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Democrata Raphael Warnock vence na Geórgia: a diferença que um senador faz

Raphael Warnock
Raphael Warnock
CHENEY ORR/Reuters

Vitória de Raphael Warnock na corrida ao último lugar disponível no Senado americano desfaz um impasse vivido durante anos. Nova maioria promoverá, entre outras coisas, “uma torrente de nomeações”

Democrata Raphael Warnock vence na Geórgia: a diferença que um senador faz

Ricardo Lourenço

Correspondente nos Estados Unidos

O candidato democrata ao Senado Raphael Warnock passou grande parte da campanha eleitoral nas áreas suburbanas do Estado da Geórgia, um território republicano por tradição. Igrejas, hipermercados, campos de “soccer” e até carreiras de tiro foram os alvos preferidos na caça ao eleitor indeciso.

Em vez de se concentrar na agenda do Partido (aborto, Trump, Economia), o ex-pastor na igreja batista Ebenezer quis convencer o eleitorado moderado de que era alguém confiável, ao contrário do opositor republicano, Herschel Walker.

A estratégia surtiu efeito. Ontem à noite, na segunda volta do sufrágio, recolheu quase 100 mil votos a mais do que o rival, que, por seu lado, teve menos 200 mil do que o governador Brian Kemp, seu colega de partido, que, há cerca de um mês, reconquistou o lugar.

“O nosso governador e o senador Warnock são bons homens, pessoas que podemos confiar e que representarão o estado da Geórgia com dignidade. Não diria o mesmo em caso de vitória de Walker”, afirma ao Expresso Amy Steigerwalt, vice-presidente do Departamento de Ciência Política da Universidade estadual da Geórgia.

Ao longo da corrida acumularam-se as polémicas e as gafes de Walker, um candidato escolhido a dedo pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Acusado de pagar abortos a antigas amantes, embora seja contra a interrupção voluntária da gravidez, o antigo astro do futebol americano tornou-se o seu pior inimigo.

A tal ponto que os anúncios televisivos da campanha de Warnock repetiam, simplesmente, os tiros nos pés do adversário. Num deles, observa-se Walker a gastar quase um quarto de hora a explicar a uma audiência estupefacta que preferia ser um lobisomem do que um vampiro.

A perda de credibilidade isolou o candidato conservador, algo que se traduziu na redução do número de comícios e arruadas, com a equipa de assessores a ignorar cada vez mais os pedidos de esclarecimento enviados pelos jornalistas.

“Um monte de dinheiro”

A vitória de Warnock poderá ter consequências significativas do ponto de vista político e, acima de tudo, legislativo. “Isto não significa uma pequena diferença”, esclareceu ontem o senador Chuck Schumer, em entrevista à NBC. O líder dos democratas no Senado referia-se à nova maioria de 51 liberais contra 49 conservadores, fruto da vitória do ex-pastor, acabando com o empate que existia e que obrigava a vice-presidente, Kamala Harris, a quebrar os impasses constantes.

Sinal disso mesmo, foram gastos na campanha para este lugar no Senado perto de 500 milhões de dólares. Tratou-se da corrida mais cara do ciclo eleitoral deste ano. “A liderança partidária e grupos associados despenderam este monte de dinheiro porque perceberam que o resultado teria um impacto decisivo no futuro do Congresso”, diz ao Expresso Casey-Lee Waldron, conselheira do congressista republicano Brian Fitzpatrick.

O novo quadro no Senado oferece uma pequena almofada que facilitará a aprovação de propostas de lei, o controlo dos comités legislativos, eliminando os problemas relacionados com a organização da burocracia na Câmara Alta do Congresso.

O Comité de Assuntos Judiciais, por exemplo, possui 22 membros. Até hoje, estava dividido entre 11 republicanos e 11 democratas. A partir de 20 de janeiro, data da nova tomada de posse, o Partido maioritário contará com 12 contra 10 da força rival.

É por esta razão que Schumer lembrou que a vitória de Warnock “é mais do que 1%”, pois significa que ele deixa de ter a necessidade de partilhar o poder com o representante da minoria republicana, o senador Mitch McConnell.

A curta margem permite também que as opções da Casa Branca passem no Senado sem grandes obstáculos, deixando de existir a preocupação em satisfazer os desejos do democrata Joe Manchin.

O senador representante da Virgínia Ocidental foi muitas vezes acusado de tornar próprio Partido refém das suas exigências, que vão de encontro à base de apoiantes, um eleitorado ultraconservador típico da região do “midwest”.

“Com 51 poderemos ser mais assertivos e mostrar aos americanos o que nos move verdadeiramente”, adianta ao Expresso Jerry Crawford, antigo diretor de campanha de Hillary Clinton, a candidata democrata à presidência dos EUA em 2016.

Crawford acredita que a nova maioria republicana na Câmara dos Representantes (Câmara Baixa do Congresso) será irrelevante em questões-chave, caso da designação de juízes. “Antevejo uma torrente de nomeações

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