"No passado dia 8 de julho, o país viu partir um dos seus mais ilustres filhos, uma das suas mais insígnes figuras, um dos seus mais destacados cidadãos, um convicto patriota: o Presidente José Eduardo dos Santos...", foram as primeiras mensagens do Estado angolano, na voz de Adão Francisco de Almeida, o ministro de Estado e da Casa Civil.
Na mensagem de Estado, "sob a liderança do Presidente José Eduardo dos Santos, os angolanos mantiveram a independência Nacional, criaram as bases para que a sua solidez, e mantiveram a integridade territorial e unidade nacional", disse Adão de Almeida, acrescentando que "não só mantivemos como criamos as bases para que as atuais e futuras gerações as assegurem, para todo sempr".
"Sob a liderança do Presidente José Eduardo dos Santos", disse o chefe da Casa Civil da presidência de Angola, "o país realizou muitas das suas mais estruturantes reformas, nos domínios constitucional, político, económico e social".
O Estado angolano lembra, ainda, que foi no consulado de Eduardo dos Santos "que se operaram, por exemplo, a transição constitucional, a transição para o multidarismo, a democracia pluralista e o Estado de Direito, a transição para a economia de mercado e a transição para a consagração e reconhecimento dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos", onde se destaca, "a abolição da pena de morte".
O funeral do ex-chefe de Estado acontece num período nebuloso do país, marcado pelas quintas eleições gerais, onde a União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA) reclama a vitória eleitoral. A confirmar-se, representará uma viragem histórica num país governado há 47 anos por um único partido, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que proclamou a independência do país.
PRESENÇAS E SURPRESAS
Participam neste último tributo à Eduardo dos Santos dezenas de chefes de Estado e de governos, como o Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa, da África do Sul, Cyril Ramaphosa, de Moçambique, Filipe Nyusi, da Guiné Bissau, Umaro Sissoco Embaló, da República Democrática do Congo, Félix Tchishekedi, de Cabo Verde, José Maria Neves, do Zimbabwe, Emmerson Mnangagwa, o primeiro presidente da Namíbia, Sam Nujoma, entre outros.
A grande surpresa foi a presença do filho varão José Filomeno dos Santos, um dos cinco filhos que se opôs à entrega do cadáver de José Eduardo dos Santos à ex mulher Ana Paula Cristóvão Lemos dos Santos, trasladação que contou com o apoio do Presidente João Lourenço na disputa judicial. A presença de Zenu, como também é conhecido, parece ter sido um ato apenas símbolico. Por isso a leitura do elogio fúnebre, em nome da família, foi feito por Joseana dos Santos, a segunda filha doex-Presidente com Ana Paula.
"Honraremos o teu nome e a sua trajetória. Hoje acompanharemos-te até a sua morada provisória, até que se erga um espaço que reflita a sua pessoa", palavras de Joseana, que terminou a leitura em soluços.
LUTA POLÍTICA
Outra grande novidade é a presença de todas as forças políticas, particularmente na oposição, com destaque para o líder da UNITA, o principal partido da oposição, Adalberto Costa Júnior disse não ter sido "fácil" a decisão de estar presente: "Não foi fácil, tomamos à última hora, mas foi tomada para homenagear o ex-presidente".
Ao Expresso, o diretor do Novo Jornal, Armindo Laureano, dá nota positiva à presença de Filomeno dos Santos: "é uma presença necessária e natural para aquele que é o filho varão". Porém, Laureano assinala que "foi bastante evidente que há um distanciamento entre ele os outros irmãos presentes no funeral, resultado da crise política e familiar que a morte de Eduardo dos Santos causou".
A propósito da presença do líder da UNITA, o diretor do Novo Jornal comentou "Revela sentido de Estado". Por outro lado, "aproveitou o momento para abordar várias entidades mundiais presentes". "O funeral de José Eduardo dos Santos foi também um espaço e momento para juntar João Lourenço e Adalberto Costa Júnior em torno da Pátria, paz e harmonia social", disse o jornalista Armindo Laureano. Especialista em relações internacionais, Osvaldo Mboco disse que "a dimensão política" do ex-presidente transcende "as fronteiras de Angola".
Quanto à presença de todos os líderes partidários, Mboco adiantou que, em África, os atos fúnebres são dor e tristeza e, em muitos casos, momentos de reconciliação e perdão, bem como de solidariedade com a família enlutada".
"Os dados que nós temos atribuem-nos muito mais mandatos e estes necessariamente vão ser retirados ao MPLA. A nossa contagem não terminou, continua, e chamamos aqui a atenção que os dados que nós temos são os fornecidos pela comissão Nacional eleitoral. Estamos todos tranquilos e só podemos esperar que sejam respeitados escrupulosamente os votos depositados nas urnas", disse Adalberto Costa Júnior à margem das exéquias fúnebres, na Praça da República.
O corpo do ex-chefe de Estado e líder do MPLA repousa num jazigo construído no Mausoléu Dr. António Agostinho Neto.
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