O CEO da rede social TikTok, Shou Zi Chew, foi esta quinta-feira a ser ouvido na Comissão do Comércio e Energia da Câmara dos Representantes.
Durante cerca de cinco horas, as perguntas dos congressistas norte-americanos centram-se sobretudo em questões de cibersegurança e privacidade dos dados, com a proteção da segurança nacional a destacar-se como um dos pontos mais enfatizados. Há muito que este é o foco das principais críticas à aplicação chinesa, que é atualmente a sétima mais popular do mundo.
Em foco estão também as implicações de a plataforma ser propriedade chinesa. Embora o TikTok pertença a uma empresa privada, a ByteDance, ao abrigo da lei, as gigantes tecnológicas podem ser obrigadas a partilhar dados com o governo chinês em nome da “segurança nacional”.
Shou Zi Chew tentou minimizar as críticas, apontando que o TikTok não recolhe mais dados do que qualquer outra plataforma deste tipo. “Estes são dados frequentemente recolhidos por muitas outras empresas no nosso setor”.
E reiterou: "temos o compromisso de ser muito transparentes com os nossos utilizadores sobre o que recolhemos. Não acredito que o que recolhemos seja mais do que a maioria dos participantes do setor."
No entanto, como aponta o New York Times, o tom adotado pelos congressistas nesta audiência é bastante diferente do que aconteceu no passado, quando outros líderes de gigantes tecnológicas como Mark Zuckenberg, foram chamados a testemunhar.
O jornal aponta mesmo que esta audiência parece mesmo ser um ponto de viragem quanto ao escrutínio que as empresas chinesas são sujeitas nos EUA. E neste caso, os legisladores não pareceram sair satisfeitos com as respostas dadas pelo CEO do TikTok.
“Este não foi um dia divertido, bem sei. Também não tem sido um dia divertido para nós”, considerou o republicano Russ Fulcher.
Já o também republicano August Pfluge destacou como Shou Zi Chew conseguiu algo que não acontecia há três ou quatro anos. “Conseguiu unir Republicanos e Democratas. E, mesmo que por apenas um dia, estamos de facto unidos porque temos preocupações sérias.”
Risco para a segurança nacional é “hipotético”, diz TikTok
Entre as primeira intervenções do dia, a líder da comissão, a republicana Cathy McMorris dirigiu-se ao CEO do TikTok. "A vossa plataforma deve ser banida. Antecipo que hoje você dirá qualquer coisa para evitar esse resultado... Não estamos a acreditar nisso. Na verdade, quando vocês comemoram os 150 milhões de utilizadores americanos no TikTok, isso enfatiza a urgência de o Congresso agir. São 150 milhões de americanos sobre os quais o [Partido Comunista Chinês] pode recolher informações confidenciais."
E acrescentou: “não confiamos no TikTok para alguma vez abraçar os valores americanos, os valores de liberdade, de direitos humanos e inovação”.
Em resposta a esta linha de críticas, Shou Zi Chew sublinhou que o TikTok é "a única plataforma" que não aceita anúncios políticos. Por isso, considera que as preocupações expressadas de que o TikTok pode ser utilizado pelo Partido Comunista da China como arma de influência são infundadas.
"Acho que muitos riscos apontados são riscos hipotéticos e teóricos", disse. “Não vi nenhuma evidência. Aguardo ansiosamente discussões em que possamos conversar sobre as provas e então abordar as preocupações que estão a ser levantadas.”
Representantes preocupados com impacto na saúde mental dos mais jovens
Outro dos temas em destaque foi o potencial impacto do TikTok na saúde mental, sobretudo dos jovens (maioria dos utilizadores).
As críticas levantadas pelos congressistas dos dois partidos não são novidade. Foram apontadas preocupações com o facto da plataforma ser vista como demasiado viciante, mas também com o algoritmo que recomenda conteúdo potencialmente perigoso a adolescentes (nomeadamente sobre distúrbios alimentares, atividades perigosas, automutilação e suicídio).
O representante Michael Bilirakis, do Partido Republicano, projetou alguns destes vídeos durante a sessão. Isto quando na audiência estão presentes os pais de um adolescente de 16 anos que se suicidou.
O TikTok diz não permitir a promoção deste tipo de conteúdos. Como nota a CNN, a plataforma tem trabalhado na limitação ao número de repetições de vídeos sobre tópicos como a tristeza, exercício extremo e dietas, assim como em filtros em “temas complexos e maturos” para utilizadores menores de idade.
No início do mês, a plataforma anunciou também que irá limitar o tempo de ecrã para os utilizadores menores de 12 anos, que pode ser controlado pelos pais. Os menores de 18 anos vão também receber uma notificação quando excederem uma hora de utilização, sendo necessário introduzir um código para continuarem a ver mais vídeos.
TikTok sob fogo no Ocidente apesar dos esforços para ganhar confiança de legisladores e público
O TikTok tem realizado esforços para tranquilizar e ganhar a confiança dos políticos e público norte-americano. No entanto, entre outros casos, no final do ano passado, a Forbes noticiou que uma auditoria interna tinha concluído que os dados de utilizadores norte-americanos - incluindo de dois jornalistas - foram indevidamente acedidas por funcionários da ByteDance.
Nos EUA, desde dezembro do ano passado que o TikTok está banido dos dispositivos móveis oficiais dos funcionários federais. A medida foi também implementada em vários estados e universidades.
A tensão em torno da plataforma não está contudo restrita aos EUA. No último mês, medidas semelhantes foram impostas pela Comissão Europeia e por outros países ocidentais, incluindo Canadá, Bélgica e Reino Unido. O TikTok está também a ser investigado em Itália por falhar na remoção de “conteúdo perigoso”.
[artigo atualizado pela última vez às 20h06]
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