Protestos no Irão: líder supremo ameaça com mais repressão, enquanto UE prepara sanções
Confrontos em Teerão entre polícia e manifestantes que protestavam após a morte de Mahsa Amini
EPA/Lusa
Os protestos no Irão após a morte de Mahsa Amini entram agora na terceira semana. O líder supremo do país, Ali Khamenei, deu total apoio à polícia para reprimir os manifestantes e avisou que “aqueles que incitarem à agitação para sabotar a República Islâmica merecem uma dura acusação e punição”. Estados Unidos e Canadá já anunciaram sanções, enquanto a União Europeia prepara pacote de medidas para os “responsáveis pela repressão”
O líder supremo do Irão, ayatollah Ali Khamenei, deu total apoio às forças de segurança para reprimirem os protestos desencadeados pela morte de Mahsa Amini, a jovem de 22 anos que morreu sob custódia da polícia da moralidade iraniana, por alegado mau uso do hijab. Pelo menos 130 pessoas morreram, centenas ficaram feridas e milhares foram detidas pela polícia e milícia voluntária Basij nas manifestações que entram agora na terceira semana e já se estenderam a mais de 80 cidades iranianas.
Khamenei condenou agora os “motins” e defendeu a repressão. “O dever das nossas forças de segurança é garantir a segurança da nação iraniana. Aqueles que atacam a polícia deixam os cidadãos iranianos indefesos contra bandidos, ladrões e extorsores”, afirmou, citado pela agência Reuters, justificando que “algumas pessoas causaram insegurança nas ruas”. O guia supremo iraniano foi mais longe e avisou: “Aqueles que incitarem à agitação para sabotar a República Islâmica merecem uma dura acusação e punição”.
Também um dos músicos mais populares do Irão, que fez uma canção de protesto, foi detido. A música de Shervin Hajipour tornou-se na banda sonora da revolta que o país vive. A letra de Hajipour foi escrita com base nas mensagens de descontentamento e indignação que os iranianos escreveram online, após a morte de Mahsa Amini, a 16 de setembro.
A canção Baraye, lançada na semana passada, tornou-se viral no Irão e também foi tocada este fim-de-semana em protestos de solidariedade em Washington, Estrasburgo e Londres. A letra inclui excertos como: “por dançar nas ruas”, “por beijar entes queridos”, “por querer uma vida normal”, “por mudar mentes podres”, “por causa das mulheres e da liberdade”.
Shervin Hajipour foi alegadamente preso na última quinta-feira, dia 29 de setembro. De acordo com mensagens publicadas no Twitter pela irmã do músico, os serviços secretos da província de Mazandaran chamaram os pais do cantor com 25 anos e informaram-nos que Hajipour tinha sido detido a 1 de outubro, relata o “The Guardian”.
Entretanto, a sua conta foi suspensa nas redes sociais com o intuito de remover a canção — mais um ato de repressão e silenciamento perpetrado pelo regime iraniano —, mas a música continua a ser amplamente partilhada e cantada, incluindo em escolas, entre raparigas que não estão a usar o véu islâmico, num gesto de solidariedade para com Mahsa Amini e num ato de resistência à repressão do regime.
Pela primeira vez ao fim de cerca de três semanas, o líder supremo iraniano quebrou finalmente o silêncio e lamentou a morte da jovem rapariga, que considerou “um triste incidente” que “deixou [todos os iranianos] com o coração partido”, disse esta segunda-feira.
Mas o ayatollah Ali Khamenei apressou-se a condenar severamente os “tumultos” que se têm alastrado pelo país nos últimos dias, acusando os Estados e Israel de serem os responsáveis por tais ações anti-regime. “Esses tumultos foram planeados. Digo claramente que esses tumultos e protestos que causaram insegurança foram planeados pelos Estados Unidos e pelo regime sionista e os seus funcionários [Israel]. Tais ações não são normais, não são naturais”, disse a um grupo de estudantes da academia de polícia em Teerão.
A vaga de protestos é contra a polícia da moralidade que controla o código rígido de vestuário no Irão, incluindo o uso obrigatório de hijab e a proibição de usar roupas curtas ou apertadas, por exemplo. Mas é também contra o abuso de poder, o uso excessivo de violência, a falta de liberdade e — em suma — o regime ditatorial da República Islâmica.
Morte da jovem Mahsa Amini, detida por uso incorreto do véu, gerou uma onda de protestos
WAEL HAMZEH/EPA/Lusa
UE prepara sanções, EUA e Canadá já as aplicaram
A repressão das manifestações pelas forças de segurança iranianas está a ser fortemente condenada por organizações não-governamentais de defesa dos direitos humanos, como a Iran Human Rights (IHR), e por vários países do Ocidente, que começam a impor sanções ao regime do ayatollah Ali Khamenei.
A União Europeia está a preparar o congelamento de bens e a proibição de viagens a vários funcionários iranianos “responsáveis pela repressão, responsabilizando-os pelos seus atos”, disse esta terça-feira a ministra dos Negócios Estrangeiros francesa. Segundo Catherine Colonna, as sanções devem “ter impacto nos decisores do regime do Irão”, alguns dos quais gostam de “enviar os seus filhos para o Ocidente”.
Os Estados Unidos já anunciaram sanções contra o Irão, nomeadamente contra a polícia moral por alegações de abuso de mulheres iranianas. O Presidente norte-americano, Joe Biden, mostrou-se “gravemente preocupado com as notícias da intensificação da repressão violenta contra manifestantes pacíficos” no país. “Continuaremos a responsabilizar os funcionários iranianos e a apoiar os direitos dos cidadãos a protestar livremente”, prometeu.
O Canadá também impôs novas sanções ao Irão, esta segunda-feira, como forma de “resposta às graves violações de direitos humanos que têm sido cometidas [no país], incluindo a perseguição sistemática às mulheres e, em particular, as ações flagrantes cometidas pela chamada ‘polícia da moralidade’ do Irão, que levou à morte de Mahsa Amini”, adiantou o Governo canadiano num comunicado.
As sanções visam 25 indivíduos e nove entidades, incluindo membros do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica do Irão e do seu ministério dos serviços secretos e de segurança, a televisão estatal do país, a polícia da moralidade, e o ministro dos serviços de informação iraniano Esmail Khatib.
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