Enquanto respondia, esta quarta-feira, às perguntas de um comité parlamentar sobre a conduta dos políticos, o primeiro-ministro do Reino Unido foi informado de que um grupo de membros do seu Governo está à porta da residência oficial de Downing Street para o convencer a renunciar ao cargo. “Isso diz o senhor”, respondeu Boris Johnson ao deputado que lho disse.
Durante a sessão, vários deputados criticaram a gestão do caso de Chris Pincher, o deputado que era vice-presidente do grupo parlamentar até à semana passada. Demitiu-se após uma noite de bebedeira em que apalpou dois homens e era alvo de acusações repetidas, algumas das quais tinham sido comunicadas a Johnson antes de este o ter escolhido para o cargo na direção da bancada parlamentar.
O primeiro-ministro demorou a suspender Pincher do partido e negou que soubesse o que quer que fosse sobre as suas impropriedades sexuais, mas foi desmentido por funcionários do seu próprio Governo. Passou a dizer que não houvera acusações específicas e, em seguida, admitiu que sim mas que se esquecera. E pediu desculpas públicas pela nomeação.
Insistindo na necessidade de um Governo estável e em que não é preciso mudar de líder nem convocar eleições antecipadas, Johnson tampouco quis comentar uma questão aritmética. É que se em 5 de junho houve 148 deputados do Partido Conservador a votar contra si na moção de censura que então lhe foi apresentada, nos últimos dois dias 32 deputados demitiram-se de funções governativas ou de assessoria ao Executivo.
Isso significa que já há 180 contra a sua permanência, ou seja, a maioria da bancada parlamentar. O partido tem 359 assentos na Câmara dos Comuns.
Nada de dissolução
A BBC informou que “um grupo de membros do Governo está prestes a dizer ao primeiro-ministro para se demitir, no n.º 10 [de Downing Street], incluindo o líder da bancada parlamentar”, Chris Heaton-Harris.
A Sky avança que um deles é Nadhim Zahawi, o ministro das Finanças que Johnson escolheu ontem, após a demissão de Rishi Sunak. Outros integrantes do grupo são o ministro dos Transportes, Grant Shapps, o do País de Gales, Simon Hart, e o da Irlanda do Norte, Brandon Lewis.
Johnson rejeitou várias vezes a ideia de se demitir, depois de um deputado conservador do comité que o inquiriu o ter aconselhado a pensar se não será o maior obstáculo ao funcionamento do Governo. Bernard Jenkins, o parlamentar em causa, exigiu garantias de que o primeiro-ministro não tentará dissolver o Parlamento caso a bancada conservadora lhe retire a confiança. Após muita insistência, afirmou: “Claro que excluo isso”.
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