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“Quero ser honesta: isto é difícil” Liz Truss reverte política de corte de impostos, mas não responde a perguntas sobre demissão

A primeira-ministra do Reino Unido tentou explicar a reversão de algumas das suas medidas económicas depois de uma reação adversa dos mercados
A primeira-ministra do Reino Unido tentou explicar a reversão de algumas das suas medidas económicas depois de uma reação adversa dos mercados
DANIEL LEAL/Getty Images

A primeira-ministra do Reino Unido evitou falar da sua própria demissão, apesar de já terem surgido notícias sobre a revolta que leveda entre os conservadores. Truss repetiu que não vai cortar na despesa pública e anunciou reversões das medidas que anunciara com o ministro das Finanças que hoje demitiu, Kwasi Kwarteng

Os jornalistas bem quiseram saber e repetidamente perguntaram: “Que condições tem para continuar?”, “As suas políticas têm credibilidade depois de todos estes problemas?”. Liz Truss nunca respondeu. Numa conferência de imprensa que durou cerca de cinco minutos, esta sexta-feira em Londres, a primeira-ministra britânica repetiu quase sempre o que tem dito noutras ocasiões: o crescimento económico é sua prioridade.

A crítica é feita, na verdade, à forma como Truss tem optado por atingir tal meta: baixando impostos para os mais ricos e as empresas e recorrendo ao endividamento para continuar a gerir a máquina do Estado.

A medida mais sonante do seu programa, a recusa em subir o IRC de 19% para 25%, teve de cair. Os impostos vão mesmo subir para as empresas. É a segunda reviravolta de Truss, depois de ter sido forçada a abandonar a intenção de cortar a taxa de imposto ao escalão mais rico, de 45% para 40%.

“Ficou claro que partes do nosso mini-orçamento foram mais longe, e implantadas mais depressa, do que os mercados esperavam, pelo que a forma como procuramos cumprir a nossa missão tem de mudar”, começou por dizer a governante conservadora.

Truss admitiu estar a passar por uma situação complicada. “Quero ser honesta: isto é difícil. Mas vamos ultrapassar esta tempestade e conseguir um crescimento forte e sustentado que possa transformar o nosso país nas próximas gerações”, prometeu.

Na resposta às perguntas sobre a sua própria demissão, foi dizendo que não pode sair quando “o país precisa de estabilidade”. “Por isso tive de tomar as decisões difíceis que tomei hoje. A missão continua a mesma. Precisamos, sim, de elevar os níveis de crescimento económico do nosso país. Precisamos de ajudar as pessoas em todo o país. Mas, em última análise, também precisamos de garantir a estabilidade económica, e tenho de agir no interesse nacional”.

Líder trabalhista pede novo Governo

O líder da oposição trabalhista não se contenta com a demissão do ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng. “Não desfaz os danos causados em Downing Street”, disse Keir Starmer à BBC. “A abordagem imprudente de Liz Truss arrasou a economia, fazendo com que as hipotecas disparassem, e prejudicou a posição do Reino Unido no mundo. Precisamos de uma mudança de Governo.”

O ministro-sombra do Trabalho e Pensões, Jonathan Ashworth, afirma que é “claro” que o Governo está “em colapso”.

Um dos jornalistas de política da Sky News teve acesso a algumas mensagens que os deputados conservadores estão a trocar entre e o cenário é de total discórdia. Depois de um deputado ter defendido que Rishi Sunak e Penny Mordaunt deviam assumir o poder, uma outra deputada respondeu para dizer que “nem os meios de comunicação social nem o povo aceitariam isso”. “Mais vale abraçar a ditadura porque essa é a proposta menos democrática que se pode imaginar”.

Do outro lado estão os deputados que defendem a continuação de Truss, como John Redwood que disse à Sky News estar do lado da primeira-ministra. “O voto final foi claramente em seu favor”, disse, pedindo aos seus companheiros no parlamento que se “lembrem” que eles mesmos votaram em Truss como uma das duas melhores pessoas para liderar o partido (a outra foi Rishi Sunak, que perdeu nos votos dos membros do partido mas venceu entre o grupo parlamentar).

Do lado dos trabalhistas não faltam vozes a pedir eleições gerais, até porque as últimas sondagens (e há vários meses que assim é) mostram um fosse bem largo entre os dois partidos. Há cerca de duas semanas, a empresa Pollster perguntou aos britânicos em quem votariam se as eleições se realizassem no dia seguinte e os resultados mostram uma diferença de 24 pontos percentuais entre os dois principais partidos, como se vê em baixo nos resultados publicados no Twitter:

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