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Baltasar Garzón ao Expresso: “Montou-se uma estrutura para perseguir a Wikileaks e o seu fundador. Pode haver comportamento mais fascista?”

“Los disfraces del fascismo”, ainda sem edição portuguesa, saiu em maio e Garzón apresentou-o na Feira do Livro de Madrid
“Los disfraces del fascismo”, ainda sem edição portuguesa, saiu em maio e Garzón apresentou-o na Feira do Livro de Madrid
Isabel Infantes/Europa Press/Getty Images

Advogado de Julian Assange, que enfrenta um processo de extradição para os Estados Unidos, o magistrado espanhol — que se tornou famoso ao investigar os crimes do franquismo e deter o ditador chileno Augusto Pinochet — considera estar em causa um ataque ao Estado de Direito. Nesta parte da entrevista fala ainda de acusações de que foi alvo em Espanha. Na edição semanal do Expresso de 22 de julho de 2022 pode ler a outra parte da conversa, em que Garzón se refere à ascensão da extrema-direita e à importância de preservar a memória histórica

Catarina Brites Soares

Pinochet, crimes do franquismo, ETA, caso Gürtel (rede de corrupção no Partido Popular espanhol) são exemplos de investigações que fizeram de Baltasar Garzón uma personalidade histórica e polémica. Diz-se voz da Justiça, mas muitos acusam-no de fazer o que denuncia no seu último livro: instrumentalizá-la a favor de interesses. Um desses exemplos foi a operação, semanas antes dos Jogos Olímpicos de 1992 em Barcelona, que resultou na detenção de cerca de 50 pessoas vinculadas ao independentismo. Estes acusaram a Guarda Civil de torturas. As denúncias foram arquivadas pelo Estado espanhol, condenado em 2004 pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos por não as investigar.

“Não haja dúvida de que sofri as consequências”, afirma o polémico Garzón, que se defende das acusações nesta entrevista ao Expresso. O juiz, agora advogado, garante que pagou caro por ter sido sempre coerente com a Justiça: a independência custou-lhe 11 anos fora dos tribunais. Hoje defende Julian Assange, um dos detidos mais famosos do mundo. O magistrado afirma ao Expresso que o caso Wikileaks ilustra a forma como se usa o Estado de Direito para o destruir.

É uma das teorias que desenvolve em “Los disfraces del fascismo”, o livro que acaba de publicar. A longa conversa incluiu também a sua visão sobre a memória histórica e o que é preciso fazer em Espanha para uma reparação às vítimas da ditadura de 1939-1975 e ainda sobre a ação judicial contra ditadores, como a que o próprio Garzón conduziu contra o chileno Augusto Pinochet. Leia essa parte da entrevista na edição semanal do Expresso de 22 de julho de 2022.

Coordena a defesa de Julian Assange. Como interpreta a decisão do Governo britânico que confirmou a extradição do fundador do WikiLeaks para os Estados Unidos, onde é procurado pela divulgação de documentos confidenciais?

O ataque à liberdade de imprensa e de informação é outro dos disfarces do fascismo. O que a Wikileaks e Julian Assange fizeram foi desnudar e enfrentar o poder. É perseguido com a colaboração da justiça britânica e, sobretudo, do Governo liderado por Boris Johnson, que, nos intervalos das festas, tem de cumprir o pedido dos Estados Unidos. Através da lei de espionagem, Washington faz uma interpretação expansiva da jurisdição extraterritorial, perseguindo um ato cometido por um estrangeiro, em território estrangeiro e sem acesso a nenhum mecanismo de segurança interior. Contudo, montou-se toda uma estrutura para perseguir a Wikileaks e o seu fundador. Pode haver comportamento mais fascista?

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