Bulgária vota este domingo. É a quinta vez em dois anos. Será um referendo entre Leste e Oeste?
Boïko Borissov num poster rasgado em Sofia, durante a campanha eleitoral de 2013
DIMITAR DILKOFF
Mais de 5.600 candidatos, em representação de 14 partidos políticos e sete coligações partidárias, estão inscritos para as eleições legislativas naquele que é o país mais pobre da União Europeia, e em que o sentimento pró-russo não é negligencável. Estas são as quintas eleições na Bulgária em dois anos - mas agora há uma guerra na Europa
Não houve uma maioria nas últimas quatro legislativas e as sondagens mostram que ainda não será desta vez. Os principais nomes destas eleições são os mesmos que concorreram nas anteriores, dois ex-primeiros-ministros: Boyko Borisov, do partido GERB - Cidadãos para o Desenvolvimento Europeu da Bulgária -, conotado com políticas populistas e protecionistas, e Kiril Petkov, de centro, do PP - Continuamos a mudança.
Desta vez, porém, Petkov decidiu aliar-se a uma força de direita, o Bulgária Democrática. Ambas as forças políticas estão perto dos 25% de intenções de voto. Porém, há outros dois partidos que têm merecido atenção dos analistas, nesta eleição que pode revelar-se uma espécie de termómetro para aferir a intensidade do sentimento pró-russo na Bulgária: os nacionalistas e os socialistas, ambos próximos de Moscovo, sem fazerem um segredo disso. O próprio Presidente, Rumen Radev, têm mantido o país firmemente afastado dos planos europeus de envio de armas para a Ucrânia.
Demissões só acontecerem depois do primeiro-ministro búlgaro Boyko Borissov ter apelado aos três ministros para assumirem a responsabilidade política no acidente
Anadolu Agency/GETTY
O jornal online “E-Vestnik” elege mesmo o apoio ou repúdio à campanha militar de Vladimir Putin na Ucrânia como o tema principal destas eleições, isto num país que fez parte da URSS e continua a manter uma identificação cultural acentuada com Moscovo.
Há um ano, as preocupações eram outras, eram as de sempre. Mas a guerra mudou tudo. “A questão da remoção de Borisov, que ainda controla boa parte dos organismos do Estado, passou para segundo plano, em comparação com as eleições anteriores. As sondagens mostram que pelo menos 20% dos eleitores vão votar em forças que estão claramente ao lado de Vladimir Putin: o partido nacionalista Vazrazhdane e o comunista pró-Rússia. Ambos querem separar a Bulgária da UE e na NATO”. Neste ambiente de “alta tensão”, vaticina o jornal, “ninguém confia em ninguém”.
A Bulgária tem dois grandes problemas: a pobreza e a corrupção. É membro da União Europeia e da NATO mas está longe dos indicadores europeus em quase tudo, de escolaridade à liberdade de imprensa. O país assistiu a grandes manifestações anticorrupção há três anos, mas, ao contrário da limpeza na vida pública que esperavam, os búlgaros ficaram presos a um carrossel eleitoral que pode não acabar este domingo.
A participação deve revelar-se baixa - uma mistura de cansaço, desencanto generalizado com os políticos nos boletins e medo. Nos últimos dias, uma onda de ameaças de bomba nas escolas que vão receber as secções de voto tem contribuído para isso. Especialistas em segurança online atribuíram as ameaças a grupos de piratas informáticos ligados à Rússia.
Vessela Tcherneva, vice-diretora do Conselho Europeu de Relações Internacionais e diretora do escritório em Sofia, acredita que desta vez pode ser diferente. “Parece que as pessoas realmente entenderam que este é um momento sério para o país e que esperar mais seis meses por outro governo interino não vai mudar nada, mas sim abrir espaço a agendas de países terceiros na política búlgara”, disse à Al Jazeera. “É hora de se construir um governo normal” na Bulgária, acrescentou.
Já o jornal “Dnevnik”, num editorial, prevê mais instabilidade, porém tenta lembrar aos leitores que o maior poder está do lado do povo. “Desde o início desta campanha eleitoral que nos perguntamos quando será a próxima eleição. Esta questão permanecerá relevante após o dia das eleições e mesmo após a formação de um governo (se for formado). Nesse sentido, o próximo governo será outro governo de transição. Estamos a enfrentar uma crise de representação política. Em última análise temos a hipótese de eleger os nossos representantes e, no domingo, podemos mudar alguma coisa. Depois disso, é a vez dos políticos novamente”.
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