Internacional

Aung San Suu Kyi recebe perdão parcial, mas permanece em prisão domiciliária

Imagem de Aung San Suu Kyi exibida durante protestos de trabalhadores birmaneses exilados na Tailândia
Imagem de Aung San Suu Kyi exibida durante protestos de trabalhadores birmaneses exilados na Tailândia
Peerapon Boonyakiat/SOPA Images/LightRocket/Getty Images

Antiga governante e figura de proa do movimento democrático de Mianmar vê cair cinco dos dezanove crimes pelos quais foi condenada, e que nega. Perdão tem motivos religiosos e não implica a sua libertação

Aung San Suu Kyi recebe perdão parcial, mas permanece em prisão domiciliária

Pedro Cordeiro

Editor da Secção Internacional

A junta militar que governa Mianmar (antiga Birmânia) perdoou parte dos crimes pelos quais a antiga governante Aung Saan Suu Kyi está presa. Em causa estão cinco das 19 condenações de que foi alvo, noticia a agência Reuters, esta terça-feira, citando o canal público local Myawaddy TV News. A política encontra-se em prisão domiciliária na capital do país, Naypyidaw.

O gesto da ditadura enquadra-se numa amnistia que afeta mais de 7000 reclusos, por ocasião da quaresma budista, explica a France Presse. “O presidente do Conselho de Administração do Estado agraciou Daw Aung San Suu Kyi, que foi condenada pelos tribunais competentes, ao abrigo da lei dos direitos humanos”, anunciou o noticiário em causa.

Condenada a 33 anos de cadeia na sequência do golpe de Estado de 2021, que destituiu o seu Governo, a Nobel da Paz de 1991 — de 78 anos — foi acusada pelo regime ditatorial de crimes como corrupção, incitamento ao ódio e fraude eleitoral, além de posse ilegal de walkie-talkies e violação das restrições na pandemia. Recorreu da sentença e proclama a sua inocência.

Organizações de defesa dos direitos humanos e da democracia consideram o seu julgamento politicamente motivado. Na semana passada a junta fizera mover Suu Kyi da prisão para a sua casa, sem alterar a pena. “Não ficará livre de prisão domiciliária”, afirmou fonte do regime à Reuters. Desde o golpe militar, só foi vista em imagens de fraca qualidade, no tribunal.

A mulher a quem os birmaneses chamam “a Dama” é filha de Aung San, herói da independência da antiga colónia britânica. Nas últimas décadas passou mais tempo encarcerada do que em liberdade. A primeira detenção deu-se em 1989, por se manifestar contra a ditadura militar de então. Laureada com o Nobel passados dois anos, e com vitória nas urnas da sua Liga Nacional pela Democracia entrementes, ficaria presa em casa até 2010.

Em 2015, numa tímida tentativa de democratizar Mianmar, houve eleições que o seu partido venceu por larga margem, embora parte do Parlamento permanecesse reservada a militares. Suu Kyi tornou-se primeira-ministra, embora oficialmente não pudesse ostentar tal título, por os seus filhos terem nacionalidade britânica, herdada do pai, além de birmanesa. Suu Kyi foi casada com Michael Aris entre 1972 e a morte desde, em 1999. Não foi ao seu funeral, em Inglaterra, por temer que não a deixassem voltar a entrar em Mianmar.

O levantamento de há dois anos gerou um conflito nacional, com protestos contra a junta militar e deslocamento forçado de mais de um milhão de pessoas. Os mais afetados são os da etnia muçulmana rohyngia, a quem o país não reconhece cidadania nem direitos. A própria Suu Kyi foi criticada internacionalmente por não assumir a defesa desse povo, alvo de genocídio.

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