Elon Musk, proprietário do Twitter desde outubro, suspendeu esta quinta-feira as contas de vários jornalistas norte-americanos, colocando à vista uma das contradições centrais da sua conduta profissional: comprou o Twitter para expandir a “liberdade de expressão”, mas está cada vez mais disposto a silenciar quem o critica.
Foi o caso dos jornalistas que esta quinta-feira perderam o acesso às suas contas na rede social, todos ativos na área da tecnologia e todos críticos de Musk e das suas decisões no passado. Três deles, Ryan Mac, Drew Harwell e Donie O’Sullivan, trabalham em algumas das maiores empresas de media norte-americanas, os jornais The Washington Post, The New York Times e o canal CNN, respetivamente. Outro, o jornalista independente Aaron Rupar, tem cerca de 800 mil seguidores no Twitter.
Como justificação para as suspensões, Musk invocou uma recente alteração nas regras do Twitter através da qual qualquer conta que partilhe “informações em direto sobre a localização” de outra pessoa poderá ser banida. A medida visa salvaguardar a segurança dos utilizadores da plataforma, incluindo a do próprio Musk.
O empresário criticou diretamente os jornalistas e acusou-os de “violar” as normas do Twitter ao publicar a sua “localização exata”, algo que considerou ser o mesmo que a transmissão de “coordenadas de assassínio”.
Ligada às novas regras está também a suspensão de mais de 25 contas dedicadas a monitorizar as movimentações de jatos privados de organizações governamentais e vários bilionários. Jack Sweeny, o jovem de 20 anos por detrás de muitas delas, irá começar a publicar na Mastodon, uma rede social competidora.
Uma das contas centrava-se precisamente no avião de Elon Musk, contando com 500 mil seguidores antes de ser removida da plataforma. Antes de tomar esta decisão, o próprio Musk tinha dito a 7 de novembro que não iria interferir com a conta, mesmo que “representasse um risco direto” para a sua segurança pessoal, citando na altura o seu “compromisso com a liberdade de expressão”.
No caso dos jornalistas, não há provas concretas sobre o que terá motivado a reação do proprietário do Twitter, já que nenhum deles - dizem os visados - partilhou qualquer informação sobre a localização de Musk nos últimos dias. Em comunicado, Charlie Stadtlander, porta-voz do The New York Times, disse esperar “que todas as contas dos jornalistas sejam restabelecidas e que o Twitter forneça uma explicação satisfatória para esta ação”.
Kristine Coratti Kelly, porta-voz da CNN, considerou as suspensões “preocupantes, mas não surpreendentes”, acrescentando que “a crescente instabilidade e volatilidade no Twitter deveria ser uma preocupação para todos” os seus utilizadores.
Na mesma linha, o Comité Para a Proteção de Jornalistas, uma ONG norte-americana dedicada a salvaguardar os direitos dos jornalistas, disse que, a ser uma retaliação pelo seu trabalho, a decisão de Musk representaria "uma grave violação do direito dos jornalistas a relatar as notícias sem receio de represálias".
Contactado por todas as instituições ligadas aos visados por estas medidas, o departamento de comunicação do Twitter recusou comentar as suspensões.
Já Ella Irwin, chefe do departamento de segurança do Twitter, disse ao site norte-americano The Verge que não ia “comentar contas específicas”, mas que podia “confirmar que iremos suspender quaisquer contas que violem as nossas políticas de privacidade e coloquem outros utilizadores em risco”.
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