Brasil: empresários pró-Bolsonaro que defenderam golpe de Estado no WhatsApp foram alvo de buscas, ministro da Justiça critica ação policial
Protesto numa loja de Luciano Hang, um dos acusados de discutir num grupo de WhatsApp a possibilidade de um golpe de Estado, caso Jair Bolsonaro perca as próximas eleições presidenciais
CARLA CARNIEL
A Polícia Federal brasileira fez buscas nas casas de empresários que trocaram mensagens num grupo de WhatsApp, em que se mostravam a favor de um golpe de Estado caso o ex-Presidente Lula da Silva ganhe as eleições presidenciais. O ministro da Justiça e o vice-presidente criticaram a operação
“Prefiro golpe do que a volta do PT (Partido dos Trabalhadores). Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”, escreveu um empresário identificado como José Koury num grupo de WhatsApp. Esta é uma de várias mensagens divulgadas na semana passada pelo site Metrópoles, de empresários que defenderam um golpe de Estado em caso de vitória de Lula da Silva nas eleições presidenciais do Brasil. Na terça-feira, a Polícia Federal brasileira fez buscas nas casas de oito empresários envolvidos na troca de mensagens.
As ordens de busca e apreensão de possíveis provas foram ordenadas por Alexandre de Moraes, magistrado do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). De acordo com um comunicado da Polícia Federal, os mandados de busca foram realizados por 35 agentes, nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará.
A ação policial foi criticada pelo ministro da Justiça, Anderson Torres. “Não podemos começar a achar normal a forma como as coisas vêm acontecendo no Brasil. A polícia entrando na casa das pessoas, Justiça bloqueando suas contas e quebrando seus sigilos bancários, por conta de elas estarem emitindo opiniões pessoais num grupo fechado de WhatsApp. Isso beira o totalitarismo”, afirmou em declarações à Folha de S. Paulo.
Bolsonaro entrevistado no Jornal Nacional, da TV Globo
De acordo com o mesmo jornal, o próprio Presidente Jair Bolsonaro questionou as medidas adotadas num almoço reservado em São Paulo, argumentando ser desproporcional o bloqueio de contas bancárias dos empresários envolvidos. A Folha escreve que o Presidente disse não ter sido abordado por nenhum dos intervenientes sobre a possibilidade de um golpe militar.
Numa entrevista anterior às buscas, quando questionado sobre o objetivo das suas críticas ao sistema eleitoral, Bolsonaro respondeu que quer “transparência nas eleições”. Na segunda-feira, o candidato Lula da Silva mostrou-se confiante sobre o que esperar: "Tenho certeza que os resultados das eleições serão acatados. O importante é termos uma eleição civilizada, que seja orientada pela esperança e por propostas para o Brasil ser um país melhor", publicou no Twitter.
A reação do vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, foi pública. “A ação do Ministro Alexandre de Moraes contra empresários brasileiros é lamentável. Num momento vital para o país, próximo à eleição, não posso concordar com mais essa atitude autoritária e ilegal”, publicou no Twitter.
Empresários afastam responsabilidades
As mensagens em que os empresários se mostraram a favor de um golpe de Estado foram escritas num grupo de WhatsApp intitulado "Empresários & Política". A BBC Brasil escreveu que os alvos da operação foram Luciano Hang, Afrânio Barreira Filho, José Isaac Peres, Ivan Wrobel, André Tissot, Marco Aurélio Raimundo, Meyer Nigri e José Koury.
Vários dos envolvidos já prestaram declarações sobre o sucedido, rejeitando a hipótese de implicações legais. À BBC, a assessoria de Luciano Hang disse que este está “tranquilo” e observou que “no Brasil, ainda não existe crime de pensamento e opinião”. Alfrânio Barreira Filho, também se mostrou “tranquilo” e informou que não defendeu um golpe. A defesa de Ivan Wrobel enviou uma nota a rejeitar que tenha defendido um golpe militar. “Foi convivendo e defendendo a democracia que o Sr. Ivan traçou toda sua vida, tanto familiar como profissional”, citou a BBC.
Koury, dono do Shopping Barra World, também negou a defesa de um ato inconstitucional. “Não somos conspiradores ou apoiantes de nenhum golpe. As mensagens obtidas de um grupo privado de amigos foram distorcidas em significado e contexto”, disse Koury num comunicado citado pela Lusa.
De acordo com a Lusa, o STF ordenou a apreensão das contas bancárias, das redes sociais, interrogatórios da Polícia e o levantamento do sigilo bancário dos suspeitos, que são aliados conhecidos de Bolsonaro. As sondagens mostram Lula na liderança da corrida à presidência, com mais de 40% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro apresenta cerca de 30%.
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