Silvio Berlusconi desfaz-se em explicações depois de defender Putin na TV italiana
Silvio Berlusconi no comício de encerramento de campanha da direita italiana
GIUSEPPE LAMI/EPA/Lusa
Antigo primeiro-ministro afirmou, a três dias das legislativas, que o Presidente russo foi “empurrado” para a invasão da Ucrânia por nacionalistas e pela comunicação social. A correr atrás do prejuízo, reafirma o apoio a Kiev
Silvio Berlusconi tem passado esta sexta-feira a remediar o mal feito pelas suas palavras na véspera, quando justificou a invasão da Ucrânia dizendo que Vladimir Putin foi “empurrado” nessa direção e que se viu “numa situação realmente difícil e dramática”.
O antigo primeiro-ministro italiano (1994-95, 2001-06 e 2008-11) assegura agora que o que disse foi “simplificado em excesso” por quem agora o critica. “A agressão contra a Ucrânia é injustificável e inaceitável”, apressou-se a clarificar. O seu partido, Força Itália (centro-direita), “estará sempre com a União Europeia e a NATO”, promete.
Quinta-feira afirmara na televisão italiana que Putin fez o que fez devido a notícias de que as autoridades da Ucrânia estavam a matar cidadãos russófonos no leste do país. O italiano atribui essas notícias a separatistas ucranianos pró-russos e nacionalistas russos.
“Putin foi empurrado pela população russa, pelo seu partido e pelos seus ministros a inventar esta operação especial”, afirmou na TV. “Estava planeado as tropas entrarem, chegarem a Kiev ao fim de uma semana, substituir o Governo de Zelensky com gente decente e regressarem passada uma semana.” Se a guerra dura há sete meses, explicou, é porque “depararam com resistência inesperada, alimentada em seguida por armas de todos os tipos enviadas pelo Ocidente”.
Estas afirmações, a três dias das legislativas de domingo — após as quais é provável que o seu partido faça parte da solução de Governo —, causaram polémica. O também antigo primeiro-ministro Enrico Letta, chefe do Partido Democrata (centro-esquerda), diz que demonstram que em caso de vitória da direita nas legislativas, “a pessoa mais feliz será Putin”. Carlo Calenda, do partido centrista ação, comparou o tom de Berlusconi ao de “um general de Putin”.
Velhos amigos
Berlusconi, de 85 anos, é velho conhecido do Presidente russo, com quem chegou a ir fazer esqui na estância russa de Sochi há dez anos. Em abril passado afirmou-se “profundamente desapontado e triste” com o amigo. “Os massacres de civis em Bucha e noutras localidades são verdadeiros crimes de guerra.”
“A guerra dura há mais de 200 dias, a situação tornou-se muito difícil, sinto-me mal quando ouço falar dos mortos porque sempre acreditei que a guerra é a maior de todas as loucuras”, referiu na mesma entrevista em que justificava as ações de Putin.
Encerramento da campanha dos dirigentes da direita italiana: Matteo Salvini (Liga), Silvio Berlusconi (Força Itália), Giorgia Meloni (Irmãos de Itália) e Maurizio Lupi (Nós com a Itália)
A Força Itália faz parte de uma aliança com os Irmãos de Itália (extrema-direita, chefiados por Giorgia Meloni e favoritos nas sondagens), a Liga (do populista Matteo Salvini) e o Nós com Itália. Prevê-se que consigam maioria no Parlamento. Ciente da amizade de Berlusconi com Putin e das críticas de Salvini às sanções impostas a Moscovo, Meloni tem repetido à saciedade que Roma continuará a apoiar Kiev. “A guerra na Ucrânia é a ponta do icebergue de um conflito que visa refazer a ordem mundial, por isso temos de travar esta batalha”, defende.
As relações com a Rússia têm sido um dos temas da campanha eleitoral. A embaixada russa em Itália interveio, publicando nas suas redes sociais fotografias de Putin com políticos italianos de todas as áreas ideológicas. “Da história recente das relações entre a Itália e a Rússia. Temos muito para recordar”, lê-se numa mensagem publicada no Facebook.
A mensagem contém fotos de Putin com dirigentes italianos ao longo dos anos: Salvini, Berlusconi, Letta, Giuseppe Conte (do antissistema Movimento Cinco Estrelas) e o seu ex-colega de partido e ministro dos Negócios Estrangeiros Luigi Di Maio. O chefe de Estado russo também surge com os presidentes italianos Sergio Mattarella e Giorgio Napolitano e com o ex-primeiro-ministro Matteo Renzi (ex-PD, agora no partido centrista Itália Viva), bem como com o atual comissário da Economia da União Europeia, Paolo Gentiloni, também ele antigo chefe do Executivo italiano.
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