Num momento em que os líderes da União Europeia (UE) esperam que o pilar democrático da UE seja um travão na viragem da Itália — país fundador da Comunidade Económica Europeia —, Bruxelas remete-se a um ‘nim’ e prefere não comentar a vitória de Giorgia Meloni, líder do partido de extrema-direita Irmãos de Itália.
Na conferência de imprensa que a Comissão Europeia realiza diariamente em Bruxelas, o porta-voz do executivo comunitário, Eric Mamer, começou por recordar o princípio da instituição de “nunca comentar resultados de eleições nacionais” e sublinhou que, na sequência das eleições de domingo, aguarda-se “a formação de um Governo, segundo os procedimentos constitucionais de Itália”.
Mamer disse ainda que a Comissão espera estabelecer “uma cooperação construtiva com as novas autoridades italianas”.
Num tom assertivo e preocupado, o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol alerta para o crescimento dos populismos e lembra que estes “acabam sempre em tragédia”. José Manuel Albarés reconhece que “os italianos votaram livremente, escolheram legitimamente quem pensam que deve conduzir os próximos tempos”.
O Presidente da França reconhece a escolha feita pelos italianos. Já o antecessor de Emmanuel Macron, o socialista François Hollande, lamentou (na rede social Twitter) a vitória da extrema-direita na Itália. Considera tratar-se de “uma ameaça aos direitos fundamentais e um risco de paralisia para a Europa”. Serve também de aviso, para o que “pode acontecer em França”, escreveu Hollande.
Moscovo, Varsóvia e Le Pen estão contentes
O Kremlin já fez saber que está disponível para uma “relação construtiva” com Meloni. O primeiro-ministro da Polónia, Mateusz Morawiecki, saudou a “grande vitória” da extrema-direita italiana nas legislativas de domingo. O partido nacionalista-populista polaco Lei e Justiça (PiS) e os Irmãos da Itália são ambos membros do grupo dos conservadores e reformistas europeus.
A líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, diz que Itália elegeu um Governo “patriota e soberanista”: “O povo italiano decidiu retomar o destino que tem em mãos ao eleger um Governo patriota e soberanista. Bravo a Giorgia Meloni e Matteo Salvini, por terem resistido à ameaça da União Europeia, antidemocrática e arrogante”, escreveu Le Pen, numa mensagem difundida pela rede social Twitter.
Segundo os resultados parciais, a coligação de direita e extrema-direita — liderada pelo FdI e que reúne ainda a Liga, de Matteo Salvini, e o partido conservador Força Italia, de Silvio Berlusconi — obteve cerca de 3% dos votos nas legislativas.
Igualmente contente está o primeiro-ministro da Hungria: “Bravo, Giorgia! Uma vitória merecida. Parabéns!”, escreveu Viktor Orbán no Twitter. “Precisamos mais do que nunca de amigos que partilhem uma visão e uma abordagem comuns à Europa”, acrescentou o diretor político do chefe de Governo húngaro, o deputado Balazs Orban.
A mensagem alemã é de serenidade: “A Itália é um país pró-Europa, com cidadãos pró-Europa, e partimos do princípio de que isto não irá mudar”, afirmou o porta-voz do Governo, Wolfgang Büchner.
Um porta-voz do Ministério das Finanças disse que Berlim espera que Roma respeite as regras orçamentais da União Europeia, já que a gigantesca dívida pública italiana é uma preocupação para Bruxelas.
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