Internacional

Governo britânico propõe lei para dissuadir migrantes ilegais de atravessar Canal

Migrantes chegam às praias de Dover, em Inglaterra, vindos de França FOTO Getty Images
Migrantes chegam às praias de Dover, em Inglaterra, vindos de França FOTO Getty Images

A lei permite a detenção de imigrantes ilegais nos primeiros 28 dias, sem medidas de coação ou recurso judicial, até que possam ser removidas

O Governo britânico apresentou esta teerça-feira uma proposta de lei para dissuadir migrantes e traficantes de pessoas de atravessar o Canal da Mancha em pequenas embarcações, recusando asilo àqueles que cheguem ao país ilegalmente.

"Se entrarem ilegalmente no Reino Unido, serão detidos e rapidamente removidos" do país, avisou a ministra do Interior, Suella Braverman, numa declaração no parlamento.

A lei permite a detenção de imigrantes ilegais nos primeiros 28 dias, sem medidas de coação ou recurso judicial, até que possam ser removidas.

Segundo Braverman, isto "vai reduzir radicalmente o número de ações judiciais e recursos que possam suspender a remoção".

A proposta de lei para a "Migração Ilegal" confere ao "dever de remoção" precedência sobre o direito de asilo, com exceções para menores de 18 anos e pessoas com problemas médicas graves.

Aquelas que forem expulsas ficarão proibidas de regressar ao Reino Unido ou de pedir a cidadania britânica no futuro.

No ano passado entraram no Reino Unido mais de 45.000 pessoas após atravessar o Canal da Mancha em pequenas embarcações, contra cerca de 300 em 2018.

A maioria pediu asilo, mas uma lista de espera de mais de 160.000 casos levou a que muitos aguardem meses em centros de processamento ou hotéis sobrelotados, sem direito a trabalhar.

O Governo britânico tem estado sobre pressão para reduzir a imigração ilegal, considerada uma das principais preocupações em sondagens em áreas com eleitorado Conservador.

Manifestantes, alguns alinhados com grupos de extrema-direita, têm-se manifestado junto a alguns dos locais onde os candidatos a asilo estão alojados. Um protesto perto de Liverpool em fevereiro gerou confrontos violentos, com manifestantes a incendiar uma carrinha da polícia.

A proposta de lei apresentada hoje no Parlamento deverá demorar vários meses até ser promulgada e posta em prática.

A legislação representa um teste ao compromisso do Reino Unido com a Convenção Europeia dos Direitos Humanos e a Convenção das Nações Unidas sobre Refugiados, que conferem direitos aos requerentes de asilo que chegam ao país.

O Reino Unido já tem um acordo com o Ruanda para deportar requerentes de asilo, mas até agora não foi posto em prática devido a processos judiciais em curso.

Segundo Suella Braverman, o sistema de processamento destes migrantes custa ao Estado cerca de 3.000 milhões de libras por ano (3.400 milhões de euros).

Só o alojamento implica uma despesa diária de seis milhões de libras (6,8 milhões de euros), adiantou.

Pressão crescente

A ministra admitiu que os países desenvolvidos vão enfrentar cada vez maior pressão de migrantes ilegais, pelo que o Reino Unido precisa de atuar agora antes que a situação piore, pois "o problema já é insustentável".

"Para um governo não responder a vagas de imigrantes ilegais que chegam às nossas fronteiras seria trair o desejo das pessoas que fomos eleitos para servir", enfatizou Braverman, ela própria filha de imigrantes.

Num artigo de opinião para o tabloide The Sun, o primeiro-ministro, Rishi Sunak, reivindicou para o Reino Unido "história orgulhosa de acolher os mais necessitados", mas argumentou que as novas medidas pretendem ser justas para os britânicos e os requerentes de asilo legítimos.

O Governo diz que muitos dos que fazem a travessia são migrantes económicos e não refugiados, apontado para a subida no ano passado nas chegadas da Albânia, um país europeu que o Reino Unido considera seguro.

Outro argumento é que, ao chegarem de França, os migrantes não estão a fugir diretamente de um país em guerra ou onde estão sob risco de vida, e que podem pedir asilo naquele ou noutro país europeu.

A legislação, vincou Sunak, pretende "enviar um sinal claro de que, se vierem para este país ilegalmente, serão rapidamente removidos".

Esta medida vai também "ajudar a romper o modelo de negócio dos traficantes de pessoas", que cobram milhares de euros para facilitar a perigosa travessia numa das rotas de navegação mais movimentadas do mundo.

Em novembro passado, um barco de borracha com 34 migrantes afundou-se no Canal da Mancha, matando 31 pessoas, incluindo uma mulher grávida.

O plano do Executivo foi criticado pelos partidos da oposição e por associações de apoio a refugiados, alegando que é imoral, impraticável e dispendioso.

O governo também foi acusado de não ter outras vias seguras e legais para acolher refugiados, com exceção para territórios e países específicos, nomeadamente Hong Kong, Afeganistão e Ucrânia.

A deputada do Partido Conservador, Yvette Cooper, afirmou que o executivo conservador está a "aumentar a retórica sobre os refugiados".

"Esta proposta de lei não é uma solução. É uma farsa que corre o risco de tornar o caos ainda pior", advertiu.

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