Internacional

Erdogan reapareceu na campanha às Presidenciais após problema de saúde. Foi recebido por um mar de gente, mas a Turquia ainda está dividida

Erdogan, em Istambul
Erdogan, em Istambul
dia images

No poder desde 2003, Erdogan enfrentará em maio um dos maiores testes à sua popularidade. Mas, neste fim-de-semana, quando voltou às aparições públicas, depois de ter estado doente, multidões esperavam-no

O Presidente turco apareceu em público pela primeira vez em três dias, depois de ter sido anunciado que sofreu uma infeção gastrointestinal que o manteve afastado da campanha para as eleições presidenciais, marcadas para 14 de maio. De acordo com a Aljazeera, Recep Tayyip Erdogan chegou à cidade portuária de Izmir - terceira maior província da Turquia em número de habitantes (e, portanto, de eleitores), no oeste do país, situada na costa do mar Egeu, e há muito um reduto do Partido Republicano do Povo - e foi recebido por um mar de bandeiras e uma multidão que o aguardava.

O Presidente turco, de 69 anos, sentiu-se mal na terça-feira, durante uma transmissão televisiva que teve de ser interrompida, tendo então justificado o mal-estar com um problema gastrointestinal. (O líder turco já tinha sido operado ao estômago anteriormente.) O ministro da Saúde da Turquia, Fahrettin Koca, garante que Erdogan teve uma gastroenterite e que o problema do sistema digestivo é facilmente tratado, desaparecendo geralmente em poucos dias. Mas o afastamento de Erdogan da campanha pode ter-lhe retirado impulso na corrida às presidenciais, que ocorrerão dentro de duas semanas.

No dia do seu reaparecimento, contudo, Erdogan falou por quase 40 minutos. O discurso ficou marcado pelas palavras trocistas dirigidas à oposição e pela argumentação de que será o único capaz de fazer a Turquia crescer.

Neste fim-de-semana em que votam os turcos que vivem no exterior, Recep Tayyip Erdogan contou com uma multidão fervorosa em Izmir, primeiro, e em Istambul, depois. No sábado, Erdogan subiu ao palco de um festival de aviação em Istambul e atirou flores aos apoiantes que agitavam bandeiras. O Presidente turco chegou ao evento com o seu aliado próximo, o Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, e o primeiro-ministro da Líbia, Abdul Hamid Dbeibah. Depois, foi a vez de Ancara. No Jardim Público da capital, Erdogan aludiu às vitórias de mais de duas décadas de liderança e aos sinais entusiásticos da população. "Tivemos uma multidão semelhante em Izmir ontem, e acho que este é um bom indício para 14 de maio", disse Erdogan neste domingo. O líder turco contestou a promessa do seu mais bem posicionado adversário, de oferecer "melhores serviços" nas grandes cidades, incluindo Ancara, Izmir e Istambul. "Eu pergunto-me o que estiveram eles a fazer nos últimos anos", disse, referindo-se aos autarcas que comandam as três grandes cidades.

Depois de 20 anos no poder (como Presidente e primeiro-ministro), Recep Tayyip Erdogan prepara-se para enfrentar aquele que tem sido descrito como o seu maior desafio político. Kemal Kilicdaroglu, um candidato republicano apoiado por uma aliança de seis partidos, é o rival mais bem posicionado na corrida. As sondagens apontam que terá uma ligeira vantagem sobre Erdogan. Alguns analistas referem a inflação, já em torno dos 50%, como um dos fatores que poderão penalizar Erdogan nas urnas. Outros comentadores apontam que Erdogan tem desenvolvido políticas económicas pouco ortodoxas. Uma parte da população considera que o atual líder turco falhou nas respostas apresentadas à crise causada pelo sismo de fevereiro, que matou 50 mil pessoas. Por isso, os analistas acreditam que o Partido da Justiça e Desenvolvimento, de Erdogan, e os seus aliados nacionalistas poderão mesmo perder o controlo do Parlamento, depois de derrotas em eleições locais em Istambul e Ancara.

O seu legado mais recente é ainda composto pela ideologia conservadora relacionada com os papéis de género, o que é atribuído às crenças islâmicas de Erdogan. Desde que assumiu o poder, cerca de 20 mil mesquitas foram construídas na Turquia. Em Izmir, neste fim-de-semana, Erdogan voltou, aliás, a invocar a tradição familiar “sólida” do país para defender que “não há pessoas LGBTQIA+ na nação”.

À escala internacional, Erdogan tem conseguido somar inimizades, ao se imiscuir nos conflitos na Síria e no Iraque, ao manter uma aparente neutralidade em relação a Vladimir Putin e ao oferecer resistência à adesão da Suécia à NATO.

Outro ponto de viragem pode ter ocorrido na sexta-feira, analisa o jornal “The Guardian”. O Partido Democrático do Povo (pró-curdo), – cujo líder, Selahattin Demirtaş, foi preso há sete anos por acusações de terrorismo – decidiu apoiar a aliança da oposição. Os curdos representam cerca de um quinto dos 85 milhões de habitantes da Turquia. Nas eleições anteriores, o partido pró-curdo, que Erdogan quer proibir, atraiu cerca de 10% dos votos nacionais.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: piquete@expresso.impresa.pt

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas