A Memorial, uma das organizações não-governamentais (ONG) a operar há mais tempo na Rússia, foi declarada “agente estrangeiro” em 2014 e defendeu-se de uma acusação por traição em 2015. Fogo posto deflagrou na sede da instituição em 2018. No passado dia 7 de outubro ganhou o prémio Nobel da Paz. Na manhã seguinte, sofria uma rusga aos seus escritórios. A justiça moscovita sentenciou a dissolução da ONG ao princípio deste ano, após a emissão de mandados de detenção contra ativistas.
Após um percurso de três décadas ao serviço dos direitos humanos, eis a história de um Nobel da Paz silenciado à força. A Memorial foi contemplada ao mesmo tempo que a organização ucraniana Centro para as Liberdades Cívicas e o ativista bielorrusso Ales Bialitsky.
Anastasia Garina, 33 anos, diretora executiva da Memorial, descreve a Rússia de Vladimir Putin como autocracia musculada que se perpetua pelo totalitarismo e sucessivas violações dos direitos humanos. Numa sociedade sem liberdade de expressão ou de organização política, a chefe do departamento jurídico refere-se à operação especial como invasão, não antevê final feliz para a Rússia de Putin e desmonta a narrativa propagandística estabelecida pelo regime ao longo de duas décadas.
Qual a sensação de receberem o Nobel num momento tão delicado?
A Memorial é uma das ONG mais antigas na Rússia. Atravessamos um período muito negro e a sociedade civil não reconhece a pertinência de defender os direitos humanos. Continuamos a lutar por uma causa perdida. É positivo que o Nobel tenha sido entregue à Memorial. Dá força aos ativistas, que quase já não possuem instrumentos legais para influenciarem o sistema político ou o sistema judicial. O Governo esmaga qualquer movimento contestatário, qualquer intenção de respeito pelos direitos humanos é marginalizada.
Artigo Exclusivo para assinantes
Assine já por apenas 1,63€ por semana.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes