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Lula acusou “genocida” Bolsonaro de “estimular invasão”: e tomou rédeas da segurança em Brasília

Lula acusou “genocida” Bolsonaro de “estimular invasão”: e tomou rédeas da segurança em Brasília

Discurso do Presidente foi repleto de acusações e promessas de justiça. Atirou aos “nazistas, fascistas, vândalos” que invadiram as sedes dos três poderes brasileiros e que foram “estimulados” pelo ex-Presidente Bolsonaro. “Genocida”, repetiu Lula

Foi com palavras duras que Lula da Silva surgiu ao fim da tarde no Brasil para reagir à invasão das sedes dos três poderes na capital. De decreto na mão, que leu em direto, ordenou uma intervenção federal em Brasília e acusou o antecessor, Jair Bolsonaro, de ser o principal instigador dos atos antidemocráticos.

Esse genocida”, disse Lula, sem nunca pronunciar o nome Bolsonaro, “não só provocou e estimulou isso como, quem sabe, está estimulando ainda pelas redes sociais, lá de Miami para onde ele fugiu para não me colocar a faixa” presidencial, no dia da tomada de posse.

Mais do que sugerir uma ligação entre a postura ambígua de Bolsonaro após a eleição, ao nunca deixar claro que aceitava os resultados, e os ataques desta tarde, Lula acusou mesmo o ex-Presidente. “Toda a gente sabe que tem vários discursos do ex-presidente estimulando isso” durante o mandato anterior. “Só não estimulou invasão do Palácio porque estava lá dentro, mas estimulou a invasão dos três poderes sempre que pôde.”

“Esse genocida não só provocou e estimulou isso como, quem sabe, está estimulando ainda pelas redes sociais, lá de Miami para onde ele fugiu para não me colocar a faixa”

O discurso foi feito em direto a partir de Araraquara, no Estado de São Paulo, para onde Lula tinha ido avaliar os danos causados pela chuva. E logo aí começou por dizer que “lamentavelmente o genocida que deixou o poder deixou apenas 25 mil reais” na cidade, “nada para a gente cuidar” de estragos como esses. Em seguida, leu o decreto que iria assinar pouco depois.

Fica decretada a intervenção federal no Distrito Federal até 31 de janeiro”, com o objetivo de “pôr termo a grave comprometimento da ordem pública no Estado, marcada por atos de violência e invasão de prédios públicos”. O Governo Lula toma assim as rédeas da segurança na capital.

LULA SUGERE CONIVÊNCIA DA POLÍCIA

A decisão de passar o poder para o Governo já tinha sido sugerida à tarde pela presidente do Partido dos Trabalhadores, do qual Lula é fundador e pelo qual foi eleito pela terceira vez. Gleisi Hoffmann acusou o Governo do Distrito Federal (DF), onde fica Brasília, de ter sido “irresponsável frente à invasão de Brasília e do Congresso Nacional”.

Lula foi mais longe. “Quem tem de fazer a segurança é a polícia militar do DF, que não fez. Houve incompetência, má vontade ou má fé de quem cuida da segurança pública do DF”, acusou o Presidente brasileiro, aludindo a vídeos de membros da polícia a “guiar” as pessoas até à Praça dos Três Poderes, onde ficam os edifícios-sede da democracia brasileira invadidos.

Lembrou manifestações anteriores de bolsonaristas, também em Brasília, em que “a polícia militar não fazia absolutamente nada”. E prometeu justiça. “Os policiais que participaram nisso não poderão ficar impunes e não são de confiança da sociedade brasileira. Espero com esse decreto que a gente possa não só cuidar da segurança do Distrito Federal mas garantir de uma vez por todas que isso não se repetirá mais no Brasil.”

Uma das questões que por agora se levanta é como foi possível que uma ação não tão imprevisível quanto isso não tenha sido travada a tempo pelas forças policiais. As imagens que refere Lula, de polícias a reagir de forma, no mínimo, passiva à invasão, adensam as dúvidas. A meio da tarde, o secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres, foi exonerado, sem ter oficialmente tomado posse. Antes, Torres tinha sido ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública do Governo Bolsonaro.

Uma das questões que agora se levanta é o que explica incapacidade de reação e contenção da polícia
UESLEI MARCELINO

As punições não deverão ficar por aqui. O discurso de Lula, aliás, foi cheio de acusações e promessas de justiça, separando sempre as águas entre os seus apoiantes e os de Bolsonaro. Numa altura em que o Brasil parece dividido ao meio, Lula defendeu a sua metade. “Perdi eleição em 89, 94 e 98 e em nenhum momento vocês viram qualquer militante do meu partido ou de esquerda fazer qualquer objeção ao governo eleito”, afirmou, lembrando os pleitos contra Collor de Melo e Fernando Henrique Cardoso.

Mais: “Isso nunca tinha acontecido, nem no auge da chamada luta armada” dos anos 1970, em plena ditadura militar. Por isso, prometeu intervir para que “mais ninguém ouse, com a bandeira nacional nas costas ou com a camiseta da seleção brasileira, para se fingir de nacionalista, para se fingir de brasileiro, fazer o que eles fizeram hoje”.

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