Centenas de pessoas voltaram a manifestar-se esta quinta-feira nas localidades curdas do Irão, em protestos de novo marcados por episódios de violência e de repressão, dois meses após a morte de uma jovem curda iraniana.
As manifestações coincidiram esta semana com o terceiro aniversário do chamado "novembro sangrento" de 2019, quando mais de 300 manifestantes, segundo a Amnistia Internacional (AI), foram mortos durante a repressão de uma onda de contestação no Irão motivada pelo aumento do preço dos combustíveis.
As autoridades do Irão continuam a confrontar-se com uma vaga de protestos desencadeada em setembro pela morte de Masha Amini, uma jovem curda iraniana, de 22 anos, detida pela polícia dos costumes por causa do alegado uso incorreto do véu islâmico.
Mahsa Amini foi agredida e detida pela chamada "polícia da moral" a 13 de setembro, em Teerão por, apesar de envergar o 'hijab' (véu islâmico), este deixar à vista parte do seu cabelo. Foi hospitalizada já em coma e morreria três dias depois, a 16 de setembro.
Hoje, segundo denunciou a Hengaw, uma organização não-governamental (ONG) de defesa dos curdos do Irão sediada na Noruega, um manifestante foi morto pelas forças de segurança em Bukan e dois outros em Sanandaj, onde os habitantes assinalaram, segundo a traição, o 40.º dia da morte de quatro ativistas mortos na repressão.
"Morte ao ditador", ecoaram os manifestantes em Sanandaj, segundo um vídeo divulgado, numa alusão ao guia supremo do Irão, `ayatollah` Ali Khamenei, segundo informou a agência francesa AFP.
Nesta mesma cidade, um coronel da polícia foi hoje morto após ser apunhalado, e um outro, também ferido com uma arma branca na quarta-feira, não resistiu aos ferimentos, segundo a agência oficial Irna.
Em Machhad (nordeste), dois paramilitares foram apunhalados até à morte quando tentavam intervir contra "agitadores que ameaçavam os comerciantes para os obrigar a fechar as suas portas", avançou a agência oficial.
Em Bukan, os "agitadores" destruíram e incendiaram bens públicos e incendiaram a sede do município antes da chegada da polícia, indicou ainda a Irna.
A ONG Hengaw também se refere a movimentos grevistas em quatro localidades do oeste do Irão, onde as forças de segurança terão morto dez manifestantes na quarta-feira. Entre estas cidades encontra-se Saghez, a cidade natal de Mahsa Amini no Curdistão iraniano.
Segundo um balanço emitido quarta-feira pela Iran Human Rights (IHR), uma ONG estabelecida em Oslo, pelo menos 342 pessoas foram mortas na repressão do movimento de contestação desencadeado em 16 de setembro passado.
Ainda na quarta-feira, e sem que possa ser estabelecida uma ligação com o atual movimento de contestação, dois ataques com arma automática, perpetrados em duas localidades diferentes por desconhecidos que se deslocavam de moto, provocaram dez mortos.
Em Izeh (sudoeste), sete pessoas, incluindo uma mulher e duas crianças, foram mortas por "terroristas" que dispararam sobre manifestantes e polícias, segundo os responsáveis.
Segundo um familiar de uma das crianças mortas, citado por uma emissora de rádio em persa financiada pelos Estados Unidos e com sede em Praga, terão sido as forças de segurança a efetuar o ataque.
Quatro horas mais tarde, em Ispahan (centro), a terceira cidade do Irão, dois desconhecidos de moto mataram um oficial da polícia e dois paramilitares, segundo os 'media' iranianos.
As autoridades qualificam os protestos que abalam o país como "tumultos", acusando os "inimigos" do Irão de procurar desestabilizar a República Islâmica.
Desde domingo, a justiça iraniana já condenou à morte cinco pessoas relacionadas com os "tumultos".
A Amnistia Internacional denunciou "a assustadora utilização da pena de morte para reprimir o levantamento popular com acrescida brutalidade".
Hoje, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Hossein Amir-Abollahian, acusou Israel e os serviços de informações ocidentais de "planificarem" uma guerra civil no Irão.
E o general Hossein Salami, chefe dos Guardas da Revolução, o exército ideológico do Irão, acusou, por sua vez, "os Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França, Israel, Arábia Saudita e seis aliados" de uma "enorme conspiração contra a nação iraniana".
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