando os veículos em que viajavam foram atingidos por minas numa estrada entre Shusha e Fizuli, duas cidades de Nagorno-Karabakh sob controlo do Azerbaijão. Os polícias azeris foram mortos num túnel do distrito de Khojavend, quando se dirigiam para o local da explosão de uma mina antitanque que tinha atingido pouco antes o veículo dos dois civis na mesma zona. Os dois civis eram funcionários da Agência de Estradas do Azerbaijão, disseram os serviços de segurança de Baku, citados AFP. Os serviços de segurança do Azerbaijão acusaram sabotadores separatistas arménios de terem colocado as minas.
Nagorno-Karabakh, uma região montanhosa do Azerbaijão de maioria arménia, declarou a independência de Baku na sequência da desintegração da União Soviética, em 1991.
A declaração da independência, apoiada pela Arménia, desencadeou um conflito armado que os arménio venceram, conquistado até partes de território azeri. Mais de 30 anos depois, e com vários conflitos de menor dimensão pelo meio, em setembro de 2020, as forças armadas do Azerbaijão reconquistaram dois terços do território, situado no sul do Cáucaso.
Os incidentes desta terça-feira ocorrem numa altura em que foi dado um passo no sentido de aliviar as tensões em Nagorno-Karabakh, com a chegada de ajuda humanitária à região secessionista, que há vários meses vinha acusando o Azerbeijão de cortar o abastecimento de comida e bens essenciais à região, que chega pelo estada de Latchine, um corredor que liga Nagorno-Karabakh à Arménia.
O Azerbaijão disse ter informado a Rússia e a Turquia da operação em Nagorno-Karabakh, as duas potências com mais influência na região que têm estado de lados diferentes do conflito. Neste caso, a Rússia prometeu já apoiar os arménio, caso estes sofressem ataques por parte do Azerbaijão. No entanto, os arménios de Nagorno-Karabahk queixam-se da inoperância das forças russas de manutenção de paz, enviadas para a região depois do cessar-fogo mediado por Moscovo após a guerra de 2020.
Baku anunciou que a estrada de Latchine vai ser aberta para que os civis arménios que desejem fugir o possam fazer, mas não é certo que haja muitas pessoas a aceitar a oferta uma vez que os arménio residentes em Nagorno-Karabakh vêm estes gestos como uma forma de Baku enfraquecer a presença arménia no enclave, para mais facilmente conseguir a sua absorção para dentro de território azeri. A comunidade internacional, incluindo a Arménia, reconhece que o enclave é, de facto, parte do Azerbaijão. Quem se nega a aceitar isso é mesmo o povo de Nagorno-Karabakh que vê aquele território como república independente. “A fim de permitir a saída da população da zona perigosa, foram criados corredores humanitários e pontos de receção na estrada de Latchine e noutras direções”, disse o Ministério da Defesa azeri num comunicado.
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