Internacional

Parlamento Europeu condena crescentes ataques a ativistas no Brasil e “retórica agressiva” de Bolsonaro

Funeral de Bruno Araújo Pereira, especialista em cultura indígena assassinado no início do mês de junho
Funeral de Bruno Araújo Pereira, especialista em cultura indígena assassinado no início do mês de junho
Carlos Ezequiel Vannoni/EPA

O Parlamento Europeu exorta as autoridades brasileiras a levarem a cabo “uma investigação completa, imparcial e independente sobre estes homicídios”

O Parlamento Europeu adotou hoje uma resolução sobre a situação dos defensores dos povos indígenas e do ambiente no Brasil, na qual condena o aumento de ataques contra ativistas e deplora a “retórica agressiva” do Presidente Jair Bolsonaro.

Num texto adotado hoje no hemiciclo de Estrasburgo, França, com 362 votos a favor, 16 contra e 200 abstenções, os eurodeputados condenam “o brutal assassínio de defensores dos direitos humanos e povos indígenas no Brasil, incluindo os recentes assassínios do jornalista britânico Dom Phillips e do ativista brasileiro Bruno Pereira”.

O Parlamento Europeu exorta as autoridades brasileiras a levarem a cabo “uma investigação completa, imparcial e independente sobre estes homicídios”.

A resolução hoje adotada pela assembleia também denuncia o aumento da violência, ataques e assédio contra os defensores dos direitos humanos e do ambiente, povos indígenas, minorias e jornalistas no país.

O texto deplora “a retórica agressiva em curso, os ataques verbais e as declarações intimidatórias do Presidente brasileiro Jair Bolsonaro”.

Por fim, os eurodeputados repudiam também “a violência sexual e de género contra mulheres, raparigas e defensores do ambiente e indígenas”, sublinhando que se trata de “uma grave violação dos seus direitos humanos e da sua dignidade”.

Na quarta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) exigiu explicações ao Presidente brasileiro sobre a proteção dada aos índios isolados e recentemente contactados, pois podem estar em "risco de genocídio", revelaram fontes indígenas.

A decisão foi tomada pelo juiz Edson Fachin, em resposta a um recurso interposto pela associação Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), que pediu ao Governo que adote as medidas necessárias para garantir a vida dessas comunidades, que maioritariamente vivem no interior profundo da selva amazónica.

“No documento de mais de 120 páginas, apontamos o risco de genocídio que essas comunidades correm”, adiantou a APIB, que denuncia a falta de apoio do Estado às entidades encarregadas de proteger as comunidades indígenas isoladas nas redes sociais, acusando mesmo o atual Governo de estar a desmantelá-las.

A APIB lembrou também a morte do ativista indígena Bruno Pereira, assassinado em junho juntamente com o jornalista britânico Dom Phillips, quando estavam perto da fronteira com o Peru e a Colômbia, numa região inóspita da Amazónia brasileira.

Os dois homens tinham viajado até à reserva do Vale do Javari para recolher informações para um livro que o jornalista britânico estava a escrever sobre ameaças contra os indígenas.

Doenças, violência física, pilhagem de recursos naturais e outras agressões dizimaram populações inteiras no passado.

Segundo estimativas oficiais, há 114 povos indígenas isolados no Brasil.

Desde que assumiu o cargo de chefe de Estado no Brasil, Bolsonaro tem defendido a exploração económica da Amazónia, tendo anulado ou relaxado medidas de controlo e fiscalização de atividades ilegais, como a extração de madeira e a exploração mineira, o que aumentou os índices de violência na maior floresta tropical do planeta.

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