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Erdogan sente-se mal durante um direto televisivo e cancela eventos de campanha na eleição mais difícil da sua carreira

Kemal Kilicdaroglu é a escolha dos partidos da oposição turca para as eleições presidenciais de 14 de maio
Kemal Kilicdaroglu é a escolha dos partidos da oposição turca para as eleições presidenciais de 14 de maio
Burak Kara/Getty Images

Recep Tayyip Erdogan quer liderar a Turquia num derradeiro mandato, mas as sondagens mostram uma proximidade tal entre as duas coligações principais que nenhum líder pode permitir-se um momento de descanso. Erdogan, porém, parece estar a precisar exatamente disso. Depois de uma má disposição atribuída a problemas de estômago, o atual Presidente turco viu-se obrigado a cancelar os eventos de campanha nos últimos dois dias

Erdogan sente-se mal durante um direto televisivo e cancela eventos de campanha na eleição mais difícil da sua carreira

Ana França

Jornalista da secção Internacional

O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que anda em intensa campanha por uma reeleição que ninguém lhe dá como certa, cancelou a sua agenda para esta quinta-feira, já depois de também ter adiado os comícios previstos para quarta-feira.

A especulação de que Erdogan teria sofrido um ataque cardíaco durante uma entrevista em direto na televisão, a pouco mais de 15 dias daquela que será a mais difícil eleição da sua carreira, não demorou a inundar as redes sociais. No entanto, os assessores do Presidente recorreram ao Twitter para condenar a “desinformação sem qualquer base factual”.

Erdogan tinha previsto visitar algumas cidades na região central da Anatólia esta quarta-feira. Para quinta-feira estava marcada a inauguração da primeira central nuclear do país, em Akkuyu, na costa do Mediterrâneo. Os quatro reatores são património da empresa russa Rosatom, e Vladimir Putin, Presidente da Rússia, vai marcar presença através de uma ligação por vídeo, tal como o próprio Erdogan, que continua em repouso, mediante ordens médicas.

Não é a primeira vez que o Presidente turco, de 69 anos, é obrigado a cancelar eventos por questões de saúde, nem sequer é a primeira vez que se sente mal durante uma entrevista. Também já foi operado duas vezes, em 2010 e 2011, por problemas igualmente relacionados com o aparelho digestivo. A emissão da entrevista desta terça-feira foi cortada quando a expressão assustada de um dos jornalistas que estavam a entrevistar o Presidente deu a entender que algo de grave se passava com Erdogan. Mas, pouco depois, o próprio veio explicar que estava a sofrer uma “forte intoxicação alimentar”, e que isto são “coisas que acontecem quando se tem um calendário de trabalho tão preenchido.

A República turca está a celebrar o seu 100º aniversário este ano, e estas eleições presidenciais (e parlamentares, ao mesmo tempo) estão a ser consideradas como as mais importantes da história democrática do país. A fragilidade de Erdogan, que há 21 anos lidera a política turca, pode ser um fator decisivo.

Kemal Kilicdaroglu, principal opositor de Erdogan em 2023
UMIT BEKTAS/Reuters

A votação acontece cerca de três meses depois de um terremoto fortíssimo ter destruído parte do sudeste do país, onde fez mais de 50 mil vítimas mortais. A crise económica e financeira continua, com a lira turca em perdas de cerca de 30% em relação ao dólar em 2022 e a inflação a afetar uma grande parte das famílias que há um ano viviam relativamente confortáveis.

Erdogan vai enfrentar nas urnas o líder do Partido Republicano do Povo (CHP) Kemal Kilicdaroglu. Os pró-curdos do Partido Democrático do Povo (HDP) já anunciaram que não vão apresentar um candidato próprio, o que, segundo os analistas, tenderá a levar ainda mais votos de Erdogan para Kilicdaroglu.

O atual Presidente é considerado pelo povo curdo como o principal carrasco dos seus direitos mais básicos, e o CHP pode ganhar muitos votos nestas alas mais enraivecidas com as leis repressivas que Erdogan foi implantado ao longo dos anos. Kilicdaroglu, que representa o bloco de oposição de seis partidos, o Aliança Nacional, é, por outro lado, visto com muito maus olhos pelos refugiados sírios: já defendeu conversações com o regime do Presidente da Síria, Bashar al-Assad, para fazer regressar os mais de três milhões de cidadãos sírios que vivem na Turquia.

Um conjunto de 11 sondagens, analisadas pela EuroNews, dão a Erdogan e à sua coligação cerca de 32% das intenções de voto. A “Aliança Nacional” de Kilicdaroglu segue pouco atrás, a tocar nos 28%.

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