Internacional

Submarino Titan: operação de salvamento entra em "fase crítica" quando já passaram 96 horas desde o desaparecimento

Submarino Titan: operação de salvamento entra em "fase crítica" quando já passaram 96 horas desde o desaparecimento
US COAST GUARD HANDOUT

O oxigénio poderá ter-se já esgotado dentro do submersível que desapareceu quando seguia em direção aos destroços do Titanic. Os esforços de procura pelo submarino Titan foram reforçados e redirecionados para a zona onde se detetaram sons subaquáticos

Submarino Titan: operação de salvamento entra em "fase crítica" quando já passaram 96 horas desde o desaparecimento

Salomé Fernandes

Jornalista da secção internacional

Mantém-se a corrida contra o tempo para encontrar Titan, o submarino que desapareceu no oceano Atlântico com cinco pessoas a bordo. As operações de busca decorrem na zona em que foram detetados sons subaquáticos.

“Foram detetados sons subaquáticos na zona de busca, resultando no redirecionamento das operações dos veículos operados remotamente para explorar a origem. Estas gravações foram partilhadas com a Marinha dos Estados Unidos para ajudar a guiar os próximos esforços de procura”, disse a guarda costeira americana em comunicado.

Há mais equipamento envolvido na procura do Titan, numa altura em que se estima que os passageiros possam estar já privados de, ou com muito pouco, oxigénio: informações avançadas na tarde de quarta-feira apontavam para menos de 20 horas de oxigénio disponível no interior da cápsula. A Reuters indicava que perante o ritmo de perda de oxigénio previsto, os tanques deveriam ficar esgotados na manhã desta quinta-feira - mas os especialistas remetem o tempo real da sua duração para fatores como a energia do submarino e a tranquilidade dos tripulantes.

Em declarações à BBC, um especialista em medicina hiperbárica, Ken LeDez, disse que, dependendo das condições, alguns dos tripulantes podem sobreviver mais tempo do que o esperado, dado que a perda de oxigénio é um processo gradual. “Depende de quão frios estão e de quão eficientes são a conservar oxigénio”, afirmou. Os tripulantes enfrentam ainda outros riscos. LeDez observou que em caso de perda de eletricidade, o controlo da quantidade de dióxido de carbono no interior do veículo pode ser afetado.

A Lusa dá conta de que a guarda costeira americana se mantém “otimista” apesar de elementos das equipas de socorro estimarem que os passageiros podem ficar rapidamente sem oxigénio, dado que teoricamente, a autonomia do submergível é de 96 horas debaixo de água. “É preciso manter o otimismo e ter esperança”, disse esta quinta-feira o capitão de um navio da guarda-costeira norte-americana, Jamie Frederick.

Que sons foram captados e o que significam?

Foram detetados sons subaquáticos na zona de busca na terça e na quarta-feira. No programa ‘Good Morning Britain’, o explorador do fundo do mar David Gallo disse que os ruídos ouvidos são repetitivos, a cada meia hora, e que “as suas esperanças estão altas”. “Aparentemente ainda duram. Não há muitas coisas no mundo natural em que possamos pensar que fizesse isso a cada ciclo de 30 minutos. Neste momento temos de assumir que é o submarino e movermo-nos rapidamente para aquele local”, disse. No entanto, Gallo acrescentou que as operações devem ir preparadas porque a partir do momento em que o Titan for encontrado, o resgate do submarino até à superfície deverá demorar horas.

Apesar do relato de Gallo, de momento não há certezas sobre o significado destes sons. A guarda costeira Americana disse anteriormente que há uma equipa de especialistas a examinar os sons para determinar se são do Titan, mas que os resultados eram “inconclusivos”, escreveu o jornal ‘The Telegraph’. O jornal descreve que Matt Dzieciuch, um especialista de acústica oceânica no ‘Scripps Institution of Oceanography’, disse que “não é uma questão simples” determinar o seu significado, dado que o oceano “é um local barulhento”.

Quem está a bordo?

Há cinco tripulantes a bordo do submersível que desapareceu quando as transportava em turismo até junto dos destroços do Titanic. O ‘Washington Post” e a CBS News traçam o perfil dos homens que estão no Titan.

Stockton Rush – é o piloto do submersível e o fundador e CEO do OceanGate Expeditions, a empresa proprietária do Titan que estava a organizar a expedição. Tem uma licenciatura em engenharia aeroespacial da Universidade de Princeton.

Hamish Harding – o piloto britânico e empresário da aviação já obteve recordes mundiais por viagens ao fundo do mar. Antes de se voltar a aventurar, há quatro dias, escreveu na rede social Instagram que ia participar na expedição. “Devido ao pior inverno em Newfoundland em 40 anos, esta missão é provavelmente a primeira e única missão tripulada ao Titanic em 2023”, escreveu. O seu interesse alarga-se ao espaço: no ano passado participou no voo Blue Origin do projeto fundado por Jeff Bezos.

Paul-Henri Nargeolet – o comandante reformado da marinha francesa, de 77 anos, é um especialista com mais de 35 mergulhos aos destroços do Titanic. Segundo a Reuters, o editor de Nargeolet na Harper Collins, Mathieu Johann, disse que o especialista tinha trazido mais de cinco mil objetos do Titanic para a superfície, incluindo pertences pessoais dos passageiros, como cartas. Durante as duas décadas que passou na marinha francesa foi piloto de submarinos, capitão de navios e mergulhador.

Shahzada e Suleman Dawood – O bilionário britânico-paquistanês de 48 anos e o seu filho Suleman, que tem 19 anos, também se encontram na expedição. Shahzada Dawood é vice-diretor do conglomerado Engro Corpo., dirige a Fundação Dawood, da família. Tem também ligação ao instituto SETI, uma organização com sede na Califórnia que procura por vida extraterrestre.

Um gráfico da Guarda Costeira dos Estados Unidos apresenta uma explicação visual dos padrões de busca durante as operações que estão a decorrer para encontrar o submersível Titan
PETTY OFFICER 3RD CLASS BRIANA CARTER / HANDOUT

Qual o nível de segurança do submersível?

A Reuters escreveu que em 2018 foram levantadas preocupações com a segurança do submersível que está desaparecido. Especialistas da indústria e um funcionário criticaram a opção da OceanGate em não certificar o Titan através de uma terceira entidade, como o Gabinete Americano de Navegação ou o grupo europeu DNV. Will Kohnen, presidente da Marine Technology Society's escreveu nesse ano uma carta ao CEO da OceanGate – Stockton Rush – que é um dos tripulantes do submersível.

“A nossa apreensão é que a atual abordagem experimental adotada pela OceanGate pode ter resultados negativos (de menores a catastróficos) que teriam sérias consequências para todos na indústria”, dizia a carta.

Além disso, surgiram alertas de um antigo trabalhador da empresa. David Lochridge, quando era diretor das operações marítimas da OceanGate, levantou preocupações num relatório de inspeção. A BBC escreve que foram destacados “potenciais perigos” enfrentados pelos passageiros quando o submersível chegava a maior profundidade e que, de acordo com documentos de um tribunal, Lochridge dizia que os seus avisos foram ignorados e que foi despedido.

A empresa tem um comunicado de fevereiro de 2019 no seu website em que justifica porque é que o submersível não é certificado, dando a entender que envolver uma terceira entidade no processo iria colocar em risco a rapidez da inovação. E frisou que isso não significava falta de segurança.

“A grande maioria de acidentes marítimos (e de aviação) são um resultado de erros de operação, não falha mecânica. Em resultado disso, um foco apenas na classificação do veículo não responde aos riscos operacionais. Manter segurança operacional de alto nível requer um esforço constante e comprometido e uma cultura corporativa focada – duas coisas que a OceanGate leva muito a sério e que não são avaliadas durante a classificação”, escreveu.

A BBC ouviu o biólogo marinho e oceanógrafo David Mearns, que defende que o incidente deve ser uma aprendizagem para a indústria e que deve haver uma investigação. “Não podemos deixar que este tipo de coisas aconteça, e a minha indústria precisa de olhar para si e refletir sobre levar passageiros a tais localizações remotas e a tão grande profundidade porque se as coisas correm mal, há muito muito poucas opções”, disse, acrescentando que a falta de certificação do Titan é “um motivo de preocupação”.

Os meios envolvidos nas operações

Na segunda-feira foram enviados navios e aeronaves dos Estados Unidos e do Canadá nos esforços de busca. Mas com a passagem do tempo têm sido alocados mais equipamentos à procura do Titan.

Foi anunciado que se iam juntar às buscas os navios Ann Harvey e Terry Fox, do Canadá. Também o navio canadiano Ship Glace Bay estava a caminho, com uma equipa médica e equipado com uma câmara de descompressão móvel. As câmaras hiperbáricas são usadas para tratamento de pessoas que foram afetadas por mudanças de pressão, por exemplo em acidentes de mergulho.

Estão ainda mobilizados veículos subaquáticos operados remotamente (ROV). Estima-se que o robot francês Victor 6000 já esteja na zona das buscas. Operado à distância, com dois braços afixados que permitem cortar cabos e realizar outras manobras, é visto como uma das melhores vias para encontrar o veículo perdido. “Colocaria a minha maior esperança no Victor 6000 no Atalante”, disse ao Telegraph o professor Alistair Greig, da University College London.

O ‘The Guardian’ refere a presença de um sistema de elevação – com o objetivo de içar o Titan – que pode ser usado para recuperar objetos do fundo do oceano a quase seis mil metros de profundidade. Tem a capacidade de levantar até 27 mil quilos.

Que submarino é este?

De acordo com os dados da OceanGate, o Titan é desenhado para transportar cinco pessoas a profundidades de cerca de quatro mil metros. Com materiais como titânio e fibra de carbono, pesa 10.432 kg. Um sistema de monitorização integrado permite analisar os efeitos da mudança da pressão na integridade da estrutura – algo que teoricamente apresenta “sinais de aviso que dão ao piloto tempo suficiente para interromper a descida e regressar em segurança à superfície”. A BBC explica que é manobrado através de um comando de videojogos adaptado.

Artigo atualizado às 13h42

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate