Exclusivo

Internacional

Monkeypox: o que quer dizer e para que serve a "declaração de emergência de saúde pública internacional"

Monkeypox: o que quer dizer e para que serve a "declaração de emergência de saúde pública internacional"
DADO RUVIC/REUTERS

O surto de Monkeypox foi declarado uma emergência de saúde pública internacional por se tratar de um evento "grave, repentino, incomum e inesperado". A designação atribuída pela Organização Mundial da Saúde permite assegurar a cooperação entre os países e garantir que a comunidade científica está "mais atenta e interessada" em encontrar respostas para um vírus que continua a suscitar muitas questões

Monkeypox: o que quer dizer e para que serve a "declaração de emergência de saúde pública internacional"

Helena Bento

Jornalista

Com mais de 16.500 casos detetados em 75 países de todo o mundo, o surto de Monkeypox foi agora declarado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma emergência de saúde pública internacional.

Tedros Adhanom Ghebreyesus, presidente da organização mundial, justificou a decisão com o facto de estarmos perante um surto "que se está a espalhar rapidamente à volta do mundo", sobre o qual sabemos "muito pouco" e que "cumpre os critérios dos regulamentos internacionais de saúde".

De acordo com esses regulamentos - que têm como designação oficial Regulamentos de Saúde Internacionais e foram revistos pela última vez em 2015 - as emergências de saúde pública de preocupação internacional (PHEIC, na sigla em inglês) definem-se como um "evento extraordinário" que se considera representar um risco de saúde pública para outros Estados, através da disseminação internacional da doença, e que "pode exigir uma ação internacional imediata", refere a OMS no seu site.

A atribuição desta classificação implica que estes eventos, além de "extraordinários", sejam considerados "graves, repentinos, incomuns ou inesperados".

Declaração permite facilitar a cooperação entre os cientistas

Declarar determinados eventos como uma emergência de saúde pública de preocupação internacional permite mobilizar esforços a nível internacional - assegurando assim a cooperação entre os diversos países - e facilitar o financiamento de iniciativas e medidas que visem dar resposta a essas emergências. Também permite que o diagnóstico da doença seja feito de forma atempada e que seja acelerado o desenvolvimento de vacinas e outros tratamentos.

"Esta classificação pode levar os países que integram a OMS a investir recursos significativos para controlar o surto, garantindo assim mais financiamento para a resposta à doença", explica o "New York Times". Pode ainda servir como incentivo à partilha de vacinas e outros tratamentos por parte destes países, bem como à partilha de informação. No fundo, trata-se de "exercer pressão sobre os governos para que tomem ações", resume o "Washington Post".

Segundo Tiago Correia, professor de Saúde Pública Internacional, a atribuição desta designação é uma forma de garantir que a comunidade científica está "mais atenta e interessada" no vírus da Monkeypox, e que "haja colaboração internacional" entre os cientistas para "encontrar respostas".

Urge perceber, entre outros aspectos, "por que razão estamos a ter mais surtos do que alguma vez tivemos em relação a este surto", apontou o especialista, em declarações, este sábado, à SIC Notícias. "O que está em causa na varíola dos macacos não é ter-se percebido que é mais grave do que se julgava, mas sim que a doença continua a progredir a um ritmo inesperado".

Declaração de emergência pública não é consensual. Há risco de "estigmatização de certos grupos"

A OMS avançou com a declaração de emergência de saúde pública mesmo sem um consenso por parte dos especialistas que integram o comité responsável por avaliar esta questão. Nove membros deste comité votaram contra a designação e outros seis votaram a favor. Ainda assim, Tedros Adhanom Ghebreyesus, optou ainda assim pela declaração do mais elevado nível de alerta.

Segundo Tiago Correia, os especialistas que se opuseram a esta medida consideram que o impacto deste vírus na generalidade das populações "é ligeiro é moderado" e que as vacinas que estão disponíveis conferem um elevado grau de proteção contra a doença". Por outro lado, acreditam que há o risco de "certos grupos serem estigmatizados e marginalizados". Pesando as duas possibilidades, concluíram que não seria necessário avançar para a declaração de emergência pública.

Questionado sobre se devemos estar mais preocupados agora que o nível de risco é superior, Tiago Correia sublinhou que devemos estar "mais alertas, agora que os alarmes soaram". "A comunidade científica tem de encontrar respostas sobre este vírus, uma vez que está a propagar-se com grande rapidez." Os países onde foram detetados casos de infeção "devem ativar planos de vacinação para grupos mais vulneráveis" e a população "não deve desvalorizar os sintomas iniciais, como a febre e dores musculares", e as borbulhas que aparecem nas pessoas infetadas e que são "a fonte de contágio".

A última vez que foi atribuída a classificação de emergência de saúde pública foi a 30 de janeiro de 2020, quando a OMS atribuiu essa designação ao vírus
da covid-19. Mas houve outras eventos que levaram à adoção da mesma medida, nomeadamente o surto de ébola, o vírus do zika e a gripe de H1N1.

588 casos identificados em Portugal

Foram detetados, até ao momento, cerca de 16.500 casos em 75 países. A Espanha é o país com mais casos, de acordo com o Centro de Prevenção e Controlo de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês). Os EUA aparecem em segundo, com cerca de 2.900 casos identificados, seguindo-se a Alemanha e o Reino Unido, cada um com mais de 2.200 infeções.

De acordo com os últimos dados da Direção-Geral da Saúde (DGS), foram contabilizados em Portugal, até ao momento, 588 casos de infeção pelo vírus Monkeypox.

Este sábado, a DGS afirmou que Portugal já adotou as medidas fundamentais para resposta ao vírus da Monkeypox. "Não implica muito mais do que aquilo que está a ser feito. Todas as medidas têm sido tomadas, mesmo sem essa declaração” de emergência de saúde pública de preocupação internacional, disse a porta-voz da DGS para o surto em Portugal, Margarida Tavares, em declarações à Lusa.

A DGS tem partilhado informação sobre o vírus e emitido recomendações. Segundo a entidade, uma pessoa que esteja doente só deixa de poder transmitir o vírus depois de estar totalmente curada. A queda de crostas das lesões dermatológicas poderá ultrapassar as quatro semanas.

Os sintomas mais comuns da doença são febre, dor de cabeça intensa, dores musculares, dor nas costas, cansaço, aumento dos gânglios linfáticos com o aparecimento progressivo de erupções que atingem a pele e as mucosas.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hrbento@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate