Internacional

Número de migrantes a chegar à UE via Balcãs Ocidentais comparável a 2015: fronteiras são reforçadas, Órban diz que situação é "muito grave"

Em 2015, mais de um milhão de pessoas chegou à Europa depois de fugir dos conflitos na Síria e no Iraque
Em 2015, mais de um milhão de pessoas chegou à Europa depois de fugir dos conflitos na Síria e no Iraque
Anadolu Agency

Desde o início do ano, mais de 106 mil pessoas tentaram entrar irregularmente na UE a partir dos Balcãs, o que representa mais do triplo do número de 2021 e dez vezes mais do que em 2019. Os países dos Balcãs, a Áustria e a República Checa aumentaram os reforços nas fronteiras

O número de migrantes que chegaram à União Europeia (UE) através dos Balcãs Ocidentais subiu este ano para números inéditos desde a crise de refugiados de 2015, provocando um reforço do controlo de fronteiras na região.

Nos primeiros nove meses deste ano, de acordo com os últimos dados da Comissão Europeia, citados pela agência espanhola de notícias Efe, mais de 106 mil pessoas tentaram entrar irregularmente na UE a partir dos Balcãs, o que representa mais do triplo do número de 2021 e dez vezes mais do que em 2019.

Os países dos Balcãs, mas também países da Europa Central, como a Áustria e a República Checa, reforçaram o controlo nas fronteiras para travar a migração irregular, que já se tornou parte da batalha política interna na região.

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, conhecido pela sua rejeição à imigração - a ponto de ligá-la ao terrorismo - qualificou a situação como “muito grave, quase como em 2015”, ano em que mais de um milhão de pessoas chegou à Europa depois de fugir dos conflitos na Síria e no Iraque.

Na Áustria – país que contabiliza cerca de 8,8 milhões de habitantes - os mais de 88 mil pedidos de asilo de 2015 serão superados este ano, passando a ser um número recorde.

Na Hungria, na Croácia, ma Eslovénia, na Bósnia e na Sérvia, o número de pessoas intercetadas nas fronteiras duplicou ou mesmo triplicou, de acordo com dados avançados pela Efe.

Enquanto a guerra na Ucrânia e a chegada de milhões de refugiados daquele país chamam a atenção da UE, no extremo leste do bloco há uma crescente preocupação política com a chegada de migrantes e refugiados, principalmente do Médio Oriente.

De acordo com o especialista em migração do ‘think tank’ European Stability Initiative, Kristof Bender, a situação atual não se deve à chegada de um grande número de migrantes à Grécia.

“Na realidade, a maioria dos que chegaram à Áustria nos últimos 18 meses já estavam na Europa e, na sua maioria, na Grécia. Mas a ausência de ajuda na Grécia fê-los ir para a Europa Central”, explicou em declarações à agência espanhola de notícias.

Desde fevereiro de 2020, quando o acordo de migração UE-Turquia foi suspenso, a Grécia passou a aplicar uma política “brutal” de “expulsões sistemáticas”, o que, segundo Bender, dificulta muito a chegada de refugiados vindos da Turquia.

De acordo com as suas estimativas, no final de 2019 estavam na Grécia cerca de 110 mil requerentes de asilo, sendo que, somados àqueles que chegaram nos anos seguintes, atingiram os 150 mil no total. Mas agora, referiu, restam apenas cerca de 35 mil na Grécia. A maioria já foi para o norte.

“Esta não é uma situação como a de 2015. Esta é uma narrativa política enganosa. Há pouquíssimos [migrantes] a chegar à Grécia e já não há muitos para regressarem”, concluiu.

O outro fator citado pelos especialistas é a política de vistos da Sérvia, para onde se pode viajar sem visto a partir da Índia, da Tunísia e do Burundi, entre outros, tendo também um acordo de isenção de vistos com a UE.

A situação torna mais fácil para os migrantes de outros países viajarem até Belgrado e continuarem depois para a UE.

A Áustria, a Alemanha e a atual presidência checa da UE criticaram duramente a política de vistos da Sérvia, que prometeu mudá-la até ao final do ano.

Dos quase 72 mil pedidos de asilo apresentados na Áustria até setembro, 11.500 são de indianos, algo inédito, e 8900 de tunisinos. “Vimos um grande aumento dos pedidos de asilo de cidadãos de países que não estão imersos em guerras”, observou, na semana passada, o ministro do Interior austríaco, Gerhard Karner.

Embora sírios e afegãos continuem a ser a maioria dos migrantes a fazerem esta rota, o aumento mais marcante é o de cidadãos da Índia, país com mais de 1,3 mil milhões de habitantes.

Um documento da presidência checa da UE indica que na Croácia e na Eslovénia foram registados, desde o início do ano, cerca de 1700 pedidos de asilo de cidadãos da Índia e do Burundi, sendo que não foi apresentado nenhum em 2021.

A situação é semelhante a 2018, quando a Sérvia permitiu que iranianos viajassem sem visto, mas teve que recuar após pressão da UE.

Rados Djurovic, diretor da organização não-governamental Centro de Proteção e Assistência a Requerentes de Asilo, reconhece a “chegada de milhares” de indianos” ao país, mas sublinha que o número certo é difícil de calcular já que não costumam ir aos centros de acolhimento, preferindo recorrer a traficantes para atravessar as fronteiras.

“Temos a impressão de que foram desenvolvidas estruturas de tráfico bem organizadas para essa migração”, explica, referindo-se a migrantes indianos, que, como nota, “parecem ter muito mais recursos do que outros migrantes”.

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