Internacional

"Vitória": a palavra escolhida pela comunidade ucraniana em Roma para receber Zelensky

"Vitória": a palavra escolhida pela comunidade ucraniana em Roma para receber Zelensky
Antonio Masiello

O Papa só recebe Zelensky à tarde, mas no Quirinal, residência oficial do presidente de Itália, Mattarella declarou: “estamos ao seu lado” e a Alemanha pode ser a próxima etapa

Nas ruas, “Vitória” foi a palavra proclamada pela comunidade ucraniana residente em Roma, para receber o presidente Zelensky, que teve honras militares. “Ucrânia, Ucrânia, vitória”, foram gritando os ucranianos à passagem da comitiva oficial a caminho do Palácio do Quirinal, residência oficial do presidente de Itália.

“Esperávamos poder encontrá-lo, mas percebemos que não foi possível por motivos de segurança”, diz Oles Horodetskyy, presidente da Associação Cristã dos Ucranianos em Itália, citado pelo jornal Corriere della Sera.

No Quirinal, onde cumpriu a primeira etapa de uma visita oficial rodeada de fortes medidas de segurança que inclui um encontro com o Papa, no Vaticano, mas também reuniões políticas, foi hasteada a bandeira da Ucrânia e tocado o hino do país, Volodymyr Zelensky foi recebido por Sergio Mattarella com um aperto de mão e uma declaração de apoio: “É uma honra para Itália tê-lo aqui em Roma (…) estamos ao seu lado”

Recebido à sua chegada a Roma pelo ministro italiano dos Negócios Estrangeiros, mas sem divulgar a agenda exata do dia, por razões de segurança, Zelensky seguiu do Quirinal para o Palácio Chigi, para um almoço de trabalho com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que tem proporcionado ajuda militar à Ucrânia. Quanto ao Vaticano, apenas confirmou uma reunião papal pouco antes da chegada a Roma do presidente da Ucrânia e, de acordo com a imprensa italiana, este encontro deverá ocorrer depois pelas 15h00.

Apelo às armas para a paz

A televisão estatal italiana noticiou que, no âmbito das medidas de segurança, foi aberta uma zona de exclusão aérea nos céus italianos e atiradores de elite da polícia foram colocados estrategicamente em edifícios altos.

Do lado ucraniano, Mykhailo Podolyak, conselheiro de Zelensky aproveitou o momento para deixar na sua conta do Twitter mais um apelo às armas: “Dar armas à Ucrânia conduz à paz”, afirmou o conselheiro, convicto de que os apoios militares indicam que “a guerra pode acabar, a Federação Russa esta condenada a uma vergonha histórica”

Ainda na sexta-feira, o governo alemão anunciou um novo plano de ajuda militar à Ucrânia no valor de 2,7 mil milhões de euros que inclui a entrega de tanques, veículos blindados e sistemas de defesa antiaérea.

“Todos desejamos o fim desta guerra atroz da Rússia contra o povo ucraniano, mas infelizmente [esse fim] não está à vista. É por isso que a Alemanha vai prestar toda a ajuda possível durante o tempo que for necessário”, afirmou o ministro da Defesa, Boris Pistorius, a justificar este pacote de apoio, o maior desde o início da invasão russa, a 24 de fevereiro de 2022, garante o semanário Der Spiegel.

Alemanha na agenda de domingo

E, de acordo com a impresa alemã, Zelensky pode seguir diretamente de Itália para a Alemanha, para encontrar dirigentes do país e receber o Prémio Europeu Carlos Magno, no domingo, mas Berlim ainda não confirmou oficialmente esta notícia.

Mas com passagem pela Alemanha ou não, o momento mais mediático desta deslocação de Zelensky continua a ser o encontro com o Papa Francisco que fala frequentemente do "martirizado" povo da Ucrânia.

No final de abril, no regresso de uma viagem à Hungria, Francisco adiantou que o Vaticano estava envolvido numa missão de paz, sem dar mais pormenores e nem a Rússia, nem a Ucrânia confirmaram qualquer iniciativa de paz por parte do Vaticano.

Antes destes encontros, o Presidente ucraniano fez questão de sublinhar a importância da visita à Itália para a vitória da Ucrânia na guerra contra a invasão russa nas redes sociais: “Hoje, em Roma, vou reunir-me com o Presidente de Itália, Sergio Mattarella, com a primeira-ministra, Giorgia Meloni, e com o Papa. Uma importante visita para a vitória de Ucrânia”, escreveu.

Já o Papa, aproveitou um encontro com os novos embaixadores no Vaticano, horas antes de receber Volodymyr Zelensky para afirmar que a “neutralidade” do Santo Padre permite “contribuir melhor para a resolução de conflitos”.

“Neutralidade ética” do Vaticano

"O Santo Padre, de acordo com a sua própria natureza e particular missão compromete-se a proteger a dignidade inviolável de todas as pessoas, a promover o bem comum e a promover a fraternidade humana entre todos os povos", afirmou o pontífice aos novos embaixadores da Islândia, Bangladesh, Síria, Gâmbia e Cazaquistão.

Francisco explicou que "estes esforços, que não implicam a persecução de fins políticos, comerciais ou militares, são alcançados mediante o exercício da neutralidade positiva".

E "longe de ser uma 'neutralidade ética', sobretudo perante o sofrimento humano, tal confere ao Santo Padre uma posição bem definida na comunidade internacional que lhe permite contribuir melhor para a resolução de conflitos e outras questões", enfatizou.

No seu discurso, Francisco mencionou alguns dos conflitos mais dramáticos do mundo, como o "Sudão, a República Democrática do Congo, Myanmar, Líbano e Israel", e referiu-se à "guerra em curso na Ucrânia, que trouxe sofrimento e mortes indescritíveis".

Há cerca de três dias, o secretário de Estado do Vaticano, o cardial Pietro Parolin, considerou que a missão para deter a guerra na Ucrânia, anunciada pelo Papa Francisco, "seguirá em frente” e revelou haver “novidades”, e "caráter privado".

Este será o primeiro encontro entre o Papa e Zelensky desde que começou a guerra, embora Francisco já conheça o presidente ucraniano. Recebeu-o numa audiência em 08 de fevereiro de 2020 e, já nessa altura, foi abordada “a situação humanitária e a procura pela paz” no contexto “do conflito que, desde 2014, continua a afetar a Ucrânia”.

O Papa recebeu, a 27 de abril, o primeiro-ministro da Ucrânia, Denys Shmyhal, que insistiu em convida-lo a visitar a Ucrânia e pediu ajuda no regresso das crianças ucranianas levadas à força para a Rússia.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: piquete@expresso.impresa.pt

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas