Na última sessão pública do Comité que investiga a invasão do Capitólio foi anunciado o que se esperava há muito. Eleições em novembro e o curto prazo de validade do órgão jogam a favor do magnata nova-iorquino.
O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está intimado a depor no Comité da Câmara dos Representantes que investiga a invasão do Capitólio de 6 de janeiro de 2021. “É uma péssima jogada política”, indica, ao Expresso, um ex-membro da Administração Trump, que pediu para não ser identificado, em parte, devido à sua participação na insurreição. “O que supostamente seria um organismo suprapartidário acaba de fazer aquilo que os apoiantes de Trump anteciparam. A pouca credibilidade que tinha desapareceu”.
Com o Congresso a funcionar a meio-gás por força da campanha eleitoral para as eleições intercalares de 8 de novembro, é natural que a iniciativa tenha poucas hipóteses de sucesso, até porque os representes legais do magnata nova-iorquino já adiantaram que contestarão a decisão em tribunal.
O Comité em causa cessa funções até final do ano, deixando pouco tempo para que qualquer inquirição ocorra até lá. “Se os republicanos reconquistarem a Câmara, a missão do Comité não será renovada. Só no caso de uma vitória democrata - improvável segundo as sondagens - é que pode haver esperança de que Trump deponha”, explica ao Expresso Thomas Patterson, professor de Ciência Política em Harvard.
A sessão de hoje, previsivelmente a última, culmina uma série de transmissões televisivas iniciadas a 9 de junho, um ano após a formação do órgão
Não é a primeira vez que um presidente dos Estados Unidos é intimado a depor pelo Câmara Baixa do Congresso. Thomas Jefferson testemunhou em 1807, na sequência das acusações de traição endereçadas ao seu vice, Aaron Burr. Em 1974, Richard Nixon foi forçado a entregar as gravações áudio da sala oval, algo que ditaria, na prática, o fim da sua presidência. Vinte e três anos depois, Bill Clinton submeteu-se a um longo questionário a propósito do caso Monica Lewinsky.
Trump ordenou a retirada do Afeganistão
No caso da inquirição à tentativa de sedição que ocorreu há quase dois anos, foram ouvidos vários elementos próximos de Trump, nomeadamente a sua filha mais velha, Ivanka Trump.
O arquiteto do chamado “Trumpismo”, Steve Bannon, recusou e, por isso, acabou julgado por desrespeito ao Congresso - a leitura da sentença está prevista até final do mês.
Além deste ponto, o Comité indicou esta quinta-feira, também, que Trump ordenou a retirada americana do Afeganistão antes das presidenciais de 2020, algo que o próprio negou sempre, especialmente depois da operação ter acabado num caos absoluto.
O painel revelou o testemunho do Chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas, Mark Milley, em que este classifica a iniciativa de “perigosa”. Mesmo assim, Trump insistiu, explicando que deixaria a resolução do problema para o “próximo”.
Embora a ordem não tenha sido acatada durante a Administração Trump, cujo objetivo era o de terminar a ocupação até à tomada de posse, agendada para 20 de janeiro de 2021, o uso da palavra “próximo”, segundo o congressista Adam Kinzinger, indicia que o antigo líder americano reconheceu que “a sua presidência estava à beira do fim”
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