Internacional

Guerra na Ucrânia: 4368 horas de angústia (e sem fim à vista)

21 agosto 2022 19:52

Ana França

Ana França

Jornalista da secção Internacional

Lviv no início da guerra

tiago miranda

A artilharia continua a voar de um lado para o outro, mas nenhum dos poderes beligerantes atingiu os seus objetivos. Analistas apontam impasse como cenário provável até ao fim do ano - ninguém está a ganhar, ninguém está claramente a perder. A guerra da Ucrânia já vitimou mais de 5000 pessoas e há 12 milhões de ucranianos deslocados - dentro do próprio país ou espalhados pela Europa

21 agosto 2022 19:52

Ana França

Ana França

Jornalista da secção Internacional

Ao quarto dia de guerra, os jornalistas portugueses em reportagem em Lviv foram avisados da possibilidade de um forte ataque aéreo à cidade naquela noite. Se fosse possível, deveríamos sair da Ucrânia. Foram traçados planos de fuga no único carro disponível — e rapidamente abandonados, era um mero cinco lugares. Depois contou-se o dinheiro disponível entre todos, caso fosse preciso pagar um motorista com uma minicarrinha, de um qualquer hotel deserto de turistas, para nos levar à fronteira. E logo a conversa passou para a questão da segurança da própria fronteira, com a Polónia, a mais próxima de Lviv mas também a que mais riscos corria de sofrer um ataque da força aérea russa, uma vez que era — e ainda é — a principal porta de entrada de material militar, ajuda humanitária e combatentes na Ucrânia. Foram oito horas de relativo pânico e total incerteza. Uma parte dos ucranianos vive em incerteza; a outra, a que permanece perto das frentes de batalha, vive a concretização diária daquilo que para os jornalistas em Lviv naquela noite não passou de um aviso. Na próxima quarta-feira, a guerra na Ucrânia faz seis meses. Total de horas de pânico e incerteza: 4368. Perspetivas de resolução nos próximos meses: reduzidas.

Segundo a ONU, há cerca de 12 milhões de pessoas deslocadas, dentro e fora da Ucrânia. Mais de 5000 civis morreram e mais de 7000 estão feridos, apesar de estes serem números que a maioria das organizações humanitárias no terreno considera muito conservador. A invasão russa da Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022 já deixou 2,2 milhões de crianças sem casa e 3,8 milhões também sem escola para onde voltar em setembro. “A situação atual não interessa a ninguém, mas tanto a Rússia quanto a Ucrânia consideram que a situação vai virar a seu favor nos próximos seis meses e por isso é pouco provável que haja qualquer aproximação à resolução do conflito”, começa por dizer ao Expresso, numa entrevista por telefone, Christopher Miller, professor de História Internacional na Universidade de Tufts, no estado norte-americano de Massachusetts, autor de três livros sobre a Rússia. “Só uma grande conquista de território por parte da Ucrânia ou da Rússia ou uma mudança de consenso político em Kiev ou em Moscovo poderiam provocar uma mudança nesta guerra.” Até agora não há xeque-mate e por isso “estamos e estaremos numa guerra de atrito, em que cada um dos lados investe numa espécie de maceração do exército inimigo”.