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Refugiados sírios na Turquia, após o sismo: “a comer chuva e neve”

As tendas improvisadas multiplicaram-se em Gaziantep depois do terramoto de 6 de fevereiro
As tendas improvisadas multiplicaram-se em Gaziantep depois do terramoto de 6 de fevereiro

A vida dos sírios na Turquia após o sismo só ficou pior. Enfrentam frio, abandono e racismo. Um retrato em Gaziantep, onde vivem quase 500 mil refugiados sírios

João Gaspar (texto) e João Relvas (Fotos) / Lusa, na Turquia

Ismail Samad aborda-nos com tom de urgência e leva-nos até uma pequena tenda, cujo teto dá pela cintura, onde dormem as crianças e as mulheres de cinco famílias, “uns por cima dos outros”. Os homens passam as noites à frente de uma salamandra, fora da tenda. “Não há água, dinheiro, comida. Que vai ser de nós?”, pergunta o homem, de 34 anos, pai de quatro, que fugiu de Azaz, perto de Alepo, há “sete, oito anos”. É um dos quase 500 mil refugiados sírios que vivem em Gaziantep, a uma hora da fronteira. Um a um, vai tirando da tenda os mais novos: um bebé de dois meses e gémeos de seis. Uma criança, às suas pernas, tosse. “Estão cheios de frio e a ficar doentes. Não sei que vai ser de nós”, desabafa.

A família junta-se a muitas num descampado na zona Sul da cidade, onde se foram erguendo dezenas de tendas de lonas de plástico azuis, seguras por paus e cordas, após o terramoto. Ali, as avenidas e prédios altos do centro da cidade turca de dois milhões de habitantes dão lugar a ruelas e casas baixas, precárias. Há uma semana viviam no acampamento de desalojados cerca de mil pessoas, a maioria refugiados sírios, mas também turcos. Não se veem as tendas brancas da AFAD (autoridade turca que responde a catástrofes), não há bancas a distribuir comida e bebida quente nem se avistam montes de roupa, cobertores e água. Poucos sentem a resposta humanitária e solidária que entupiu as vias de acesso às cidades mais afetadas.

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